sábado, 1 de novembro de 2014

SEPARATISMO???


Muito preocupante esse clima de animosidades e essa ideia besta de separatismo, que anda rolando nas redes sociais e nas conversas pessoais, desde a reeleição da presidente Dilma. De início nem dei muita trela, mas comecei a ouvir argumentos acalorados a esse respeito, de gente que sempre foi ponderada, com visão crítica e bem informada da realidade brasileira. E quando os escuto falar, tenho a sensação de que se deixaram tomar por uma passionalidade irada e perigosa.
Tal como essas pessoas, fiquei arrasada com o resultado do dia 26. Uma tristeza profunda tomou conta de mim. Chorei e deixei que minha alma se vestisse de luto. A vitória do PT me pareceu um pesadelo, e cerrou ainda mais o horizonte de nuvens negras que eu enxergo à minha frente quando penso no futuro do Brasil. Como pudemos compactuar com tanta corrupção? Como pudemos dizer sim a essa quadrilha que se apropriou do Estado brasileiro de maneira tão despudorada, descarada, escrachada..... Como pudemos dar a vitória a uma campanha tão feia e baixa, que fez da mentira e da distorção cínica da realidade sua principal arma? Como pudemos avalizar esse clientelismo de estado, que transformou as velhas práticas coronelistas num programa oficial, que consome bilhões de reais do orçamento da União? E não me refiro ao Bolsa Família em sua concepção, mas ao uso eleitoreiro que o PT vem dando a ele, eleição após eleição.
E quando eu pensei que nada podia ser pior do que a reeleição de Dilma e do PT, vejo surgir com força esse discurso pueril e tosco sobre separatismo. Vejo pessoas inteligentes, íntegras e sensatas comprando o argumento vendido pela campanha do próprio PT de uma nação dividida entre “nós/elite/ricos/Sudeste” e “eles/povo/pobres/Nordeste”.
Eu poderia evocar razões objetivas para esvaziar esse argumento, como a votação de Dilma no Rio de Janeiro e em Minas Gerais, terra do próprio candidato que desejávamos ter como presidente a partir de primeiro de janeiro. Essa seria uma boa razão para que eu não me sentisse nem um pouquinho envergonhada de ser pernambucana e nordestina -- se eu precisasse de uma razão, o que não é o caso.
O fato é que há argumentos bem mais importantes nesse debate. O separatismo é uma escolha contrária a tudo que vivemos e construímos até aqui como nação. Pior, é um discurso que ecoa grande falta de solidariedade, cegueira em relação ao passado, e uma visão autocomplacente das responsabilidades individuais com relação ao destino coletivo. Isso me deixa ainda mais triste que a vitória de Dilma e do PT.
Defender o separatismo como resposta à vitória do PT nas urnas significa comprar um argumento que não é apenas pueril, mas muito perigoso. A história mostra que processos separatistas, envolvendo estados nacionais, quase sempre estiveram atrelados à construção simbólica de diferenças que estigmatizam e, com frequência, desumanizam o “outro”. No caso específico em questão, essa operação simbólica de distinção já começou: “nós”, paulistas e sulistas, educados, conscientes, trabalhadores e honestos precisamos nos livrar “deles”, esse bando de nordestinos, nortistas, esfomeados, analfabetos e vagabundos, que “nós” nos cansamos de sustentar.
Sinceramente, espero que a indignação e a ira com a vitória da corrupção e do clientelismo de estado, no último dia 26, dêem rapidamente lugar ao bom-senso e à disposição para a luta. Espero que o PT não consiga vencer também no campo simbólico; e que a competência de um gênio do marketing não chegue ao ponto de nos legar um país efetivamente cindido entre “nós” e “eles”.

Espero também que todos os brasileiros de bem, que acreditam em valores como ética, trabalho, generosidade e solidariedade, e que hoje se sentem enojados e indignados com a vida política desse país, enxerguem que o separatismo é via da derrota e da desistência. É o famoso caminho fácil, a porta larga, que nunca conduz a bom termo. Certamente, é muito mais difícil fazer o embate político e cidadão no campo de batalha que está posto. Mas não se conquista nada de importante e precioso na vida sem muita luta, sem muita coragem. Sinto que os próximos anos serão para o Brasil, a nossa hora da verdade. Agora é que vamos ver se os filhos dessa pátria não fogem mesmo à luta.

sexta-feira, 31 de outubro de 2014

O VOTO

Sou mesmo uma péssima internauta. Dificuldade enorme de me adaptar à lógica do universo virtual. Depois de 2 anos ausente desse blog, decido voltar a frequentá-lo e aqui deixar uns pensamentos. Começo a me preparar para uma empreitada longa, e acho que essa página será um ponto de conexão com a terra firme. E pra retomar o fio da meada, não tenho como fugir do tema político, que vem ocupando meu espírito e minhas ideias.
Começo pelo dia 26 de outubro. Texto postado no Face.

"Votar 45 não é exatamente o voto em Aécio Neves. Votar 45 é o voto da resistência, o voto da esperança e da confiança no Brasil. É acreditar que podemos ser mais e melhores. Votar 45 é dizer NÃO a esse mar de lama e de corrupção. É dizer: Não, não vou me conformar! Não vou aceitar que a corrupção é um mal que não se pode combater, que é assim e acabou-se. 
O meu voto é um recado pra todos os políticos: petistas E tucanos, de que eu me sinto indignada com tudo que está acontecendo com as instituições brasileiras. Aécio Neves e o tucanato não são idiotas, nem ingênuos, e sabem: Aécio não será eleito porque o Brasil se encantou com ele, e, sim, porque o Brasil se desencantou com o PT, porque se cansou de ser a “pátria, mãe, tão distraída”, subtraída tão despudoradamente, vilipendiada e humilhada, como nunca se teve notícia antes, na história desse país.
E não me venham dizer que todo mundo rouba, só que antes não vinha à tona. Não pode haver argumento mais cretino, e que me deixe mais irritada. Não acredito que seja verdade, mas se for, mais um motivo pra dizermos: basta! Já passou da hora de pormos fim a essa palhaçada em que se transformou a política nesse país. Chega!
Votar 45, pra mim, é a única maneira de dizer: Eu não desisti do Brasil.
E se alguém ainda está em casa, pensando ou decidido a não votar, achando que cruzar os braços e deixar que outros decidam o destino desse país, é a maneira de dizer “não” ao que está posto, reflita bem. O mal só prospera quando os bons deixam que isso aconteça, seja por ilusão, conformismo, omissão, ou qualquer outro motor.
A hora é agora, de nos posicionarmos pelo Brasil que desejamos e merecemos ter."