quarta-feira, 30 de maio de 2012

Comum de dois gêneros


Fico toda abespinhada cada vez que escuto a palavra “presidenta”. É um modismo deveras irritante esse de flexionar o gênero do substantivo “presidente”. Eis um dos efeitos exagerados – e quase insuportáveis -- do feminismo e da era do politicamente correto. Estou quase virando uma pessoa reacionária, por pura reação (o trocadilho é horroroso, porém, exato) a tal tipo de excesso.
Sou profundamente devedora de meus pais, e uma de minhas maiores dívidas para com meu genitor (o do gênero masculino) é a de haver ele incutido no meu espírito o princípio grego “a virtude está no meio”. Deveria ensinar-se isso às crianças antes mesmo que aprendessem a ler e escrever. É justamente tal tipo de sabedoria que falta aos tempos atuais.
Sei muito bem que as línguas são vivas, dinâmicas, mutáveis etc. e tal. Longe de mim defender imobilismos de qualquer espécie. Meu romantismo e nostalgia não chegam a tanto. Quanto à língua “culta e bela”, devo dizer que adoro Manoel Bandeira e da sua imensa obra, versos como “Vinha da boca errada do povo/Língua certa do povo” estão dentre meus favoritos. Ademais, acho extraordinária a argumentação de Gilberto Freyre sobre como a permeabilidade e a plasticidade de nosso processo cultural favoreceram o “amolengamento” do duro português lusitano, deliciosa e voluptuosamente contaminado pelas etnias dominadas, negras e autóctones. Aposto que a nossa MPB não teria nem sombra de seu brilhantismo e insuperabilidade sem tais transformações. Alegra-me pensar que nosso idioma vai sendo constantemente enriquecido pelos múltiplos falares de um Brasil tão diverso.
Por que me irrita, então, de modo intenso, a incorporação cada vez mais frequente do vocábulo “presidenta”, nos discursos oficiais e nos meios de comunicação? Incomoda-me porque não se trata da “língua certa do povo”, e, sim, de língua “politicamente correta”, forjada por acadêmicos e militantes intelectualizados. É iguaria enfiada goela abaixo pelas mentes brilhantes e iluminadas daqueles que têm a missão de nos tirar de nossa ignorância e alienação – e que hoje ocupam o poder. “Presidenta” não é fruto da democracia linguística, não vem do povo, não corresponde a nenhum “falar”, que não seja mero sociologuês ou politiquês.
Talvez poucas pessoas se lembrem, mas eu me recordo perfeitamente de ter estudado uma classe gramatical chamada “substantivo comum de dois gêneros”. Antes de ontem, ouvindo um noticiário da TV Brasil soou o famigerado “presidenta”. Arrepiei-me toda e comecei a praguejar contra o modismo acadêmico-militante-ideológico que vai nos impondo modos artificiais de expressão. Minha irmã informou-me, então, que “presidenta” já está incorporada às gramáticas escolares. Quase tive uma síncope. Então não existe mais a categoria “substantivo comum de dois gêneros”?!!! Bradei. Aboliram tal classe gramatical? Minha irmã achou que eu estava inventando o termo. Fomos ao novo pai dos burros, Sr. Google, e lá estava o que aprendi 30 anos atrás, na antiga escola primária: “o comum de dois gêneros é a classificação que recebem os substantivos cujas formas masculina e feminina são idênticas mas são diferenciáveis pela presença de um modificante, tal como um artigo ou adjetivo”. Exemplos: gerente, atendente, estudante, residente, motorista, colega, jurista, dentista, PRESIDENTE. Em qualquer desses casos, um simples “o” e “a” servem para definir o gênero da palavra. Minha memória não me traiu. Para quem não se lembrava das aulas de gramática, fica a informação. E atente-se: palavras como criança, indivíduo e testemunha pertencem a uma outra categoria, a dos substantivos sobrecomuns, os que não sendo modificados por qualificadores, têm uma forma única, indiferentes ao gênero do sujeito/objeto designado, e ponto final.
Pergunto-me que seria de nossa língua, se aplicássemos o princípio político da igualdade de gêneros ao nosso idioma. Porque se a palavra de ordem é usar “presidenta”, então usemos também “estudanta”, “gerenta”, “atendenta”, “residenta”. E por que não incluir nesse movimento os substantivos sobrecomuns? Se o princípio é o de que a língua reproduz a dominação e o ethos machista, utilizemos então a fórmula “indivídua”! E apliquemos o mesmo princípio da igualdade aos adjetivos uniformes (“apresentam uma única forma para os dois gêneros”)! Veja-se que primor sonoro: A estudanta é uma indivídua muito inteligenta. Quando se formar, será uma gerenta muito competenta. Não dá muito mais dignidade a nós, mulheres?! Abaixo o machismo da língua portuguesa! Viva a igualdade! Agora, para não sermos sexistas de modo algum (a coerência e o senso de justiça assim o exigem), temos de garantir aos homens o direito a um tratamento equânime: que sejam designados por “dentisto”, “juristo”, “motoristo”, “colego”. E para evitar que um menino cresça traumatizado e sinta-se inferiorizado ante o gênero feminino, que seja sempre interpelado como um “crianço”. Iniciemos imediatamente uma campanha em prol da igualdade absoluta no idioma de Camões. Afinal, por que só a presidenta Dilma merece um tratamento equitativo? De modo algum! Organizemos um movimento para acabar com os substantivos comuns de dois gêneros, sobrecomuns e adjetivos uniformes! Só assim poderemos ser um dia, um país livre da discriminação e da desigualdade de gênero.

segunda-feira, 28 de maio de 2012

Diário de viagem: Manaus, parte 8


Manaus, 02 de fevereiro

Passei o dia inteiro praticamente no hotel. Comendo chocolates. E com dor-de-cabeça. Certamente em virtude das últimas noites mal dormidas. A entrevista da tarde foi cancelada. Não achei ruim. Precisava colocar umas tarefas em dia. E relaxar um pouco, agora que finalmente me livrei do infame relatório.
Estou enamorada dos meus quadros! Coloquei-os sobre minha mesa de trabalho, apoiados na parede e não me canso de contemplá-los quando tiro a vista da tela fria do computador.
Também continuo a deliciar-me com Thiago de Mello. Mais e mais. Já os outros poetas que tenho lido não são tão bons, à exceção de um ou outro poema. Hoje devo concluir a leitura de Milton Hatoum (Órfãos do Eldorado). O que mais me agrada no livro de Hatoum é o imaginário dos encantados, pano de fundo de toda a história. Acho fascinantes essas crenças em seres que se transmutam de homens em bichos -- que habitam o fundo dos rios, os ocos das florestas -- e logo voltam a ser homens. E o mais lindo é que muita gente aqui acredita de fato nisto, tanto como eu acredito  que os ventos resultam do movimento do ar.
Seu Sabá também é cultura. Me contou que Manaus, antigamente, se chamava Manaós. É o nome da etnia indígena que habitava as margens do rio Negro, antes que os homens “civilizados” chegassem e tomassem de conta do lugar.
Da minha janela assisto a um pôr-do-sol magnífico. Pela primeira vez, desde que cheguei, o céu se mostra inteiramente desnudo. Nenhuma nuvem negra no horizonte. A cúpula do Amazonas está ainda mais majestosa contra o céu límpido. A luz alaranjada do sol incide indiretamente sobre o Teatro e o Palácio de Justiça, conferindo-lhes certo ar melancólico. À direita, por sobre o prédio cinzento da Santa Casa de Misericórdia, uns três fiapos de nuvens, finíssimas, leves e muito compridas. Estão simplesmente lindas. Vestidas de tons fortíssimos de laranja. O contraste com o azul do céu é de um efeito plástico incrível.
Leio Thiago de Mello e me detenho num poema (“Desisto”) que me parece melancólico como esse momento, em que o dia está morrendo.

Primeira noite de céu estrelado em Manaus. Jantamos nO Chefão. No patiozinho interno. Bem simpático. Estilo italiano. Senti falta foi de Alexandre, o jovem atendente do Manaúma, onde temos ido tomar sopa várias vezes. É de uma atenção conosco, que só vendo. Fofíssimo.

domingo, 27 de maio de 2012

Surpresas no Ar


Meu primeiro e mais importante critério para avaliar a qualidade de uma companhia aérea é a aterrissagem. Considero boas aterrissagens aquelas em que o avião faz o procedimento de descida suavemente, poupando os passageiros de níveis desconfortáveis de pressão nos tímpanos, e que prescindem de desaceleradas bruscas ainda no ar, assim como de freadas violentas depois de tocar o solo. Esse momento de tocar o solo, então, é crucial. Deve dar-se de modo sutil, sem sustos e com tal delicadeza que se o passageiro estiver distraído, nem perceba já estar em terra firme. Portanto, minha preferência por uma companhia aérea é diretamente proporcional à relação entre o número de boas aterrissagens sobre o total de vôos efetuados com a dita cuja. É bem verdade que preço e trajeto são critérios de uma objetividade frequentemente incontornável.
Recentemente, tive de fazer uma sequência de viagens a trabalho. Meu contratante me pôs em alguns vôos da Trip. Os restantes eram Gol. Confesso: ao ver o roteiro, torci meu nariz por causa da Trip. Nunca havia viajado nessa companhia, porém, experiências desagradáveis de aterrissagem com companhias “menores”, me deixaram cabreira. Aqui devo acrescentar que, no meu raciocínio, más aterrissagens são indício de pouca perícia dos pilotos, daí porque constituem meu critério fundamental de qualidade. Afinal, nada deveria ser mais importante que minha segurança. Muito bem. Eis que viajar com a Trip revelou-se gratíssima surpresa! As quatro aterrissagens foram absolutamente impecáveis. Além disso, pasmei com o serviço de bordo: ainda servem lanches de verdade! Nada de barrinhas de cereal, de amendoim ou de infames pacotinhos com duas rosquinhas de leite, chocolate ou coco. Para completar, os comissários de bordo são simpaticíssimos, muito solícitos. E o uniforme é adorável -- para alguém de sensibilidade nostálgica como eu. As aeromoças parecem saídas de uma fotografia dos anos 50 ou 60. Com direito a chapeuzinho de dobradura e tudo. Uma graça.
Em contrapartida, tive surpresas desagradáveis nos trechos voados com a Gol. As aterrissagens foram mais ou menos. Nada preocupante, mas tampouco foram um primor. Mais desagradável ainda foi descobrir que não existe mais serviço de bordo disponível em alguns vôos da companhia (justamente os mais longos, segundo notícia lida há pouco no jornal), a menos que o passageiro esteja disposto a desembolsar 12 reais por um sanduíche, ou 5 reais por qualquer bebida, seja café, refrigerante ou chocolate. Confesso não ter verificado o preço da água. Ainda assim, advirto os incautos haver poucas opções de refrigerante, e nenhuma de suco. Pelo menos no meu vôo foi assim. Tenho testemunhas. Talvez esse seja mesmo o futuro da aviação brasileira. Nos Estados Unidos, há tempos os vôos nacionais cobram pelo cafezinho ou refrigerante. Só acho que, sendo novidade no Brasil, o passageiro deveria ser previamente informado de que no vôo X não será tratado sequer a pão e água. Assim, os previdentes podem municiar-se de suas próprias garrafinhas d’água, de maçãs ou de barrinhas de cereais. Aliás, aviso aos passageiros da Webjet que em todos os vôos da companhia o serviço de bordo é pago, na lata e em dinheiro vivo, muito embora a comissária anuncie em voz melodiosa que a companhia tem o prazer de “oferecer” sanduíches, noodles e etc (os preços são ligeiramente mais módicos frente aos da Gol; pode-se economizar um real no refrigerante, por exemplo).
Milagrosamente, a Anac baixou há pouco medida muito favorável ao consumidor, determinando que as companhias aéreas informem a taxa de atrasos de seus vôos, de modo que no momento da compra do bilhete o passageiro possa levar esse critério em consideração. Excelente. Melhor ainda seria obrigar as companhias a informarem o tipo de serviço de bordo que será disponibilizado em cada vôo: lanche frio, barrinha de cereais, bebida – incluídos no valor da passagem, pois não se trata de nada gratuito --, ou apenas comes e bebes pagos à parte. Eis algo que o passageiro merece saber com antecedência e, quiçá, usar como mais um critério na ora de optar por tal ou qual vôo.
Além da sugestão acima, deixo registrada uma reflexão um tanto gasta, e nem por isso menos útil: pré-julgamentos são péssimos companheiros de boas experiências. Afinal, voar Trip acabou sendo uma doce surpresa.

sexta-feira, 18 de maio de 2012

Confissões de uma viúva do PT (parte 3/3)


Lula fez muita coisa boa pelo Brasil, diz a vox populi. E é mesmo inegável a atenção dada pelo ex-presidente aos mais desfavorecidos. Mais inegável ainda é sua capacidade de se comunicar com esse povão, e de passar incólume pelo mar de lama que soterrou seu governo e se espalha, ainda, pelo de sua sucessora. Reconheço vários pontos positivos no Governo Lula, e destaco o aumento do salário mínimo, o tratamento dado ao ensino universitário público, a coragem de montar políticas decentes de segurança e de cultura. No entanto, quando olho para a balança, não consigo deixar de enxergar um saldo negativo considerável. Os males causados à República são pesados, pesadíssimos. Sinto, no meu coração, que jamais serei capaz de perdoar Lula e o PT por terem reduzido a cinzas a minha e a nossa esperança de um Brasil institucionalmente sólido, saudavelmente democrático, plenamente republicano. Hoje, quando olho para o horizonte do Brasil, não consigo enxergar uma luz no fim do túnel. E mais, no prato das realizações positivas, sou obrigada a reconhecer o peso considerável da herança de Fernando Henrique. Quando faço pesquisas e ouço as pessoas falando sobre o que mais melhorou nas suas vidas, assim como sobre seus novos sonhos e aspirações, não posso deixar de identificar a estabilidade econômica e o desenvolvimento em grande medida propiciado pela modernização do Estado (incluindo as privatizações) como motores fundamentais das mudanças hoje vivenciadas e tão valorizadas pela população. As pessoas nem sabem mais disso -- porque o PT teve a competência de roubar para si o legado simbólico da estabilidade --, mas devem muito ao ex-presidente Fernando Henrique o atual ciclo de prosperidade. Eu, que tanto imprequei contra ele, devo-lhe desculpas sinceras (aqui tornadas públicas). Não caro leitor, o Brasil contemporâneo não foi inventado pelo Governo Lula.
Para concluir essa longa reflexão, gostaria de dizer que uma coisa boa resultou da minha amarga decepção com o PT (acrescento que, infelizmente, as práticas antirepublicanas petistas são corriqueiras também nas esferas municipais e estaduais, seja no Executivo, seja no Legislativo). Esse saldo positivo, pessoal, diz respeito a um aprendizado valioso. Dizem que só o sofrimento nos permite amadurecer e crescer como pessoas morais. Pois bem. A decepção com o PT me fez uma pessoa menos radical, menos dogmática, logo, mais aberta e mais reflexiva. Por conta dessas novas posturas, pude conhecer políticos decentes situados no outro pólo do espectro ideológico. Aprendi a admirar pessoas que antes eu rotulava de reacionárias, autoritárias, neoliberais e mais um bocado de etiquetas, aplicadas por mero pre-conceito. Por ironia da vida, hoje, os poucos políticos que eu consigo admirar, em razão da coerência, da decência, do estofo intelectual e das atitudes, são todos da chamada “direita”. São políticos sofridos, que lutam ingloriamente para se manterem afastados das práticas promíscuas, tornadas absolutamente comuns e corriqueiras na vida pública brasileira. Políticos que têm enorme dificuldade, inclusive, de evitar o clientelismo mais cínico no relacionamento com a população! Que cansam a garganta tentando explicar aos eleitores que não podem lhes dar um molho de tijolos, ou uma cesta básica, mas que quando eleitos apresentarão projetos de lei voltados para a melhoria das escolas de seus filhos, da segurança de suas cidades, do ordenamento urbano. E mais, são políticos que propalam idéias. Têm convicções e buscam ser coerentes com elas. Posso até discordar de sua concepção de Estado, Mercado e Sociedade, mas não tenho como não reconhecer e admirar suas atitudes, sua coerência, seu compromisso com a res publica. Algumas dessas pessoas fazem brilhar uma pequenina chama entre as cinzas da minha esperança, calcinada pelo PT. Funcionam como aqueles pontinhos alaranjados numa fogueira quase extinta, brasas ocultas e tímidas, soterradas pela matéria morta das minhas ilusões e ideais.

quarta-feira, 16 de maio de 2012

Confissões de uma viúva do PT (parte 2/3)


Não há nenhuma justificativa aceitável para  o modo vergonhoso como o PT vem se comportando desde que ascendeu ao poder. Nada me dá mais raiva e indignação do que o argumento: Mas corrupção sempre existiu no Brasil; Você acha que o PSDB também não roubava? Me pergunto como alguém com o mínimo de consciência cívica e republicana pode abrir a boca para dizer tal coisa?! Fico enfurecida com esse tipo de desfaçatez e de cinismo. Minha resposta educada (na verdade tenho vontade soltar um impropério): eu não passei 15 anos da minha vida acreditando que o PSDB, ou o PFL, ou o PMDB iriam mudar o modo como se faz política no Brasil! Nem eles passaram 20 anos tentando me convencer – e ao país inteiro – disso!
O pior de tudo foi ter de assistir, diversas vezes, ao então Presidente Lula ir para a televisão defender a bandalheira, a corrupção, o tráfico de influência, a promiscuidade entre o público e o privado. Por que pior? Porque Lula é o maior fenômeno da história política do Brasil. Sua popularidade não tem paralelo nem em Getúlio Vargas. Digo isso com toda convicção, inclusive como profissional de pesquisa de opinião. Lula é respeitado, admirado e amado por aquela vasta camada de compatriotas situados entre as Classes E e B. Mais ainda, tornou-se um exemplo para essas pessoas. Ele é espelho e ideal. Sua vida é uma espécie de exemplário do Brasil contemporâneo. Tal como as vidas de Santos, populares da Europa Medieval, a trajetória e o comportamento de Lula servem de inspiração para os brasileiros comuns, o chamado povão. Por isso mesmo, na hora em que tal figura emblemática vai aos meios de comunicação e avaliza a corrupção, a bandalheira, o privilégio, o tráfico de influência, pode-se imaginar as consequências em termos de cultura política, de consciência cidadã???!!! Eis um legado nefasto, com perigoso efeito cascata, que décadas de História não corrigirão. Basta abrir qualquer jornal ou revista de notícias, em qualquer dia do ano, para constatar as consequências tenebrosas da era petista.
As instituições brasileiras nunca foram um primor de ética, é verdade. Convivemos com o patrimonialismo desde que Caminha concluiu sua carta de anúncio do “descobrimento” pedindo um emprego a El Rey. Sérgio Buarque de Holanda explicou muito bem os mecanismos socioculturais do personalismo que alimenta a promiscuidade entre os interesses públicos e privados. A corrupção sempre foi endêmica no Estado brasileiro. No entanto, nunca antes na história deste país se viu tamanha desfaçatez no trato da coisa pública. Nunca antes houve tal aparelhamento das instituições. Nunca antes houve tanta descrença dos brasileiros em suas lideranças políticas (também aqui falo como profissional de pesquisa). Falta pouco para que o roubo do dinheiro público se torne legal, pois legítimo socialmente ele já vai se tornando. Afinal, se o dinheiro público vai ser mesmo roubado, não há nada demais em que ele venha parar no “meu” bolso. Tampouco parece errado que cada cidadão sonegue impostos, ou que compre DVD’s piratas, fure a fila do exame de ressonância magnética no hospital público, consiga com um médico amigo o remédio para o tratamento de câncer distribuído pelo SUS, contribua com a caixinha da cerveja da PM em troca de não ter o carro apreendido ou multado. São elas por elas. E o Brasil vai se tornando cada vez mais a terra de ninguém, a casa da mãe joana. Por que justo “eu” vou me submeter à letra da lei e às normas institucionais e republicanas, quando o filho do ex-presidente deixou de ser monitor do zoológico de São Paulo para tornar-se um empresário e pecuarista milionário, em curtíssimo espaço de tempo, e Lula assegurou que não há nada de amoral nem de errado nisso?
Tive um namorado, ex- petista como eu, que ficava indignado quando eu dizia que a Ditadura Militar -- essa última, que prendeu arbitrariamente, torturou e matou -- foi muito mais decente no trato da coisa pública. Outro dia vi confirmada minha hipótese. Li notícia sobre o destino do ex-presidentes militares. Todos morreram como cidadãos de classe média. Suas famílias nem sonham em ter uma mínima parte do considerável patrimônio acumulado por Lulinha, o fenômeno. Ou por vários outros companheiros, para me ater apenas aos petistas, caso alguém queria argumentar que “as alianças com a corja política” são necessárias à governabilidade (outro argumento que me dá vontade de voar no pescoço do sujeito). Não estou reclamando das fortunas misteriosamente acumuladas pelos Aleluias e Nascimentos da vida. Estou falando dos inúmeros petistas, que uns anos atrás estavam no chão de fábrica e hoje andam em carros importados, moram em apartamentos milionários e são “consultores” pagos a peso de ouro.

terça-feira, 15 de maio de 2012

Confissões de uma viúva do PT (parte 1/3)


Eu tinha apenas 12 anos quando comecei a acompanhar a vida política brasileira. Culpa de meu pai, que por essa época já me incentivava a ler a Veja e me pedia resumos das reportagens como condição para o recebimento da minha mesada. Lembro-me perfeitamente, por exemplo, das notícias sobre o movimento pelas Diretas, em particular de uma cena em que Fafá de Belém cantava o Hino Nacional, com um sentimento e uma beleza muito impactantes para a menina acostumada ao compasso cadenciado, quase marcial, das cerimônias de hasteamento da bandeira, no pátio do colégio. Compartilhei, com meu coração adolescente, a euforia pela eleição de Tancredo Neves. Obviamente, não podia alcançar a plenitude de significado daquele fato, porém, conseguia entender que se tratava de um momento auspicioso e muito importante para o país. Por isso mesmo, chorei copiosamente, junto à minha mãe, a morte daquele homem baixinho e simpático, que eu aprendera a admirar e a querer bem. Jamais esquecerei a gravidade e a tristeza de voz e semblante de Antônio Brito, anunciando o evento fatídico. Ganhei um concurso de redação no colégio, escrevendo sobre o presidente nunca empossado. A ele devo minha primeira coleção de livros de Machado de Assis, com a qual fui premiada.
Depois disso, não deixei mais de acompanhar com o mais vivo interesse os eventos relativos à nossa vida pública. Em virtude da tenra idade e da sede de justiça social, rapidamente tornei-me petista convicta. Tirei meu título aos 16 anos para votar no sujeito barbudo, tão baixinho e simpático quanto Tancredo, em quem passei a depositar minhas esperanças de construção de um Brasil melhor e mais equânime. Fui a memoráveis comícios do PT, de estrela vermelha no peito. Provoquei discussões em ônibus, fiz panfletagem, boca de urna no primeiro turno da eleição de 1989, e, no segundo, fui fiscal do Partido dos Trabalhadores. Na apuração, briguei por cada garrancho que pudesse se parecer com o nome “Lula” (naquele tempo ainda se votava em cédulas de papel). Devo ter ganho pelo menos uns 10 votos só na base da argumentação. Lula perdeu, mas eu saí da zona eleitoral às duas da madrugada com a sensação de dever cívico cumprido. Pouco tempo depois, fui para as ruas de cara pintada, briguei pelo Impeachment e novamente fiz campanha para Lula. Não me conformava com a aliança entre Fernando Henrique Cardoso – o teórico do dependentismo, o príncipe da sociologia -- e o PFL. Tinha a mais firme convicção de que os tucanos, ainda que pudessem ser políticos decentes, haviam vendido sua alma ao diabo e logo fariam o mesmo com o Brasil. Fiquei arrasada com a derrota do PT e passei os oito anos da Era FHC praguejando contra o governo neoliberal, brigando diariamente com meu pai (discussões que muitas vezes terminaram em lágrimas de raiva) e desejando que o presidente-intelectual ardesse no fogo do inferno pela Eternidade, para pagar pelos terríveis males causados ao Brasil: privatizações irresponsáveis, desemprego em massa, sucateamento das universidades públicas, abandono das fronteiras, inexistência de política de Estado para a cultura, pragmatismo político condenável, expresso em alianças com uma corja política abominável, a exemplo dos clãs Sarney e Magalhães. Enfim, minha lista de imprecações era bastante extensa. Meu único consolo consistia na certeza de que um dia o PT chegaria ao poder e poria um fim naquela sem-vergonhice.
Quando Lula foi eleito, eu estava morando nos Estados Unidos, onde fazia um doutorado. Acompanhei toda a apuração pela TV, ansiosamente, na casa de amigos. Mal pude acreditar quando a vitória de Lula foi anunciada! O discurso de derrota de José Serra produziu em mim uma alegria indescritível. Suas lágrimas mal contidas, confesso, produziram júbilo no meu coração. Finalmente se realizava um sonho de mais de uma década! Quando Lula apareceu na tela do aparelho eu já estava transformada em lágrimas. Impossível conter o choro, a emoção, a felicidade suprema. Se Deus topasse certo tipo de acordo, teria dado dois anos da minha vida para estar no Brasil naquela noite, para somar-me à multidão que vestia camisas vermelhas e empunhava bandeiras, tomando conta das grandes cidades do país. Tomei o primeiro e único porre voluntário da minha vida (só tinha ficado ébria antes no meu chá de panela). A eleição de Lula, a vitória do PT valiam aquele excesso. Fui dormir em êxtase.
Quando os primeiros indícios de promiscuidade e corrupção do Governo Lula começaram a aparecer, ecoei o discurso petista: intriga da oposição, tentativa de desestabilizar um governo verdadeiramente popular e democrático, coisa de imprensa golpista. Com o passar do tempo e a revelação de dados incontestáveis e indiscutíveis, tive de me render. Afinal, contra fatos, não há argumentos. Ou, como diz um amigo amado: não adianta dar murro em ponta de fato. A minha vida política divide-se, assim, em duas partes: antes e depois do Mensalão. Ainda hoje meus olhos marejam quando recordo a decepção, o desencanto, a dor de descobrir que eu vivera um engodo. Passei 15 anos da minha vida acreditando e lutando por uma quimera, um castelo de nuvens que se dissipou no ar da maneira mais cruel.

sexta-feira, 11 de maio de 2012

Diário de viagem: Manaus, parte 7


Manaus, 01 de fevereiro

O clima em Manaus é absolutamente instável. Sei que em todo o planeta o clima está meio doido e imprevisível, porém, aqui é demais. Euclides da Cunha tinha razão, a sensação é de que a paisagem pode mudar a qualquer instante. Quatro horas atrás fazia forte calor. Céu azul. Mas, com “sol de chuva”, segundo seu Sabá. Explicou-me ele que quando a luz do sol está muito branca e cortante, é sinal de que choverá mais adiante. O fato é que à tarde o céu fechou repetinamente e a chuva caiu com vontade. Continua chovendo, porém, com menos intensidade. Sentada à mesa de um café, à espera do jornalista que devo entrevistar, sinto frio novamente. O ar que chega até a varanda onde me encontro é úmido e gelado. Recorro à pashmina que tem sido minha companheira inseparável, nas visitas a gabinetes e escritórios invariavelmente congelantes. Tinha ouvido falar que todo mundo aqui vive no ar condicionado 24 horas. O frio da rua é que me surpreende.
Aspas no meu idílio com Manaus: ausência de perfumes no ar! Como é possível? Não há aromas de frutas, nem de flores, nem mesmo de comidas saborosas, ou de terra e folhas molhadas. Nada. Manaus é uma cidade sem cheiro. Confesso que isso me frustra. Talvez seja só a época do ano. As únicas frutas locais que se vê nas barraquinhas de rua são a pupunha e a tucumã. Frutos de palmeiras. Não rescendem. E sabem à raiz. São umas coisinhas muito sem graça, insossinhas. Provei a pupunha domingo passado. Após o recital de piano, e o tacacá frustrado, Vivi quis comer uma pizza. Voltamos ao bar onde havíamos estado com Paulo, semana passada, lá mesmo no Largo de São Sebastião. O dono, seu Rosendo, nos trouxe uma pupunha, para provarmos. Em termos de sabor, parece mais um inhame, ou uma batata-doce sem o doce. Aliás, os manauaras comem esse fruto com café, tal como fazemos em Pernambuco com o inhame. Mais uma fruta de aparência enganosa. Ela é redondinha, com a casca bem vermelha. Você imagina que vai morder uma carne suculenta e docinha, e não é nada disso. É preciso descascá-la e cortá-la em lascas, pois a polpa é firme e “massuda” como a da batata-doce.
História hilária, não registrada antes. Quando estávamos nesse barzinho, começou a chover. Todo mundo que estava nas mesinhas de fora correu pra se abrigar dentro da casa. Eu e Vivi fomos rápidas e conseguimos uma mesa dentro. Quando ela estava terminando de comer a pizza (eu estava saciada com minha pipoca e meu algodão-doce), dois homens se aproximaram e pediram para apoiar os copos de cerveja na nossa mesa. Claro que permitimos, e eu ainda lhes ofereci a metade da pizza, que Vivi não comeria mais. Entabulamos uma conversa. Eles eram do Paraná. Um físico e um matemático. Vieram para um congresso na cidade. Com três minutos de conversa eu tive vontade de ir embora. Aos cinco minutos, queria sair correndo. Um deles me perguntou o que eu fazia. Quando disse que era antropóloga, o mais magrinho perguntou: -- De que tipo de peixe?! Pior ainda foi a pergunta do outro: -- Vocês sabem o que é esse prédio enorme, cor-de-rosa, aí na praça?!!!! Céus. Eu quis sumir. Ninguém é obrigado a ter cultura geral; porém, esse tipo de ignorância revela um desinteresse pelo mundo à volta que me parece inadmissível. Levantei-me, a pretexto de pagar a conta, e fiquei conversando com os atendentes no balcão. Prosa muito mais interessante. Uma moça e um rapaz bem jovens e divertidos. Dali, sequestrei Vivi, sem dar tempo aos rapazes de dizer mais que “tchau” e “boa noite”. No caminho de volta para o hotel, Vivi teve uma crise de riso com meu estado de choque e indignação. Demos uma breve entrada na igreja de São Sebastião. Estava acontecendo uma reunião de oração. Ao entrarmos na igreja, uma música e uma voz muito suaves nos envolveram. Me senti tão bem! Acalmei meu espírito. Aproveitei para rezar um pouco.

Uma criança adorável

Alguns sábados atrás fui jantar com um casal de amigos muito querido. O encontro foi motivado pelo desejo mútuo de matar saudades e pôr a conversa em dia. Além disso, é preciso dizer que Clarissa cozinha divinamente. Portanto, eu estava muito feliz com a perspectiva da noitada. Chegando lá, vi mesa posta para quatro. Para minha surpresa, daí a pouco chegaria um outro amigo comum. Vinha acompanhado do seu filho. Gabriel tem 6 anos e é uma criança absolutamente adorável. Como gosto muito de crianças, rapidamente me familiarizei com ele e brincamos juntos durante boa parte da noite.
Além de todos os atrativos comuns às crianças – espontaneidade, alegria, ingenuidade, imaginação, vivacidade – Gabriel tem características cada vez mais raras entre seus pares. É uma criança doce e obediente! Como qualquer pessoinha da sua idade, ele procura garantir seus espaços e tenta satisfazer seus desejos, porém, quando contrariado, atende às razões dos adultos e obedece! Sem bico, sem cara feia, sem choro, sem birra. Fiquei absolutamente maravilhada com Gabriel. E dei parabéns efusivos ao pai pela educação (infelizmente) extra-ordinária do filho. Cumprimentos extensivos à mãe, claro, que não conheço. Digo infelizmente, porque essa deveria ser a regra. Não deveria haver nada de fora do comum no comportamento de Gabriel.
A infância vem mudando vertiginosamente. Isso é inegável e inevitável. Como todas as demais fases da vida, a infância é socialmente construída. Seus sentidos, valores, sua importância e todo o leque de comportamentos tidos por adequados e inadequados a esta fase do desenvolvimento humano variam conforme o tempo e o lugar. Ser criança no Recife, hoje, é algo distinto de ter sido criança na Europa Medieval, ou do que é ser criança entre os Kayapó. O fato é que o sentido e as vivências da infância estão mudando mais uma vez, nas nossas sociedades ocidentais. Entre outras mudanças, a infância tende a sofrer um encurtamento. Não quero emitir juízos de valor a respeito. A mudança faz parte da dinâmica social. Porém, tenho, sim, um problema com certas tendências que se vão cristalizando.
Vários analistas já vêm apontando o excesso de liberdades concedidas às crianças, e a concomitante dificuldade dos pais de estabelecerem limites e controlarem seus filhos. Muitas crianças vão se tornando pequenos tiranos. Cheios de vontades, não conseguem ouvir um não sem que isso desencadeie uma crise pontuada por cara feia, choro, gritos, esperneio ou outras cenas piores. O desfecho, com frequência, consiste em pais cedendo às vontades infantis. Ou seja, enquanto tiverem seus desejos satisfeitos, muitas crianças parecem anjos de candura, mas basta uma pequena contrariedade e o céu vem abaixo. Qual é o efeito mais preocupante dessa realidade? Ora, a infância, independentemente do contexto ou de sua duração, é sempre um período de preparação para a vida adulta. É o início do processo de aprendizagem social, quando vamos adquirindo as ferramentas necessárias ao desempenho de papéis que exerceremos ao longo da vida. Cada vez mais as ciências, nas suas disciplinas biológicas e humanas, vão enfatizando a importância das primeiras experiências como conformadoras das pessoas que viremos a ser, quando adultos. Portanto, a infância é o momento para aprendermos e incorporarmos valores como respeito, generosidade, solidariedade, compromisso, responsabilidade. Quando os pais não conseguem impor limites e dizer não a seus filhos, que adultos estão formando? Essa é a questão que angustia e preocupa. Os indícios são mesmo assustadores: alunos indisciplinados, professores abandonando o magistério por não conseguirem mais obter respeito na sala de aula, jovens que saem pelas madrugadas agredindo domésticas em pontos de ônibus, ou ateando fogo em mendigos debaixo dos viadutos. A lista de comportamentos inadequados, abusivos e, inclusive, criminosos poderia ser exaustiva.
Gostaria muito de poder acreditar que os gabriéis são a regra (e devo registrar que para minha alegria tenho alguns sobrinhos nesse perfil). No entanto, vejo multiplicarem-se os exemplos contrários. Pior, conheço muita gente boa, pais bem preparados, pessoas íntegras e sensatas, munidos de concepções acertadas sobre educação, e que diante do choro e da vontade imperativa de seus pimpolhos, acabam por sucumbir. Cada um que acenda sua luz amarela. O mundo em que nossas crianças viverão há de ser o reflexo delas mesmas.

quarta-feira, 9 de maio de 2012

O silêncio é de ouro


É indiscutível que o Brasil vive um momento de grande mobilidade social. A Nova Classe C é cada vez mais numerosa e, por que não dizer, ruidosa. Nesse processo de ascensão social, diminuem as desigualdades e acontece um salutar movimento de democratização do acesso a bens culturais. Basta ir a qualquer complexo de cinemas, numa segunda-feira de promoção para constatar que a sétima arte, projetada na grande tela, também vai conquistando novo público. É claro que isso é maravilhoso. No entanto, há uma contrapartida espinhosa. E sei bem que não faltará quem me chame de elitista, aristocrata, reacionária e assemelhados. Mas, alguém precisa falar da importância de se educar esse novo público.
Ir ao cinema tem se tornado uma experiência irritante. Sempre tem alguém que acredita estar na sala de casa, ou numa feira, ou num barzinho com amigos. Conversa-se em voz alta, comenta-se o filme o tempo todo, e fala-se ao celular com a maior sem-cerimônia. E se você, que pagou o ingresso para assistir ao filme no escuro e em silêncio (se quisesse os comentários não-autorizados você teria ficado em casa, com sua mãe), for reclamar, pode ser pior. Corre sério risco de ouvir desaforos ou ter de escutar risadinhas frouxas por todo o restante da sessão. No teatro, acontece fenômeno semelhante. Alguns meses atrás, no Santa Isabel, uma companhia mineira apresentava admirável encenação da peça de Nelson Rodrigues, A mulher sem pecado. No camarote do terceiro andar, à esquerda do palco, um grupo de pessoas ria, tecia comentários em voz alta e até gritava para os atores, pensando ser natural interagir com estes, como se estivessem numa sessão de circo. A culpa não é delas, certamente. Faltou quem as advertisse sobre o inadequado de tal comportamento.
Mês passado, no mesmo Santa Isabel, os belos acordes dos instrumentos da Orquestra Sinfônica do Recife tiveram de dividir o espaço sonoro com conversinhas, risos, toques de celular e “psius”. Sou pernambucana até a raiz da alma, portanto, me sinto em plena liberdade para tecer comentários comparativos. Nosso público tem um longo caminho a percorrer. Basta assistir a um concerto na Sala São Paulo, para perceber a diferença de comportamento da platéia. Tal como em todas as salas de concerto européias ou norteamericanas, o silêncio  na Sala São Paulo, antes e durante uma apresentação é sepulcral. Quando a orquestra toca só se escutam seus acordes, quando não está tocando, se uma pena cair no chão, será ouvida. Ninguém nem sequer sussurra, celulares jamais tocam ou vibram, pessoas não trocam de lugar, não se escutam cadeiras rangendo, nem papéis de confeito sendo abertos. Reina, sempre, o mais respeitoso silêncio. Respeito que não se dirige apenas ao trabalho dos profissionais no palco, mas à própria música. Obviamente, não se pode esperar de quem não foi ensinado, que se comporte exemplarmente numa sala de concerto. Por isso, seria muito bem-vindo um trabalho de educação das nossas platéias. As pessoas precisam aprender que o barulho – por mínimo que pareça -- fere o direito dos demais a fruir a boa música. Também não faria mal adverti-las de que aplausos só são adequados quando uma peça é finalizada, e nunca entre os movimentos. Quem sabe um pequeno panfleto, com regras de bom tom, entregue juntamente com o programa da noite.
Estou falando sério. Esse trabalho pedagógico bem merece ser iniciado de imediato. E deve ser estendido a outros tipos de apresentação em locais fechados, sejam teatros em geral ou salas de cinema. Neste caso, aqueles filminhos que mostram as saídas de incêndio e pedem o desligamento dos celulares, poderiam ganhar mais ênfase nesse último aspecto e incluir algo como: não converse com seus vizinhos; cinema não é lugar de conversa; respeite o direito dos outros ao silêncio. Aliás, é bem isso mesmo. Precisamos de uma grande campanha pelo direito dos outros ao silêncio. Se desejarmos a consolidação do Recife como um centro cultural de excelência, nosso percurso passa pela educação do público, logo, pela disseminação dessa regrinha básica de civilidade: no cinema, no teatro ou numa sala de música, o silêncio é de ouro.

segunda-feira, 7 de maio de 2012

À beira do caminho, de Breno Silveira: visão de uma leiga


O filme de Breno Silveira, À beira do caminho, exibido num sábado de Cine PE, deixou-me profundamente comovida. Com toda a justiça, foi o grande ganhador do festival. Por isso mesmo, surpreendeu-me quando, vasculhando a internet, li as críticas de alguns especialistas na sétima arte. Lá estava o filme qualificado de piegas, cafona e coisas do gênero. Até a atuação de João Miguel foi acidamente criticada. Como diz uma amiga: fiquei bege. Estavam eles falando do mesmo filme por mim assistido?! Quanta distância frente à minha própria experiência com À beira do caminho! Achei importante alertar o leitor deste texto para tal fenômeno. Inclusive porque, contrariamente ao senso comum, acredito que gosto se discute, sim.
A linha básica do roteiro até pode sugerir pieguice. Um caminhoneiro amargurado e um órfão em busca do pai se esbarram e empreendem, juntos, uma viagem pelas estradas do Brasil. Quando o filme começou, tive uma sensação de déja vu. Lembrei-me imediatamente de Central do Brasil e pensei: que falta de originalidade! (tal qual as críticas lidas). Conclusão precipitada a minha. À beira do caminho é um filme belíssimo, delicado, e conta histórias de perdas, dores e reencontros de modo absolutamente particular. É verdade: embalado pelas boas canções de Roberto Carlos, o filme tangencia a breguice, e tem precisamente o grande mérito de não cair nela, nem resvalar no melodrama. É um primor: de roteiro, de fotografia e, sobretudo, de interpretação. João Miguel está soberbo no papel de João. A dor  que lhe dilacera a alma e impossibilita a existência é vivida pelo ator de um modo que eu só poderia chamar de visceral. Sua casmurrice é autêntica. Machado de Assis o aplaudiria e talvez até lhe tivesse tomado emprestada alguma inspiração para compor seu Casmurro. Vinicius Nascimento, na pele de Duda -- cuja mãe morreu, e que parte para São Paulo, em busca de um pai que ele conhece por uma pequena fotografia P&B --, é uma figura muito cativante. Olhos expressivos, cílios longos, carisma quase irresistível. A teimosia afetuosa de Duda vai lentamente vencendo a rabugice de João. A dor de um é o espelho invertido da dor do outro. E é esse espelhamento que permite a João encontrar uma saída para seu desespero. Trata-se de um filme todo composto de sutilezas, que encontram perfeita expressão nos gestos contidos de João. Às vezes há um mero levantar de sobrancelhas, ou um cenho franzido, em lugar de uma linha de texto. E aí, realmente, João Miguel fez toda a diferença. Aliás, minha impressão foi exatamente oposta à de certo crítico, para quem o ator sentiu-se constrangido com o texto. No filme que eu vi, João Miguel estava inteiramente entregue a João. Se João tivesse existido na vida real, sua dor não seria tão intensa como a de João Miguel, neste filme.
Para concluir, preciso estabelecer uma última contraposição às críticas que me pareceram injustas com o filme de Breno Silveira. À beira do caminho não é uma imitação inferior de Central do Brasil. É outra coisa. Porém, se for para compará-los, à parte a grande admiração que tenho por Walter Salles Jr., para ser honesta comigo mesma, devo dizer que achei À beira do caminho um filme melhor. Para mim, Central do Brasil tem uma certa dimensão fabular. É um momento de transição numa espécie de percurso entre a realidade e o mito, que Walter Salles realiza entre Terra Estrangeira e Diários de Motocicleta. Subjacente à história de Dora e Josué existe um discurso sobre o Brasil. Trata-se de uma viagem de descoberta, seja de si mesmos, seja de um Brasil profundo (muito já se escreveu a respeito). A cidade grande, inóspita e desumana, contrapõem-se à autenticidade, ao colorido, à afetividade do Interior. São flagrantes a mudança de colorido e de abertura do plano de imagem quando Dora e Josué deixam o ambiente urbano e começam a adentrar o Brasil.
À beira do caminho não tem nada disso. O país é secundário, é um adorno, um pano de fundo. A viagem entre Juazeiro e São Paulo poderia se dar entre quaisquer dois pontos distantes do mapa-múndi A principal “paisagem” do filme é a boléia do caminhão de João, e o que ele mais vê à sua frente são as traseiras de outros caminhões, com as frases prontas tão típicas, penduradas ao pé das rodas. João e Duda são duas figuras ordinárias, profundamente humanas, universais. Eis um belo filme sobre a fragilidade da vida, do amor, da vontade humana. Não somos senhores dos nossos destinos. Mas precisamos aprender a ser mestres da nossa vontade, e a suportar o risco e o peso de amar.  Como diz o pequeno Duda, numa das cenas mais fofas do filme: A gente tem que ser que nem caminhoneiro; olhar sempre pra frente. Na minha percepção de leiga, À beira do caminho bem seria merecedor de uma indicação ao Oscar. Me representaria com muito orgulho.

sexta-feira, 4 de maio de 2012

Amadorismo no final de semana do Cine PE


Parece indiscutível que nosso caminho rumo à consolidação da capital pernambucana como pólo cultural nacional é árduo e nossa marcha, trôpega. Se a oferta cultural é constante e de primeira qualidade, falta-nos mais profissionalismo na logística e sobra-nos leniência com as falhas. Testemunhei exemplos básicos no final de semana de Cine PE. Incrível como na 16ª edição desse festival, ainda houve tantos problemas técnicos e logísticos. É claro que o Cine PE é um evento maravilhoso, uma grande conquista para o Recife, um feito importante. Mas é preciso sermos honestos e encararmos nossas limitações, se quisermos ser grandes. No sábado, a desorganização da programação, aliada à falta de informações e orientação ao público me pareceu imperdoável. Segundo soube pelos jornais, problemas com o som na sessão da abertura levaram a uma alteração da programação de sábado. “Problemas no som” já são inadmissíveis em si mesmos (ainda mais na abertura!), mas suponhamos que tenha se tratado de uma fatalidade, algo absolutamente inevitável e imprevisível, como um rato advindo sorrateiramente na noite anterior e que na sua gula tenha feito dos cabos, um lauto repasto. Vá lá. No entanto, não havendo outra solução possível a não ser a mudança da programação, o mínimo que se espera da organização de um evento desse porte é que as informações sobre tais alterações se encontrem devidamente expostas e disponíveis para a assistência. Pois não foi o que aconteceu no sábado. Nem um mísero papel ofício, manuscrito que fosse, indicava ao público as alterações de programa. Quem chegou para assistir a Xingu, às 17 horas, descobriu, surpreso, já instalado na sala escura, que havia uma sessão de curtas no lugar. Para inteirar-se sobre o que ocorreria na sequência, era preciso perambular pelo Centro de Convenções, indagando a funcionários muito mal informados, sobre exatamente que filmes seriam exibidos e em que horários. A desinformação dos funcionários do evento era, aliás, espantosa. A começar pela bilheteria. Um rapazinho atarantado vendeu-me um ingresso que daria acesso “a todos os eventos do dia”, quando, na realidade, só as sessões da noite eram pagas. Tendo chegado para a sessão da tarde, eu não teria necessidade de adquirir o ingresso, coisa que o rapazinho da bilheteria desconhecia. Como pretendia assistir também à sessão noturna, não fiquei no prejuízo. Tampouco se podem considerar prejuízo 8 reais. A questão incômoda é a desinformação e o despreparo das equipes. Para ser justa, devo registrar que no domingo já havia papéis bisonhamente pregados no cartaz da programação, informando mudanças de horário e de conteúdo. Ainda que toscos, eram melhor que nada.
Para completar os atropelos do sábado, o melhor dos curtas exibidos na sessão vespertina (o belíssimo e delicado Zé Monteiro: o homem que venceu as cinco mortes) congelou repetidas vezes. Não importa se foi problema de mixagem, de gravação, ou de falta de oração das freirinhas carmelitas de Olinda. A platéia não tem nada a ver com isso. Eventos como esse são programados e organizados com antecedência, permitindo a realização de todo tipo de teste preventivo. Problemas técnicos precisam ser realmente excepcionais. Por fim, em virtude da reorganização ou desorganização da programação – tal como já aconteceu em edições anteriores do festival – o longa da noite, Jorge Mautner: o filho do holocausto, começou a ser exibido tardíssimo, encerrando-se já quase à meia-noite e meia.
No domingo sucedeu episódio ainda mais lamentável. Estávamos lá, assistindo ao longa da noite, Boca (primoroso trabalho de fotografia, direção de arte, figurino e cenografia), de Flávio Frederico, quando subitamente acendem-se as luzes e o produtor, ofegante, surge no palco pedindo desculpas e informando que a exibição fora interrompida porque a sequência do filme estava errada!!!! Nunca realizei um filme, mas posso imaginar a frustração, a raiva, o desconsolo de diretor, produtor e artistas vendo sua obra ser desfigurada aos olhos de um grande público. Eu imagino que enfartaria. Sensação semelhante devem ter experimentado Breno Silveira e equipe na noite de abertura, quando o filme À beira do caminho foi exibido com som quase inaudível, segundo me contaram. Na sessão de domingo, fiquei passada com o fiasco por mim testemunhado; literalmente, morrendo de vergonha. Ao ver Rubens Ewald Filho passando, na saída do teatro, tive vontade de pedir-lhe desculpas, enfaticamente, em nome dos pernambucanos, por tamanho vexame. Faltou-me coragem. Outros convidados nacionais testemunharam a vergonha coletiva.
É realmente uma lástima que eventos tão belos em sua proposta e ambiciosos em sua envergadura padeçam de erros tão elementares. Os quais devem explicar, inclusive, porque vai se reduzindo o público do Cine PE. Lembro-me bem das primeiras edições do festival, quando os ingressos eram disputados a tapa. O Teatro Guararapes com gente saindo pelo ladrão e ainda assim muitos voltavam para casa de mãos abanando. Eu, inclusive. No último final de semana, o público nem chegou a lotar o térreo do teatro (platéia), em nenhuma das sessões. Seria bom que os organizadores refletissem a respeito. Nosso Cine PE pode ser muito melhor e maior, se vencermos um certo ranço amadorista que nos impede, não só neste caso, mas também, de consolidarmos uma imagem de excelência em termos de vida cultural, e até, de encetarmos vôos mais altos.
Aliás, pensando além do Cine PE, gostaria de insistir no fato de que essa falta de profissionalismo – ou amadorismo – é corriqueira nos nossos eventos. No concerto da OSR, de primeiro de maio, o pianista e compositor Nelson Ayres ficou visivelmente aborrecido com falhas no equipamento de som do Teatro Luiz Mendonça (novinho em folha!). Em show recente de Virgínia Rodrigues, no Santa Isabel, idem. Falhas no equipamento de som por pouco não comprometeram o trabalho dos músicos, um violonista e um celista. É vergonhoso trazermos profissionais reputados, que certamente são super criteriosos e exigentes com seu próprio trabalho, para submetê-los a problemas como microfonia e não retorno do som. Não sei se nos faltam técnicos, equipamentos, planejamento, enfim, não sou produtora, mas como público e, sobretudo, como recifense e pernambucana de coração, sinto ser imperativo que busquemos a excelência de nossos eventos culturais, não apenas em atrações, mas em logística. Nossos produtores e gestores devem essa a Pernambuco e, sobretudo, a seus próprios convidados.

quarta-feira, 2 de maio de 2012

Ainda a Orquestra Sinfônica do Recife


Ontem à noite houve outra lindíssima apresentação da Orquestra Sinfônica do Recife (OSR), no Parque Dona Lindu. Acompanhada ao piano por Nelson Ayres, e com a participação especial de Marina De La Riva, a OSR deu um show. Foi, aliás, elogiadíssima, pelos dois convidados. Os arranjos de Nelson Ayres para a Bachiana No 4 e para Bye Bye Brasil, de Chico Buarque, tiveram efeito extraordinário! A História de Lily Braun também ficou uma graça arranjada para orquestra, e bem acompanhada por Marina De La Riva (visivelmente emocionada e feliz com a apresentação na terra do avô). Essa aproximação entre a música clássica e a MPB é sempre benfazeja, e bela, muito bela. Os resultados são preciosos esteticamente, e o gesto em si tem tudo a ver com a tradição cultural brasileira, tão avessa a fronteiras e identidades rígidas. Tenho a impressão de que Villa-Lobos teria adorado a versão de sua Bachiana assinada por Nelson Ayres, com direito a baixo e bateria. Nossa OSR fez bonito ontem! Tocou com alegria, com alma. Palmas particulares para o maestro Gioia, cujo vigor se reflete na execução segura da Orquestra. Felizmente, um grande público – e muito heterogêneo -- prestigiou o espetáculo. Coisa bonita mesmo de se ver.
A nota triste fica por conta da informação de que nosso ilustre prefeito vetou um projeto de lei que estabelece a implantação de plano de cargos e salários para a OSR! E eu reivindicando uma Sala de Música para o Recife! Francamente, não se trata de miopia, e sim da mais absoluta cegueira. Boas orquestras precisam de profissionais excepcionais e de dedicação exclusiva. Os músicos das grandes orquestras ensaiam no mínimo 8 horas por dia. Almejam a perfeição. E a música clássica exige a perfeição. Por isso, é fundamental que esses profissionais sejam bem pagos, do contrário terão de complementar a renda familiar fazendo bicos em festas particulares Logo, não poderão dedicar-se à orquestra como deveriam. A Câmara de Vereadores ainda terá a possibilidade de derrubar o veto do Prefeito. Resta-nos esperar que nossos legisladores tenham mais largueza de espírito e visão de maior envergadura. Só chega longe quem mira o horizonte.

A OSR e uma Sala de Música


A agenda cultural do Recife sofreu melhoras substanciais e graduais ao longo da última década. Atualmente, nossa capital conta, ao longo de todo o ano, com eventos artísticos da mais alta qualidade (digo em termos de programação; infelizmente, nossa logística ainda deixa bastante a desejar), e atendendo a todos os gostos. Temos vários festivais de teatro e de música, festivais de cinema, boas exposições, já nos inserimos, inclusive, nos roteiros das mais aquilatadas atrações musicais nacionais e internacionais. Contamos com boas opções de cinema cult ou de arte. Enfim, nossa oferta cultural é variada, qualificada e constante. Creio poder afirmar, sem perigo de soar como meramente bairrista, que Recife é a capital melhor servida em termos culturais no Norte-Nordeste. Talvez pudéssemos até disputar o posto de terceira capital cultural do país com Belo Horizonte e Porto Alegre. Algo a ser verificado.
O cenário é, portanto, alvissareiro. Falta-nos, no entanto, um elemento importante. Ainda não temos uma sala de concertos apropriada para abrigar apresentações de nossa Orquestra Sinfônica (OSR), ou para receber orquestras visitantes. Todas as chamadas capitais culturais do mundo têm uma sala decente destinada à realização de concertos. Esta pode parecer uma demanda elitista, mas não é. Ou por outra, mesmo se for elitista, justifica-se pela importância da música clássica de per si. Do ponto de vista da política cultural, logo, do poder público, faz tanto sentido preterir nações de maracatu, quanto orquestras sinfônicas. Ou seja, nenhum. Aos olhos do Estado, toda forma de manifestação cultural deve ter o mesmo valor. Como regra geral, orquestras sinfônicas precisam da atuação do Estado para subsistirem na condição de patrimônio cultural de uma cidade ou país. Necessitam, igualmente, de uma gestão eficaz e profissional, que lhes permita alcançarem um padrão de excelência internacional. A OSESP já conseguiu essa profissionalização, e a Sinfônica Brasileira, sediada no Rio de Janeiro, felizmente vai seguindo o mesmo caminho. Antes tarde do que nunca.
Quanto ao Recife, nossa OSR melhorou consideravelmente ao longo do tempo. Lembro-me bem da primeira vez em que assisti a uma apresentação, umas duas décadas atrás, no Parque 13 de Maio. Os desacertos eram notáveis até mesmo para uma ouvinte neófita como eu. Para orgulho de todos os recifenses, duas semanas atrás, a OSR fez uma bela apresentação no Teatro de Santa Isabel. O Concerto para fagote e orquestra, de Carl Weber, foi bem executado, com destaque para o solista, Péricles Johnson, prata da casa. Já a Sinfonia no. 2 de Tchaikovsky, sob a batuta vibrante do maestro Osman Giuseppe Gioia foi empolgante. A peça, já de si alegre, foi tocada com entusiasmo e, assim, ganhou força e vibração, impressionando a platéia. A beleza do espetáculo musical, contudo, destoava das cadeiras dispostas no palco, parecendo recém-saídas de uma sala para eventos de hotel, bem como dos suportes para partitura, descascados e emendados com fita adesiva. Sem falar no calor evidente, pairando no palco, onde alguns músicos suavam em bicas.
Testemunhando a cena, me veio a ideia de que já passou da hora do Recife ter uma sala de concertos decente. Eis uma tarefa a ser assumida pelo próximo prefeito. Ele poderia encabeçar o esforço e conclamar a iniciativa privada a investir numa sala devidamente equipada, com tratamento acústico e conforto para os músicos, de modo que estes possam estar inteiramente concentrados na melodia a ser extraída de seus instrumentos. Quem sabe se um Itaú, ou Bradesco, ou, melhor ainda, uma grande empresa 100% pernambucana pudesse investir nesse espaço em troca de batizá-lo. Admite-se até o apodo Hall, plenamente justificado pela grandeza da iniciativa. Com uma sala apropriada para a nossa OSR, a democratização do acesso à música clássica seria mais fácil e mais ligeira.