sexta-feira, 22 de abril de 2016

Simplesmente Lindo!!!



Despedida do Facebook


22/4/16

TRISTEZA. Funda. Densa. A alma dói e chora. 

PADECIMENTO. Quem ama, sofre? O que foi que deixamos que fizessem com o nosso país? O que foi que deixamos que fizessem com nossos Seres? 
PERPLEXIDADE. Aonde o bom senso, a tolerância, o respeito?
CANSAÇO. E faz sentido despender tanta energia e tanto tempo num diálogo de surdos?
INTELIGÊNCIA. Obrigada Seu Ernani (!!!), amado pai, que desde pequenininha me ensina a fugir dos dogmatismos como o diabo da cruz.
DÚVIDA. Pra que falar, quando a reação roubou o lugar da reflexão? Se não existe debate, apenas reafirmação de posições há muito estabelecidas, pra que falar?
SURPRESA. Descobrir que suas palavras, por mais cuidadosas e bem intencionadas, machucam e ferem quem você ama.
HUMILDADE. O que me dá o direito de despejar minha Verdade sobre os outros?
VERDADE. Que cada um seja fiel a seus próprios princípios e valores.
AMOR. Só ele pode nos salvar da loucura coletiva.

Tiro férias dessa brincadeira do cordão azul e encarnado. Difícil atinar com um papel que me caiba nesse Pastoril nacional.
Ciente de que minha ausência não tornará esse embate nem mais rico, nem mais pobre.
Recolho-me. 
Não por receio de perder um ou outro amigo, porque a gente não perde o que nunca teve. Amizade que se ressente de tempos assim é porque jamais existiu?
Menos ainda por receio de perder a “admiração” de quem quer que seja. Faz tempo que aprendi a buscar o espelho da minha própria consciência. 
Recolho-me para o exercício da Humildade. Para me fortalecer no Amor, única energia efetivamente libertadora. 
Que os Céus nos iluminem.
Que um dia essa Nação consiga se reencontrar com o Amor.

Inté.

Cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é – DESDOBRAMENTOS


21/4/16

Amigas me esclarecem que as reações à reportagem da Veja sobre Marcela Temer são protestos contra o posicionamento da revista, e a propagação de um “modelo” de mulher, no caso, submissa (bela, recatada e do Lar).
Não sei, honestamente, se isso piora ou melhora o cenário, para a minha pobre sensibilidade, um tanto cansada desse clima de Fla x Flu, que parece ter sequestrado o Bom Senso em ambos os lados. Ou talvez eu ande lendo Sócrates demais...
Passemos ao exame lógico do argumento apontado acima e respondamos a algumas perguntas:
1) Se a revista em questão propaga um modelo de mulher submissa (que deixou tantas pessoas indignadas), o que dizer das muitas reportagens da mesma revista, que em tempos recentes, propagaram modelos de mulheres independentes, inteligentes, competentes e bem sucedidas, e, em muitos casos, belas, elegantes e sofisticadas? (Se alguém tem alguma dúvida a respeito, sugiro que pesquise edições passadas, em que há vários perfis, por exemplo, de altas executivas e empresárias; ou leiam-se os textos sobre Amal Alamuddin, a bela e brilhante esposa de George Clooney).
2) Se a revista em questão defende um único modelo de mulher (recatada e do Lar), o que explicaria a capa de edição recentes, que traz duas mocinhas com roupas curtas e ar provocante, como ilustração para a matéria principal, que fala em sexualidade fluida (e sem a emissão de juízos de valor)?
3) Se ao publicar a matéria sobre Marcela Temer a revista está mesmo defendendo UM modelo de mulher (a submissa), estaria a revista sofrendo de esquizofrenia? Ou subitamente, na última semana, sofreu uma guinada de perspectiva sobre o feminino?
4) E, se, ao ir cobrir a pauta que recebeu de traçar um perfil da provável futura primeira-dama do país, a repórter (sim, é uma mulher) se deparou exatamente com o perfil traçado, constatando, que Marcela Temer é, de fato, recatada e do Lar. Quem se deu ao trabalho de ler a matéria, notou que são pessoas muito próximas a Marcela que traçam seu perfil, como irmã e tia. Suponhamos (e ao que tudo indica foi o que aconteceu) que a repórter não encontrou nada além do que ali está posto. O que ela deveria fazer? Inventar uma personagem que de fato não existe, só para não ferir suscetibilidades femininas e feministas?
5) Agora, examinemos o argumento de que as reações enfurecidas devem-se à propagação de UM modelo de mulher, o que é uma violência essencialista, pois as mulheres são múltiplas e não precisam se prender a um único papel ou perfil. Se Marcela Temer fosse outra pessoa, digamos, na linha de Amal Alamuddin, e a matéria definisse a vice primeira-dama como “Bela, brilhante e determinada”, haveria reações coletivas indignadas e memes circulando nas redes sociais?
Pediria aos espíritos independentes e críticos que refletissem sobre essas questões. Se ao final, sua conclusão, a partir de uma leitura desarmada e desinteressada, for a de que a revista está, sim, defendendo e propagando UMA visão do feminino, de modo a estimular as mulheres brasileiras a serem recatadas e do Lar, muito bem, proteste mesmo. Eu serei a primeira a respeitar e aplaudir sua posição e seus memes.
Agora, se me permitem, vou compartilhar aqui, minhas próprias conclusões.
Minha leitura, após reflexão serena e cuidadosa, é a de que as reações à matéria tão boba são desproporcionais e estão enviesadas pelo ambiente de guerra que vivemos no Brasil. A ideia de que a revista Veja está “propagando o modelo de mulher submissa” não me parece resistir a análise dos FATOS (i.e., inúmeras reportagens, da mesma revista, que “propagam” outros modelos do feminino). Como não percebo nenhum indício de que a revista tenha mudado de posicionamento nas últimas semanas, nem creio que sofra de esquizofrenia, só posso concluir que o perfil da vice primeira-dama foi aquele que a repórter conseguiu apurar. E, a julgar pelas demais informações (poucas, aliás, o que sugere ser ela uma mulher efetivamente recatada) disponíveis sobre Marcela Temer, parece ser fiel à realidade. Não que Marcela Temer seja APENAS bela, recatada e do Lar, ela certamente é mais que isso. Porém, essa é a dimensão do seu perfil que fica mais evidente, e do qual, como disse em minha postagem anterior, ela talvez se orgulhe.
Também concluo, como já assinalei antes, que as reações indignadas da maioria das pessoas têm como motivação de fundo a recusa a UM MODELO ESPECÍFICO DO FEMININO. E é precisamente isso o que mais me incomoda. Não estou escrevendo a esse respeito para defender a revista Veja, que nem precisa de minha defesa, nem me é tão cara para que dispenda meu tempo e minha energia com ela. Escrevo porque enxergo nas reações à matéria um preconceito, amplamente disseminado, contra papéis femininos tradicionais. 
Digo isso por experiência etnográfica própria. Quando terminei meu doutorado, numa das universidades mais prestigiosas do mundo, eu saí dizendo aos amigos que eu estava farta da vida de mulher independente, que eu queria era ser sustentada e virar dona de casa e mãe de família. A primeira reação das pessoas era invariavelmente o riso. Quando eu esclarecia que não era piada, vinham o espanto e as falas ligeiramente indignadas, normalmente precedidas da pergunta: Você está louca? Foi ali que descobri como, enquanto sociedade, nos tornamos intolerantes com relação às escolhas das mulheres. As expectativas sociais com relação a mulheres que tëm acesso à educação de alto nível, e que têm a possibilidade de seguir carreiras profissionais bem sucedidas, são de que elas ESCOLHAM esse caminho, de independência, autonomia e igualdade com relação aos papéis masculinos. Temos dificuldade de aceitar escolhas contrárias. Os caminhos do Lar, do Recato e, por que não dizer, da Submissão, não são vistos pela sociedade contemporânea (e pós-moderna) como escolhas legítimas. Não são apenas desvalorizadas, mas moralmente condenáveis. A menos que, por falta de talento, de inteligência ou de oportunidades (casos das mulheres que não têm acesso à educação de alto nível), as mulheres se vejam “obrigadas” a aceitar papéis femininos tradicionais. Ou seja, como coletividade, só admitimos que mulheres sejam do Lar e submissas, se fatores EXTERNOS as compelirem a tanto. Não admitimos, com facilidade, que esse seja um processo INTERNO de decisão.
Sei que meu posicionamento é controverso e não pretendo ser a dona da Verdade. Obviamente, posso estar completamente equivocada. Cada um fará sua leitura. Meu desejo, com minha postagem anterior, e com esta, é apenas o de provocar reflexões. Para concluir, quero insistir que a matéria da Veja sobre Marcela Temer até me provocou incômodo, porém, por razões distintas. Acho que está fora de timing, é deselegante e inapropriada porque desrespeita o PROCESSO que estamos vivendo. Michel Temer ainda é vice. Dilma ainda é a presidente. Com tudo que vem acontecendo no Brasil, todos os atores públicos deveriam se comportar com mais decoro e respeito. Além disso, o texto é bobo. Parece reportagem de Caras. Por fim, surpreendeu-me a clara empatia da jornalista com o “conto de fadas” aparentemente vivido por Michel e Marcela. O único juízo de valor que consegui enxergar no texto foi o de que o casal tem sorte pela relação harmoniosa e amorosa que vive, com direito a poemas de amor (achei até bonito aquele citado no texto) e jantares românticos a luz das estrelas. Porém, se essa imagem, transmitida pelos familiares de Marcela, for fidedigna, é inegável que os dois são sortudos. Quem não suspiraria por uma relação assim? 
Quanto ao mérito da polêmica, desde que constatei, pessoalmente, o nível de preconceito que vivemos com relação aos papéis femininos tradicionais, aproveito toda e qualquer ocasião para defender a escolha das mulheres que, dentre as muitas possibilidades que a vida lhes oferece, optam por serem do Lar, ou recatadas, ou esposas submissas. Não há valor maior, para mim, do que a defesa da Liberdade que cada uma de nós deve ter para ser o que quiser, e quando quiser.


PS: Espero que ninguém tome esse texto e as críticas implícitas nele como algo pessoal! Individualmente, tenho um respeito profundo e sincera por todas as perspectivas.

Cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é...


20/4/16

Se as manifestações indignadas provocadas pela reportagem da Veja online sobre Marcela Temer se dirigirem à revista eletrônica, eu até compreendo. Realmente, a matéria parece mais um texto de Caras. Pouco adequada à mais importante revista de notícias do país (goste-se ou não, é um fato). Particularmente, também considero muito deselegante a revista fazer uma reportagem sobre a "futura" primeira-dama do país, num momento de tanta gravidade como o que passamos, em que as coisas ainda estão se definindo. Parece que está todo mundo perdendo de vista a noção de decoro. 
Porém, tem algo nessas reações enfurecidas (mesmo quando procuram ser bem humoradas) que me incomoda. Sinto um tom de censura à vice primeira-dama. É como se as pessoas estivessem dizendo que a escolha dela por ser “recatada e do lar” não fosse legítima (a beleza não é escolha, mas a danada é linda mesmo!). Paira no ar uma condenação coletiva a qualquer mulher que, por livre e espontânea decisão, resolva assumir, com alegria e porque não dizer, orgulho, papéis sociais femininos tradicionais!
Espero estar entendendo tudo errado. Porque se for isso mesmo, se o patrulhamento ideológico e social no Brasil tiver chegado a esse ponto, é mesmo muito preocupante. Se já era triste ver tanta intolerância na discussão do melhor caminho para o país (destino coletivo), identificar essa intolerância com relação a escolhas que os indivíduos fazem para suas próprias vidas, é estarrecedor.
Então, quando eu vejo a imagem da jovem Dilma Rousseff, diante de um tribunal de exceção, exibida como contraposição tácita à imagem da vice primeira-dama, eu fico atônita. Qual é a verdadeira afirmação por trás disso? As pessoas querem dizer que Dilma Rousseff é melhor do que Marcela Temer porque escolheu ter uma vida pública, ao passo que essa última escolheu a insignificância do Lar? Ou será que é apenas uma oportunidade para reafirmar a posição contra o Impeachment da presidente? Alguém já pensou que se Marcela Temer já tivesse nascido e fosse uma jovem nos anos em que Dilma Rousseff ficou presa, talvez, ela também tivesse feito uma opção pela guerrilha? (a pergunta é retórica; só serve para acentuar o disparate que é comparar as trajetórias das duas, com o propósito de condenar as escolhas de Marcela). Juro que me é difícil sair de um estado de total perplexidade com o que tenho visto.
Na minha humilíssima opinião, a melhor coisa de tudo o que o Feminismo poderia nos legar, é a LIBERDADE para que nós, Mulheres, sejamos o que quisermos! E isso inclui os papéis de mãe, dona de casa, esposa dedicada e mulher recatada. Se, efetivamente, quisermos ser uma sociedade plural, precisaremos aprender a respeitar as escolhas individuais. TODAS ELAS, e não apenas aquelas que coincidem com nossa própria visão de mundo.
Bela Marcela, se você é Feliz, vá em frente! Ser uma mulher recatada e do lar é uma escolha tão legítima como a de seguir uma carreira pública e se tornar presidente do Brasil. Ignore esse furor coletivo. Como diz a música de Caetano, cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é. Imagino que é duro ser objeto de um julgamento coletivo, sem apelação e sem chance de defesa, por milhares de pessoas que nem sequer a conhecem. Eu também não a conheço, não sei quais são os seus valores, mas sei que ninguém tem o direito de julgá-la pelas escolhas que você fez para a sua própria vida. E vou dizer mais – mesmo sabendo que provocarei a ira das feministas e serei condenada à fogueira no Tribunal da Inquisição em que nos transformamos –, embora seu marido me desagrade profundamente, se ele assumir mesmo a presidência do Brasil, vou achar muito bom você emprestar sua beleza e elegância ao Palácio do Planalto. 

Em tempo: Se algum homem romântico, que escreva poemas de amor inspirados, quiser me sustentar, um dos meus sonhos é me tornar uma mulher do Lar. Adoro cozinhar! Cuido muuuito bem de uma casa. Tenho loucura para ser mãe. Só não sou exatamente uma mulher recatada. Você vai precisar me levar ao teatro, a concertos, a shows, ao cinema e a bons restaurantes com frequência. Também poderemos viajar muito, e ter boas e instigantes conversas acompanhadas de taças de vinho. Só tenho uma exigência. Você precisa ser Honesto!

As Lentes do Bom Senso


20/4/16

Em minha tentativa de defesa do Bom Senso no campo de batalha em que se transformaram as redes sociais, gostaria de me pronunciar sobre duas personagens que protagonizaram cenas “inesquecíveis” no fatídico domingo 17 de abril: Jean Wyllys e Jair Bolsonaro.

Jean Wyllys: Quebrou o decoro parlamentar ao cuspir num colega. Não há justificativa capaz de mudar o fato, inequívoco, de que o ato praticado pelo nobre deputado é incompatível com o decoro exigido pelo cargo que lhe foi conferido pelo voto popular. Em circunstâncias normais de temperatura e pressão, o nobre deputado Jean Wyllys deveria receber uma advertência da Comissão de Ética da casa, até para que a prática de cuspir em excelências desafetas não se torne corriqueira. No entanto, dado o circo de horrores em que se transformou a sessão de votação do processo de Impeachment pela Câmara, honestamente, para que não se cometesse uma injustiça com Jean Wyllys, seria preciso punir com advertências por quebra de decoro pelo menos 500 dos nobres deputados. Ou será que exagero???!!!

Jair Bolsonaro: Cometeu CRIME previsto no Código Penal: “Fazer, publicamente, apologia de fato criminoso ou de autor de crime” (Art. 287 da Lei 2848/40). Tortura, por sua vez, é crime tipificado pela Lei 9455/97. E é desnecessário reproduzir aqui a lista das atrocidades cometidas por Carlos Alberto Brilhante Ustra durante o Regime Militar. Portanto, estamos diante de um comportamento de outra magnitude. Se nossos nobres deputados tivessem um mínimo de apreço pela Democracia (e por tudo que ela representa em termos das Garantias Individuais e de respeito à Liberdade), Jair Bolsonaro já estaria respondendo diante da Comissão de Ética, e teria seu mandato cassado.

Só para deixar bem claro o lugar de onde falo, esclareço a quem não me conhece que sou ex-petista. Apoio o Impeachment da presidente Dilma. E reconheço, ainda que com profunda tristeza, que o PT se transformou (ou se revelou, disso ainda não tenho certeza) numa quadrilha, especializada em assaltar os cofres públicos. Admiro o juiz Sérgio Moro, os procuradores da República e policiais federais que estão passando a história recente do país a limpo, e abrindo precedentes para que os caminhos da decência e da probidade sejam finalmente a escolha preferencial dos nossos governantes. Espero ardentemente as prisões de Lula e Dilma pelos crimes cometidos contra a nação.

Agora, não posso me calar diante de um absurdo como o cometido por Jair Bolsonaro no último domingo. E nem posso deixar de tentar chamar à razão aqueles defensores do Impeachment (como eu), que tentam, em alguma medida defender o indefensável, ou mesmo comparar as atitudes de Jean Wyllys e Jair Bolsonaro. São incomparáveis! O primeiro teve um gesto de destempero, indecoroso, certamente, porém não cometeu crime, e ofendeu a pessoa de um nobre colega. O segundo cometeu um ato criminoso, tipificado pelo Código Penal. Seu ato violentou a Lei, o País, e a própria Democracia, a Memória nacional e as Memórias das Vítimas do torturador infame. Muito me admira, inclusive, que toda a resposta da OAB a esse episódio absurdo tenha sido uma singela nota de repúdio. Pelo menos a OAB-RJ parece ter a intenção de entrar com um pedido de cassação de mandato, único caminho capaz de preservar a nossa dignidade democrática.



Espero, sinceramente, que consigamos sair das posições de militância a que nos aferramos nos últimos meses e sejamos capazes de voltar a enxergar a realidade pelas lentes do Bom Senso.

Inteligência e Amor


19/4/16

Dada a gravidade do momento vivido pelo Brasil, creio que as pessoas inteligentes e preparadas têm a obrigação – cívica -- de elevar esse debate acima dos clichês, do senso comum e, principalmente, das retóricas fáceis e falaciosas.
Fico tão perplexa com posts que andam circulando por aí, que estou me transformando em uma “patrulheira de falácias”. Do fundo do coração, não é o meu Ser Moral que se sente agredido quando alguém acusa os pro Impeachment (como eu) de serem “reacionários”, “golpistas”, “coxinhas”, “burgueses”, “cegos”, “burros”, “alienados”, “torturadores” ou coisas do gênero. Sei quem eu sou, portanto, esses impropérios, mesmo quando saem da pena de pessoas queridas, não causam nem a mais leve comoção no meu espírito. É a minha Inteligência que se sente frequentemente agredida. O problema é que, quase invariavelmente, esses qualificativos resultam de raciocínios rasos, e se amparam em argumentos flagrantemente falaciosos. Aí eu não “guento”. Minha Inteligência esperneia e eu praticamente não consigo controlar meu ímpeto de publicar uma resposta que possa, eventualmente, levar as pessoas a usarem seus neurônios (é beeeem mais simples usar clichês e propagar ideias prontas).
Num dos muitos tour de force da retórica contra Impeachment, propaga-se o argumento de que no campo de batalha da “guerra do Impeachment” só há duas trincheiras. A dos “Bons”, que estão peleando pela Democracia, e têm ao seu lado figuras probas e admiradas da intelectualidade e das artes nacionais (já circulou até mural com as fotos dessas figuras), e a dos “Maus”, nós, membros da burguesia reacionária, que estaríamos “na companhia” de Michel Temer, Eduardo Cunha e Jair Bolsonaro. 
Daí, quando você reage e faz o emissor desse tipo de mensagem enxergar você como indivíduo (não sei se com algum nível de constrangimento ou não, a criatura é obrigada a se lembrar que você é, sim, uma pessoa de Bem), ela lhe ameaça com o poderoso julgamento da História. Afinal, quem gostaria de entrar para a História como “aliado” dos Cunhas e Bolsonaros da vida... 
Pois é. Vejamos o que a História pode nos ensinar a esse respeito. Vou citar só um exemplo, que me ocorreu de imediato.
Gandhi é a figura mais emblemática e celebrada do longo movimento pela Independência da Índia. No entanto, foram muitos os atores daquele processo. Tinha gente que matava, tinha gente que explodia bomba na cabeça alheia e tinha gente que defendia o Amor como único caminho para a luta. Na grande colcha de retalhos que foi essa luta contra o poderoso Império Britânico, teve um sujeito -- tido, na Índia, como um dos heróis desse processo, juntamente com Gandhi e Nehru – que, no período da Segunda Guerra, firmou uma aliança com os Nazistas alemães e com o (à época) crudelíssimo Japão Imperialista, e contou com a ajuda deles para enfrentar a Inglaterra (ajuda que chegou ao campo de batalha). 
Embora tenham lutado juntos inicialmente, Gandhi afastou-se de Chandra Bose justamente por discordar das atitudes e valores deste. E cada um, de acordo com seus princípios e sua visão de mundo, permaneceu combatendo pela mesma causa da Independência da Índia. A historiografia acabou relegando Bose a um segundo plano, ao passo que Gandhi se transformou num ícone mundial, associado aos mais elevados valores éticos e políticos. Com esse exemplo, quero chamar a atenção para o fato de que UMA GUERRA PODE TER APENAS DOIS LADOS, MAS MUITAS TRINCHEIRAS. 
Como eu disse no início, essa retórica falaciosa não me ofende, apenas me instiga. Porém, devo confessar que uma coisa me entristece. Implícito nesse raciocínio de que apoiar o Impeachment é igual a alinhar-se a Bolsonaro, Temer e Cunha está um cerceamento da minha LIBERDADE de escolha. Pressupõe que eu não posso escolher, LIVREMENTE, E DE ACORDO COM A MINHA PRÓPRIA CONSCIÊNCIA, que caminho eu, a cidadã Valéria, considero mais adequado para o meu país. De acordo com essa lógica, se eu fosse uma pessoa “decente” teria de alinhar-me automaticamente contra a posição de Bolsonaro (ou Temer ou Cunha), o que, no limite, significaria que essas figuras desprezíveis estariam fazendo escolhas por mim.
Será que posso chamar isso de autoritarismo moral???!!!

Felizmente, Gandhi me conforta e me livra da ameaça desse terrível julgamento da História: “A glória dos bons está na sua própria consciência e não na boca dos outros”.

Um pouco de Lógica


19/4/16

É lamentável, mas o desrespeito ao Outro, que pensa diferente, realmente tem sido a tônica dos debates sobre o país! E eu nunca deixo de me surpreender com o nível rasíssimo de certos argumentos. 
Aula básica de Lógica. Falácia: raciocínio (silogismo) em que as premissas não sustentam a conclusão. Exemplo: 1. Bolsonaro apoia o Impeachment. 2. Bolsonaro faz a apologia da tortura. 3. Valéria apoia o Impeachment. Conclusão falaciosa: Logo, Valéria apoia a tortura e os torturadores.
Lula é um ladrão (se não for coisa pior; aguardemos as delações premiadas com relação à morte de Celso Daniel), e eu não saio por aí chamando os apoiadores do PT e do Governo de ladrões.
Por favor! Vamos pelo menos manter o debate em níveis mínimos de respeito à Inteligência. Isso pra quem acha que não vale à pena manter o respeito aos outros, só porque eles têm uma perspectiva diversa sobre o que está acontecendo com o país. 
Em tempo: Embate de opiniões e de projetos para o país é a ESSÊNCIA da DEMOCRACIA! 
E só para deixar bem claro, para os que não forem bons entendedores. Eu apoio o Impeachment, e NÃO SOU: burra, inocente, cega, alienada, fascista, retrógrada. 
Eu não apoio ditadores ou ditaduras de nenhuma espécie (o que, aliás, me parece não ser o caso de muitos que estão a favor do Governo neste momento), e muito menos torturadores. Não apenas creio que o comportameto de Jair Bolsonaro foi inadmissível, como, nesses últimos dois dias eu apresentei denúncia ao Ministério Público Federal contra ele, e assinei petição pela cassação do seu mandato. 
E você? 
Uma última palavra. No circo de horrores em se transformou a Câmara dos Deputados na votação do Impeachment, o MEU deputado votou pelo Impeachment, com a elegância, o decoro, a gravidade, a compenetração e o entendimento (da matéria) que deveriam ter dado a tônica daquela sessão histórica.

Do capítulo das negativas OU E nós?


18/4/16
Não. Não é alegria o que sinto hoje. Não foi alegria o que senti ontem à noite, quando o deputado pernambucano Bruno Araújo declarou o “Sim” de número 342.
Simplesmente, não consegui me sintonizar com a euforia da multidão que se abraçava e celebrava, com palavras de ordem, o princípio do fim do Governo Dilma e da Era Petista. Eu não tinha um grito de “urra” contido na garganta. Só consegui somar a minha voz à da multidão na hora do Hino Nacional, mas tenho certeza de que cantei fora do tom, porque meu sentimento, minha vibração eram muito diversos. Cantei o Amor pelo meu país, e cantei minha tristeza diante de tudo que presenciei nessa noite histórica.
Na realidade, já amanheci ontem com um profundo sentimento de tristeza. Estava convencida de que o pedido de Impeachment seria aprovado pela Câmara dos Deputados. Fui pra rua por coerência; com meus valores, com meu Amor pelo Brasil e com minha própria trajetória. Talvez também tenha me movido um certo sentimento de culpa. Como participante ativa do processo político nacional, nas últimas três décadas, sinto-me responsável pela chegada do PT ao Poder. Dediquei muitos anos da minha vida, das minhas energias, da minha capacidade e capital intelectual para contribuir com a ascensão das “forças progressistas” ao topo da política nacional.
O ano era o de 1992. Recém ingressada na faculdade de Ciências Sociais, pintei a cara e ocupei as ruas, levantei faixas e cartazes, pedindo o Impeachment do presidente Fernando Collor. Meu coração, naquela altura, pertencia ao PT, que foi, talvez, o principal protagonista daquele processo de Impedimento do primeiro presidente da República eleito pelo voto direto, após duas décadas de Ditadura (ali, sim, fazia sentido estarmos preocupados com a fragilidade da nossa Democracia). Havia indícios claros de envolvimento do presidente em um esquema de corrupção. E Fernando Collor foi apeado do Poder com base apenas nisso: indícios. Em virtude de um trabalho capenga do Ministério Público, seus crimes nunca ficaram comprovados, a ponto de o Supremo Tribunal Federal ter de inocentá-lo. Mas isso não tinha nenhuma importância para nós, nem para o processo de Impeachment, que, tal como agora, foi essencialmente político. Collor já não tinha condições de governar o país. Isolado politicamente por sua “arrogância” e “ganância” (Mais alguém se lembra que essa foi leitura amplamente dominante à época? Dizia-se que ele “quis roubar sozinho”), e sem apoio popular, em virtude das suas diabruras econômicas, o desfecho do processo de Impeachment era inevitável.
Nós, caras-pintadas, nos aferramos aos indícios apontados no pedido de Impedimento e fizemos do “Fora Collor” um movimento anti-corrupção. O PT encarnava justamente essa bandeira. Para mim, pessoalmente, o PT representava muito mais que a Esperança de um Brasil mais Justo, ele era O caminho, que me parecia real, para a ruptura com a nossa cultura patrimonialista, para a disseminação de práticas políticas efetivamente republicanas. Eu sonhava com um Brasil onde a Integridade, a Decência e o compromisso com o Interesse Público fossem a regra, e a corrupção, o privilégio, a desfaçatez, a manipulação, a República dos Amigos fossem a exceção. E o meu sonho tinha cara, tinha cor e tinha nome: PT e Luiz Inácio Lula da Silva.
17 de abril de 2016. Ironicamente, o partido que protagonizou o bem-sucedido movimento “Fora Collor”, e que durante oito anos fez ecoar, debalde, o grito “Fora FHC”, se viu novamente protagonista de um processo de Impeachment, só que como réu. Desta feita, o processo de Impedimento está embasado em crimes de responsabilidade contra a lei orçamentária. Crimes efetivamente competidos pela presidente (dizer que outros cometeram os mesmos crimes e não foram punidos, não muda o fato de que os crimes foram cometidos). Além disso, ao contrário do que dizem seus defensores, pesam, SIM, sobre a presidente indícios fortíssimos de beneficiamento do esquema de corrupção que sangrou os cofres da Petrobras. Suas campanhas milionárias foram abastecidas pelos cofres públicos.
(E eu me pergunto: Será que alguém realmente compra, de coração e de boa fé, o argumento de que a presidente não cometeu crime contra a nação simplesmente porque esse dinheiro não foi parar na conta pessoal dela???!!! Ou de que ela não tem responsabilidade sobre os bilhões desviados pelos seus subordinados mais próximos?)
Os crimes de corrupção não estavam diretamente em julgamento no caso do processo de Impeachment votado ontem na Câmara dos Deputados. No entanto, é inegável que eles constituíram o combustível principal do apoio popular ao afastamento da presidente e ao Fora PT, juntamente com a constatação de que Dilma mentiu da maneira mais acintosa para garantir sua reeleição.
E é por isso mesmo que meu sentimento é de tristeza. Eu brinco com meus amigos que sou uma viúva do PT. No meu processo de luto, já passei por todas as fases, e estou, creio eu, na quinta. Demorei-me, longamente, na fase da raiva. Passei anos visceralmente magoada com o PT (superei a fase da negação ao longo do processo do Mensalão). Eu simplesmente não conseguia perdoar o PT e Lula por terem destruído meus sonhos e minha Esperança, e achava que jamais seria capaz de perdoá-los por terem chancelado, com todo o seu capital simbólico, as práticas políticas mais nefastas que podem existir. Hoje, minha raiva passou. Cheguei à fase da aceitação. Adquiri a serenidade que me permite olhar para a realidade brasileira com serenidade. Recuperei minha capacidade de sonhar e reconstruí minha Esperança.
Mas ontem fiquei triste. No exato momento em que vi Bruno Araújo, empunhando a bandeira do meu amado Pernambuco, proferir o voto que selou o destino do Governo Dilma, não pude evitar o sentimento de profunda desilusão. Por alguns segundos, um filme rodou na minha cabeça. Me vi de estrela do PT no peito, me vi fiscalizando a contagem de votos na zona eleitoral e brigando para que qualquer garrancho fosse computado a favor de Lula (na época em que o voto ainda era no papel), me vi fazendo boca de urna pro PT, e nas ruas pelo Fora Collor, e praguejando contra o “neoliberal” governo FHC (inclusive brigando com meu pai a ponto de ir à lágrimas), e comemorando a eleição de Lula como se fosse o dia mais feliz da minha vida...
Como pude me enganar tanto? O que foi que me recusei a enxergar? Em que momento do caminho o PT se perdeu? Será que Lula nunca foi nada além de uma farsa? Como pode um sonho tão bonito acabar assim, de maneira tão vergonhosa?
Essas foram as perguntas com as quais me debati na noite de ontem, cercada pela multidão eufórica. Para completar, como todos os brasileiros, tive de assistir ao circo dos horrores em que se transformou nossa Câmara dos Deputados.
Como posso me alegrar quando olho para o país e o que vejo é um cenário de terra arrasada? Temos um Congresso que deu provas cabais e patéticas, ontem, de que não está à altura do momento que vivemos (ainda se pode esperar que o Senado seja um pouco mais digno). Temos um presidencialismo corrompido até a “alma”. Temos uma economia em frangalhos, e uma situação fiscal quase calamitosa. Até pelo menos 2080 estaremos pagando a conta salgadíssima das irresponsabilidades fiscais dos governos Lula e Dilma. Nos próximos dias teremos um presidente da República sem nenhuma legitimidade. E não temos uma única liderança política capaz de apontar caminhos para o país, com destemor e sem condicionamento a interesses próprios.
Feito esse desabafo, afirmo que precisamos continuar acreditando no Brasil. A hora é grave. Os desafios são imensos. E desta feita não temos salvador da pátria (o que, aliás, pode ser bastante pedagógico). Só podemos contar conosco mesmos. É a hora de nós, cidadãos comuns, fazermos a diferença. Se cruzarmos os braços e abandonarmos as ruas, um desastre ainda maior será inevitável. Esse é o momento para discutirmos os próximos passos! Precisamos ter clareza do rumo para onde desejamos caminhar. Precisamos continuar pressionando pela continuidade da Lava-Jato (o Governo Temer pode, sim, tentar agir para coibir novas investigações). Precisamos pressionar para que o braço da Lei chegue a todos, independentemente da filiação partidária! Precisamos discutir e defender uma reforma política profunda, que nos permita atacar na raiz os males desse presidencialismo de coalizão, e a promiscuidade generalizada que vivemos hoje entre o público e o privado.
É claro que demos um passo importante ontem. Foi um dia triste, porém, necessário. A mudança precisava começar pelo Palácio do Planalto. Ela não pode é parar por aí. A Câmara dos Deputados mostrou que não está à altura do país. E nós?

Colocando pingos em alguns “is”


15/4/16

Eu sou a FAVOR do Impeachment, porém:

1) DETESTO a ideia de que o Brasil terá de ser governado por Michel Temer e pelo PMDB, que (com honrosas exceções) há muito vem se comportando como a excrecência do sistema partidário brasileiro.

2) Considero LAMENTÁVEL que o criminoso Eduardo Cunha seja o presidente da Câmara dos Deputados e esteja comandando o processo de Impeachment nessa Casa.

3) Fico NAUSEADA a cada vez em que vejo Renan Calheiros comandando o Senado Federal e sei que será duríssimo assistir a essa criatura presidindo ao julgamento do Impeachment da Presidente Dilma (inclusive trabalhando contra ele).

4) Tenho a mais PLENA CIÊNCIA de que boa parte dos deputados que votarão pelo Impedimento da presidente são corruptos.

5) ACREDITO que, no caso de Impedimento da presidente, um futuro governo Temer não apenas será incapaz de “salvar a pátria”, como enfrentará turbulências fortíssimas, até porque terá muito pouca legitimidade para governar.

6) TENHO CERTEZA de que a situação econômica do país vai continuar piorando em 2016, com ou sem Impeachment, visto que os governos do PT nos levaram a uma situação de insolvência financeira.

7) SEI que a corrupção não é privilégio do PT e NÃO TENHO NENHUMA ILUSÃO de que Temer e o PMDB moverão uma palha sequer para combater a corrupção. Pelo contrário, RECEIO que o PMDB tente melar a Lava-Jato, se assumir a Presidência.
É bom esclarecer bem esses pontos, porque muitos dos argumentos utilizados para criticar os que defendem o Impeachment, parecem partir do pressuposto de que somos Idiotas ou vivemos em Bambuluá.

Agora, por que apoio o Impeachment mesmo tendo total consciência da triste realidade que vivemos e do futuro amaríssimo que nos aguarda?

1) Porque acredito que quem nos colocou nessa situação (inclusive sendo responsável pelo fato de Michel Temer ser o vice-presidente, Eduardo Cunha o presidente da Câmara, e Renan Calheiros o presidente do Senado!!!) de profunda crise política, moral, financeira e econômica precisa e DEVE ser responsabilizado por isso.

2) Porque me recuso a aceitar o argumento cínico de que como todos os políticos são corruptos, ou você pune e prende todo mundo, ou não pune e não prende ninguém. Isso pra mim soa como um delegado ter diante de si dois homicidas contumazes, um deles preso em flagrante, e liberar os dois só porque não conseguiu reunir as provas materiais necessárias para manter o outro preso. (O certo não seria manter um bandido preso e ficar na cola do outro????).

3) Porque tenho convicção de que muito pior do que ter Michel Temer como Presidente, é permitir que uma quadrilha cujos crimes estão sendo amplamente comprovados, continue abancada na Esplanada dos Ministérios, sangrando os cofres públicos da maneira mais descarada (por 13 anos!!!).

4) Porque eu espero que o Impedimento da presidente Dilma seja O primeiro passo num processo de mudança na política nacional que PRECISA ser feito, sob pena de inviabilidade do país (sei, perfeitamente, que para que uma real reforma política aconteça, a população terá de permanecer vigilante e ocupando as ruas; é justamente depois do Impeachment que precisaremos estar mais vigilantes e mais ativos como cidadãos).

5) Porque tenho clareza de que o Impeachment é um instrumento legítimo e legal, do sistema Presidencialista! E é, portanto, DEMOCRÁTICO, estando previsto na Constituição Federal. Além disso, vem sendo chancelado pelo colegiado do Supremo Tribunal Federal, composto, neste exato momento, por ampla maioria de Ministros indicados por Lula e Dilma (8 dos 11!!!).

6) Porque a presidente cometeu, SIM, crimes de RESPONSABILIDADE. Os crimes de responsabilidade do presidente da República estão devidamente tipificados na Lei 1.079/50, que regulamenta o Art. 85 da Constituição Federal. E a presidente Dilma incorreu, claramente, em pelo menos dois deles: a) Art 9º, inciso 3 -- não tornar efetiva a responsabilidade dos seus subordinados, quando manifesta em delitos funcionais ou na prática de atos contrários à Constituição; b) Art 10º, inciso 6 - ordenar ou autorizar a abertura de crédito em desacordo com os limites estabelecidos pelo Senado Federal, sem fundamento na lei orçamentária ou na de crédito adicional ou com inobservância de prescrição legal”.

7) Porque as pedaladas fiscais também configuram crime de responsabilidade contra a Lei orçamentária. E se “todos os governos” fizeram e fazem pedaladas fiscais, e o TCU mudou seu entendimento a partir de 2014, só posso me alegrar com o fato de que mudou para o rumo certo! Para mim, essa é uma razão a mais para que o Impeachment aconteça. Em primeiro lugar, obrigará o TCU a ser coerente e a ficar atento às pedaladas fiscais dos futuros governos. Em segundo lugar, mandará um recado contundente, para todo governante, de que Lei é pra ser cumprida, sim.

8) Porque creio estar diante de um desses acontecimentos da vida em que não dá para ser relativista. O processo de Impeachment não é um juízo sobre o Governo Dilma “comparado” com A, B ou C (seja da perspectiva dos seus próprios atos, seja da forma como é tratado pela mídia, pelo TCU, pela elite conservadora ou por quem quer que seja). O processo de Impeachment de Dilma é um juízo – técnico e político – sobre atos cometidos por ela, no exercício de mandato popular, que são inaceitáveis para um presidente da República, seja moralmente, seja conforme os parâmetros estabelecidos pela Carta Magna, que rege a nossa Democracia.

9) Porque embora preferisse esperar pela cassação da chapa Dilma/Temer, capitulei diante do fato de que a crise fiscal é demasiado grave, e que o país não aguentará esperar por um desfecho mais prolongado. Precisamos mudar o rumo da condução da economia o mais rapidamente possível. Duvido muito que o governo Temer tenha a real intenção de ministrar o remédio amargo de que o país precisa, porém, a mudança de condutor pelo menos me permite esperar que não se persista nos erros que nos trouxeram até aqui.

Se a presidente for mesmo Impedida (após julgamento pelo Senado), minha comemoração será tímida e certamente terá um sabor amargo. Antevejo que minha reação será de alívio, pelo extermínio de um grande mal, dentro os muitos males de que padece nossa nação. Será, ao mesmo tempo, de tristeza. Assistir a esse final melancólico de um partido ao qual dediquei tantos anos da minha vida, da minha energia e dos meus sonhos será mesmo triste. Por fim, será também de ansiedade, porque sei que nos esperam dias duros e tumultuados.



Já fui mortadela. Agora, parece que sou coxinha. Não tô nem aí pra rótulos, que estão loooonge de dar conta dos meus valores e das minhas motivações pra ir pra rua amanhã.
De uma coisa eu tenho certeza. Não estou "alinhada com as forças mais retrógradas do país" -- como por vinte anos estive com as forças que eu ingenuamente acreditava serem "as mais progressistas do país". 
Estou alinhada com meu Amor pelo Brasil, com os valores democráticos, e, principalmente com a Verdade e a Decência. Ponto final. Hoje é um dia histórico para o Brasil.
Vestidos de verde e amarelo, ou de vermelho, vamos às ruas em defesa daquilo que acreditamos ser melhor para o nosso país. Que não percamos essa perspectiva!
O PT pode ter saqueado nossos cofres, pode ter destruído nossa economia e pode ter roubado os sonhos, a Esperança de alguns de nós, mas não devemos deixar que ele nos roube a Dignidade e o Bom senso.
Vamos às ruas, Sim! Mas vamos comprometidos com os valores mais elevados: o respeito ao Outro, a defesa da Democracia, o apreço pela Liberdade de Expressão.
Independentemente do resultado da votação na Câmara, mostremos que sabemos ganhar e que sabemos perder.
E não nos esqueçamos de que essa votação não vai operar nenhum milagre. Nossa vigilância e nosso compromisso com o futuro do Brasil serão mais necessários a partir de amanhã do que foram até hoje.
Muita Luz e muito Amor nos nossos corações!

Obrigada a ser redundante



13/4/16

Respeito, sinceramente, quem é contra o Impeachment. Porém minha Inteligência agradeceria muito se em lugar do discurso rasteiro e maniqueísta de “golpe”, essas pessoas tivessem a coragem de defender o governo da Presidente Dilma por aquilo que esse governo efetivamente representa para elas: seus sonhos, sua esperança, sua absoluta desconfiança das elites que governaram o Brasil durante cinco séculos menos 13 anos, seu nojo pelo PMDB, sua crença de que sendo a corrupção irremediável é melhor que o Poder fique na mão do PT... ou seja lá por que razão moral ou ideológica for. Que tenham a coragem de ser honestos consigo mesmos e com os outros participantes do jogo democrático. Ou, demonstrem que o Governo Dilma não cometeu os crimes de responsabilidade de que é acusado. Aproveito para pedir que também me poupem do argumento – igualmente pueril e falacioso -- de que “outros” governantes fizeram e fazem o mesmo. O importante, pra mim, é que a partir de agora e daqui pra frente fique bem claro para TODOS os políticos que nós, cidadãos e contribuintes, estamos fartos dessa farra com o dinheiro público e que estaremos de olho em quem governa.
Enfim. Impeachment não é golpe. Se fosse Golpe, não estaria previsto na Constituição. Golpe é quando se atenta contra a Constituição. A Constituição que nos permitiu tirar Collor é a mesmíssima que nos dá a possibilidade de tirar Dilma agora. Não sejamos casuístas. Nem banquemos os ingênuos, como se não soubéssemos da dimensão política de um processo de Impeachment. E, sobretudo, saibamos aceitar os resultados do jogo democrático.

Em minha última postagem eu teci longas considerações sobre porque Impeachment não é golpe. Mas, como salientou uma amiga querida, não entrei no MÉRITO do pedido de Impeachment que está em curso no Congresso Nacional. Escolhi não entrar no mérito porque minha reflexão estava focada na legitimidade do PROCESSO, que é constitucional e política. Desta feita, respondendo à provocação, que me parece justa, discutirei, sim, o mérito da questão.
Porém, antes preciso rebater um argumento que tenho lido com frequência e que me soa fragilíssimo. Alegam vários opositores do Impeachment que a vontade de milhões de eleitores, sagrada nas urnas em 2014, deve ser respeitada até o dia 31 de dezembro de 2018. 
Essa questão me remete justamente ao meu texto anterior. Talvez eu não tenha sido suficientemente clara. Então, segue o cerne do meu argumento: o mecanismo LEGAL e DEMOCRÁTICO do Impeachment existe precisamente para contemplar a excepcionalidade de que um governo eleito legitimamente venha a perder essa legitimidade, e, por conseguinte, sua capacidade e seu DIREITO de governar, em virtude de atos que firam a RESPONSABILIDADE de mandatário, conforme devida tipificação.

E para que ninguém pense que minha opinião é formada pela “mídia golpista” (felizmente aprendi muito cedo a pensar por conta própria), segue, citada, a Letra da Lei:

“Constituição da República Federativa do Brasil
Título IV – Da Organização dos Poderes
Capítulo II – Poder Executivo
Seção III – Da Responsabilidade do Presidente da República
Art. 85. São crimes de responsabilidade os atos do Presidente da República que atentem contra a Constituição Federal e, especialmente, contra:
V - a probidade na administração;
VI - a lei orçamentária;
Parágrafo único. Esses crimes serão definidos em lei especial, que estabelecerá as normas de processo e julgamento.”

A Lei especial que regulamenta esse dispositivo constitucional é a Lei 1.079. Eis o que diz a Lei sobre os crimes de responsabilidade com relação à probidade na administração e à lei orçamentária:

“Art. 9º São crimes de responsabilidade contra a probidade na administração:
3 - não tornar efetiva a responsabilidade dos seus subordinados, quando manifesta em delitos funcionais ou na prática de atos contrários à Constituição ;
7 - proceder de modo incompatível com a dignidade, a honra e o decôro do cargo.

Art. 10 º. São crimes de responsabilidade contra a lei orçamentária:
4 - Infringir, patentemente, e de qualquer modo, dispositivo da lei orçamentária.
6 - ordenar ou autorizar a abertura de crédito em desacordo com os limites estabelecidos pelo Senado Federal, sem fundamento na lei orçamentária ou na de crédito adicional ou com inobservância de prescrição legal;”

Cito apenas os incisos mencionados no pedido de Impeachment em curso, para não ser demasiado extensa, mas é facílimo encontrar essas Leis em versão integral na internet. Para quem tiver curiosidade de conhecer melhor os fatos desse processo, acentuo que há outros dispositivos legais mencionados no pedido de Impeachment protocolado por Hélio Bicudo, Miguel Reale Jr. e Janaína Pascoal, como a Lei de Responsabilidade Fiscal. É fácil encontrar a íntegra do texto na internet (também sugiro que se assista à entrevista de Hélio Bicudo ao Roda Viva, da TV Cultura, que até onde me consta ainda não foi associada à “mídia golpista”: https://www.youtube.com/watch?v=LsDB9fCqGaQ).

Com relação aos crimes contra a lei orçamentária, assunto complexo e de difícil assimilação pela população em geral, eu super recomendo o vídeo que anexei a esse post. Mesmo sendo programa da “mídia golpista” (é Globo News), trata-se de uma entrevista com um procurador da República, bastante técnica, ponderada e esclarecedora. Os fatos com relação à irresponsabilidade do Governo Dilma são tão evidentes, que qualquer tentativa de contraditá-los é, na melhor das hipóteses, wishful thinking, e, na pior, má fé e manipulação da realidade. Aliás, os fatos são tão contundentes que a única defesa do Governo Dilma com relação a seus crimes é tentar incriminar governos anteriores e banalizar sua irresponsabilidade. Ah! O Governo também tentou usar, cinicamente, os programas sociais para justificar sua escolha por desrespeitar a Lei, omitindo o FATO de que a dotação orçamentária dos programas sociais explodiu em 2014, ano da reeleição, ainda que não houvesse lastro para sustentá-los, e voltou a encolher em 2015. Adoraria ouvir uma boa explicação para esse estica-encolhe das verbas dos programas sociais, sintonizado com o calendário eleitoral.

No que se refere ao crime de responsabilidade por probidade na administração, aí, sinceramente, não há mesmo o que discutir. A Globo e a Veja não inventaram desvios de bilhões de reais só da Petrobras, não criaram a negociata de Pasadena, nem fizeram doações milionárias para as campanhas de Lula e Dilma com dinheiro de propina. Quem está revelando tudo isso é a Justiça, é o Ministério Público, é a Polícia Federal, e são os próprios parceiros de crime do PT (políticos e empresários). Há não apenas depoimentos, mas documentos, e a materialidade do dinheiro em si que comprovam o fato de que temos hoje uma quadrilha instalada na Esplanada dos Ministérios. E olhe que ainda nem começamos a arranhar o setor de Energia Elétrica e os empréstimos milionários do BNDES! Se tudo o que vem sendo revelado pela Lava-Jato não é suficiente para caracterizar a “quebra de decôro” da presidente da República, então, estamos lidando com padrões morais de uma elasticidade para além da minha capacidade de cognição.
Na minha perspectiva, faz tempo que Dilma perdeu qualquer condição moral – e política -- de governar este país. Se ela tivesse um mínimo de dignidade, já teria renunciado.

E pra finalizar, voltando ao início desse texto. Dilma perdeu a legitimidade do seu mandato ainda no final de 2014, quando começou a ficar evidente que ela havia mentido da maneira mais deslavada para assegurar sua reeleição. Por dever de ofício, assisti a absolutamente TODOS os programas eleitorais de Dilma, e acompanhei o dia a dia do discurso de campanha da presidente. A desfaçatez dela me surpreendeu até o último momento. Em mais de vinte anos acompanhando de perto cada eleição nesse país, nunca vi tanta mentira sair “da boca” de um único candidato. O meu maior desejo era ver a chapa Dilma-Temer cassada por estelionato eleitoral. Para mim esse é um crime tão grave quanto os bilhões desviados das nossas estatais. Dilma foi reeleita abusando da boa-fé dos eleitores. Aliás, não é por outra razão que ela está amargando índices inéditos de impopularidade.
Por vários meses defendi com veemência o afastamento da presidente por cassação de mandato no TSE. E continuo achando que essa seria a melhor solução para o país. Seria o caminho mais legítimo inclusive... devolver a “palavra” ao povo, deixar que os cidadãos brasileiros fizessem nova escolha, que poderia, inclusive recair sobre o PT. Mas, dessa vez, uma escolha feita à luz da Verdade. Ocorre que recentemente avolumaram-se provas de que foi cometido crime eleitoral gravíssimo. A riquíssima campanha da presidente Dilma foi financiada pelo dinheiro roubado da Petrobras. Mais dia menos dia, a chapa será efetivamente cassada. Porém, já não temos mais tempo. Vivemos uma situação de total desgoverno. Ainda que este processo de Impeachment não resulte no afastamento da presidente, resta o fato inegável de que ela não tem nenhuma condição de governar. Aliás, nem condição política, nem emocional, nem intelectual. Não consigo nem imaginar o que seria do Brasil se o Impeachment não fosse aprovado... um governo desmoralizado, loteado entre os piores bandidos da política nacional, determinado a pôr um final na atuação da Lava-Jato, com uma crise financeira agravada pela sangria de dinheiro para pagar os votos contrários, e com uma crise econômica acentuada pela retomada da política de incentivo ao crédito que nos levou ao buraco.



Felizmente, a debandada do PP, no dia de ontem, sugere que o Impeachment terá, sim um desfecho desfavorável para a presidente Dilma. Na hora em que vi o PP abrindo mão de um ministério bilionário como é o da Saúde, e ouvi Romero Jucá criticando a presidente, pensei: eita, se os ratos profissionais estão abandonando o barco, é porque tá fazendo muita água, não tem mais salvação. 
Pior é que, sinceramente, não teremos muito o que comemorar. Receberemos um país destruído. Os prejuízos econômicos, fiscais, políticos e morais gerados pelo PT nos últimos anos levarão muito tempo para serem recuperados. Minha esperança é que de alguma maneira saibamos fazer dessa crise sem precedentes, uma oportunidade para encontrarmos um novo caminho para o Brasil. Um caminho que nos permita superar a dicotomia falaciosa de que ou temos Justiça Social, ou temos Integridade. Que saibamos aprender a lição que o PT está nos ensinando: sem Seriedade e sem compromisso Republicano, qualquer avanço social é temporário, ou ilusório.

Não vai ter golpe. Vai ter Impeachment!


13/4/16

Creio entender razoavelmente bem as motivações daqueles que têm se posicionado contra o Impeachment da presidente Dilma. E refiro-me aqui às pessoas de Bem, inteligentes, esclarecidas e íntegras (obviamente não estou aludindo aos criminosos instalados em cargos públicos, nem àqueles abancados em instituições que vêm recebendo graciosa e abundantemente o dinheiro do contribuinte, os quais, por razões óbvias devem estar dispostos a matar ou morrer para não perderem os privilégios, facilidades, e a grana pesada com que vêm se locupletando há 13 anos). Entendo e uso de todo o meu bom-senso e de minha capacidade de ponderação para respeitar os posicionamentos de gente que sei ser muito séria. Reconheço que comungamos do mesmo desejo de ver o Brasil melhorar e, eventualmente, se tornar o país Justo e Decente com que sonhamos e pelo qual lutamos desde a mais tenra juventude. É nesse desejo comum que encontro o caminho para exercer minha empatia e respeitar o princípio tão democrático da Liberdade de Expressão.
No entanto, confesso que me espanta a puerilidade da argumentação em torno do “golpe”. Que o Governo Dilma e o PT encontrem nesse discurso esquemático e falacioso sua arma de resistência eu até compreendo. Afinal, faltam FATOS para contestar o MÉRITO das diversas acusações que pesam sobre as gestões petistas e seus expoentes máximos -- como mínimos também. O cardápio de erros e de crimes cometidos ao longo dos governos Lula e Dilma é tão amplo, que o cidadão tem ampla possibilidade de escolha para criticar, e razões de toda natureza para indignar-se.
Voltemos à questão do “golpe”. Passei os últimos dias lendo argumentos contra o Golpe e a favor do Impeachment, porque queria me pronunciar com mais propriedade. Li textos de coxinhas e mortadelas (embora esse epíteto pareça pouco adequado à elite intelectual e econômica de esquerda...). O que me saltou aos olhos (além da intransigência mútua), foi a total incoerência do argumento de que um processo de Impeachment devidamente fundamentado na Constituição, e na Lei 1.079, chancelado e monitorado pelo Supremo Tribunal Federal (cuja maioria de Ministros, diga-se de passagem, foi indicada pelos referidos presidentes petistas), seja chamado, com tamanha leviandade, de “golpe”.
Impeachment não é ruptura da Democracia, mas um de seus legítimos instrumentos!
É claro que deve ser um instrumento utilizado excepcionalmente. Por isso mesmo, dos 132 pedidos de Impeachment protocolados no Congresso Nacional desde o governo Collor (vários dos quais de autoria do PT), apenas 2 tiveram andamento. O marco legal da Democracia brasileira prevê que qualquer cidadão possa entrar com um pedido de Impedimento contra seu presidente, se entender que ele incorreu em crime de responsabilidade com relação a alguns itens (Art. 85 da CF), dentre os quais estão especificados: “a probidade na administração” e “a lei orçamentária”.
O processo de Impeachment que tirou o presidente Fernando Collor do Poder em 1992, utilizou-se desse mecanismo constitucional, fazendo referência ao Artigo 9º da Lei 1.079, que regulamenta o rito do Impeachment. Naquele caso, a fundamentação do pedido, aprovado pela Câmara em setembro daquele ano, foi a “falta de decôro do presidente para o exercício do cargo”. Para quem não se lembra exatamente dos fatos, uma CPI havia acusado o ex-presidente de receber cerca de 6 milhões de dólares de esquemas ilegais, operados por PC Farias (um troco diante dos bilhões em que anda só a conta da Petrobras). Observe-se que entre a primeira denúncia, apresentada por Pedro Collor, e o acolhimento do pedido de Impeachment pela Câmara, decorreram apenas 4 meses. Por sua vez, os indícios apresentados pelo próprio Ministério Público eram tão falhos, que ao ir para julgamento pelo STF, a acusação não conseguiu se sustentar, e Collor, como todos sabemos, foi absolvido. Outro detalhe do processo de Impeachment que muita gente parece interessada em esquecer: Ibsen Pinheiro, que presidia a Câmara dos Deputados à época, foi cassado dois anos depois, por envolvimento no escândalo dos Anões do Orçamento. E uma curiosidade ilustrativa: o dono do voto 342 a favor do Impeachment, justo aquele que definiu a votação e nos permitiu comemorar nas ruas, havia oferecido um jantar de apoio a Collor poucos dias antes da votação, e logo depois também teve seu mandato cassado.
Não me recordo de ter visto ninguém que hoje chama o processo de Impeachment de “golpe” defendendo a permanência de Collor no Poder em nome da Democracia....
O discurso do “golpe” até foi usado por Collor, porém não colou (perdão pelo trocadilho involuntário). E não colou simplesmente porque o processo foi legítimo e democrático, tão legítimo e democrático como o que vivenciamos neste momento. O processo de Impeachment é político?! Claro que é! Tem fundamentação legal, é legítimo E tem um claro componente político. Teve em 1992, tem agora e terá todas as vezes em que for acionado e tiver andamento. Se não fosse político, a Constituição e a Lei que o regulamenta não atribuiriam ao Congresso Nacional o papel de Juiz!
Qualquer processo de Impeachment só caminha quando se reúnem condições políticas para tanto. Essas condições foram criadas pelo próprio Governo Collor em 1992, e foram criadas de maneira contundente pelo Governo Dilma. Foi Dilma quem escolheu mentir deslavadamente para o eleitorado brasileiro em 2014, foi a presidente que tomou decisões econômicas desastrosas, que levaram a economia brasileira a regredir a patamares anteriores a 2013 (com perspectiva de recuperação apenas em 2021!), foi ela quem gerou a crise que por pouco não acaba com a Petrobras, foram suas escolhas que geraram a inflação e a recessão que estão jogando a “nova classe C” de volta à classe D. Foi a presidente Dilma quem decidiu ser no mínimo leniente com a roubalheira generalizada nas nossas estatais (ainda estou lhe conferindo o benefício da dúvida...). Portanto, foram suas ESCOLHAS que solaparam as bases da confiança da população no seu governo, em primeiríssimo lugar. Para piorar sua situação, decidiu ferir da maneira mais acintosa a Lei de Responsabilidade Fiscal, maquiando as contas públicas e recorrendo a mecanismos claramente tipificados como crimes de responsabilidade.
Logo, o Impeachment ora em curso é um PROCESSO perfeitamente legal (inclusive, a presidente tem a possibilidade real de ter o pedido de afastamento recusado), mas é, sobretudo, LEGÍTIMO, pois encontra respaldo no SENTIMENTO da grande maioria da população brasileira, que simplesmente NÃO CONFIA mais no seu governo. Uma crise de confiança do tamanho da que estamos vivendo é seríssima, e é, ela sim, perigosa para a Democracia.
Este é o momento em que o discurso do “golpismo” evocaria a “manipulação” da mídia conservadora, direitista, fascista. Aí eu me remeto à minha própria memória daqueles históricos dias de 1992. Eu fazia parte do Movimento Estudantil e me lembro de forma cristalina, como, num esforço de reflexão honesta, reconhecíamos, apenas entre nós, e à boca pequena, que “sem a Rede Globo” não teria havido o Impeachment de Collor. Pragmaticamente aceitávamos que o “monstro manipulador” tinha nos dado uma “mãozinha” estratégica. E intimamente nos alegrávamos com o fato de que, pelo menos naquele episódio, os interesses da “mídia fascista” coincidiam com os nossos. O que terá mudado exatamente de lá pra cá, além do fato de que antes o PT era Oposição e agora está abancado no Poder (como se fosse o quintal de sua casa, inclusive)?
Para fechar essa longuíssima reflexão, quero dizer que essa discussão jurídica sobre as tecnicalidades do pedido de Impeachment acolhido pela Câmara dos Deputados acaba por ser pouco relevante no processo em curso. Sempre haverá pareceres jurídicos muitíssimo bem fundamentados tanto para defender, como para atacar essa formulação específica do pedido de Impedimento (assinado por um petista histórico e respeitável como Hélio Bicudo). Lei não é matemática. Essa discussão seria infindável. As questões que deveríamos nos fazer para definir nosso posicionamento contra ou a favor do Impeachment são outras. Que país nós desejamos Ser? Que valores são mais importantes para nós? Qual é o recado que queremos dar para os políticos desse país? Já aceitamos mesmo a máxima de que todos roubam e não temos outra alternativa a não ser aceitarmos a corrupção generalizada (e nesse caso cada um escolhe o que considera ser o mal menor)? Acreditamos em algum valor mais elevado que o combate à Impunidade e à Irresponsabilidade dos gestores públicos?
O discurso do “golpismo” quer fazer parecer que os que estão lutando pela saída do PT do Poder também apoiam os criminosos das outras legendas. Isso simplesmente não é verdade. Como anda circulando nas redes, o cidadão comum, farto do cinismo e da roubalheira acintosa, não tem político de estimação. Não conheço ninguém que apoia o Impeachment de Dilma e está contente com o fato de ser Michel Temer a assumir a Presidência da República. Pelo contrário, vejo as pessoas preocupadas e dispostas a permanecerem vigilantes com o desenrolar dos fatos na sequência de um eventual Impeachment. Todos que eu vejo apoiando o Impeachment sabem muito bem que Eduardo Cunha e Renan Calheiros são criminosos de pedigree, e se sentem profundamente incomodados com o fato de essas figuras estarem no comando das duas Casas do Congresso. Porém, como diz minha irmã, você vai deixar de prestar queixa de um crime na delegacia porque você sabe que o delegado é corrupto? No momento da sua necessidade como cidadão, o delegado é um representante do Estado de Direito. Você presta a sua queixa, espera que o delegado cumpra sua função e prenda o bandido, e, se você for um cidadão comprometido com sua sociedade, dispondo de indícios consistentes, você pode e deve agir para que o sujeito que desempenha o papel de Autoridade sem ter condições morais para tanto venha a ser investigado e destituído de suas funções.
Espera-se que a seu tempo Cunha e Renan sejam compelidos a responder por seus crimes. Só que a gente caminha dando um passo de cada vez. O passo da vez é a saída da quadrilha que está instalada na Esplanada dos Ministérios. Como eu gostaria que essa quadrilha vestisse outras cores! Teria me poupado muitas lágrimas de desilusão. Infelizmente, a realidade costuma ser cruel. A quadrilha do momento se veste de vermelho e leva uma estrela no peito. A mesma estrela que durante décadas me fez alimentar a Esperança de um Brasil mais Justo e mais Decente.

Reflexões de um suposto coxinha (reproduzindo)

4/4/16

Me senti representada em cada palavra desse texto, que recebi pelo Whatsapp como sendo de autoria de Artur Xexeo. Vale a pena a leitura, especialmente para quem, como eu, já acreditou no sonho (ilusão!) petista.

"Reflexões de um suposto coxinha

Ando sensível. Acho que já contei isso aqui. Choro à toa. Antes era com comercial de margarina, cenas de novela, trechos do filme. Agora, é lendo jornal. Cada notícia da Lava-Jato, de início, me enche de indignação. Em seguida, fico triste. É aí que choro. Ando tendo vontade de chorar também em discussões com amigos. Gente que tempos atrás dividia comigo a mesma ideologia hoje se comporta como inimiga. Ou sou eu o inimigo? De qualquer maneira, num mundo que derrubava muros, de repente, um muro foi erguido para me separar desses amigos. Tento explicar como vejo o trabalho de Sergio Moro e nunca consigo terminar o raciocínio. No meio da discussão, me emociono, fico com vontade de chorar e prefiro interromper o pensamento. “Coxinha”, me xingam nas redes sociais. Bem, se o mundo está obrigatoriamente dividido entre coxinhas e petralhas, não tenho como fugir: sou coxinha!

Leio na internet que “coxinha” é uma gíria paulista cujo significado se aproxima muito do ultrapassado “mauricinho”. Mas, desde a reeleição de Dilma, esse conceito se ampliou. Serviu para definir de forma pejorativa os eleitores de Aécio Neves. Seriam todos arrumadinhos, malhadinhos, riquinhos e votavam em seu modelo. Isso não tem nada a ver comigo. Mas, nesta briga de agora, estou do lado que é contra Lula, logo sou contra os petralhas, logo sou coxinha.

Gostaria de falar em nome da democracia. Mas não posso. A democracia agora é direito exclusivo dos meus amigos que estão do outro lado do muro. Só eles podem falar em nome dela. Então, como coxinha assumido, deixo uma pergunta. Vocês acharam muito normal o ex-presidente Lula incentivar os sindicalistas para os quais discursou esta semana a irem mostrar ao juiz Sergio Moro o mal que a Operação Lava-Jato faz à economia brasileira? Vocês acreditam sinceramente nisso? O que a Operação Lava-Jato faz? Caça corruptos pelo país. Não importa se são pobres ou ricos. Não importa se são poderosos. Não era isso o que todos queríamos, quando estávamos todos do mesmo lado, quando ainda não havia um muro nos separando, e fomos às ruas pedir Diretas Já? Não era no que pensávamos quando voltamos às ruas para gritar Fora Collor? E, principalmente, não era nisso que acreditávamos quando votamos em Lula para presidente uma, duas, três, quatro, cinco vezes!!! Não era o Lula quem ia acabar com a corrupção? Ele deixou essa tarefa pro Sergio Moro porque quis.

Como, do lado de cá do muro, me decepcionei com o ex-líder operário, o lado de lá deu pra dizer que sou de direita. Se for verdade, está aí mais um motivo para eu estar com raiva de Lula. Foi ele quem me levou pra direita. Confesso que tenho dificuldades de discutir com qualquer petralha que não se irrita quando Lula diz se identificar com quem faz compras na Rua 25 de Março. Vem cá, já faz tempo que os ternos de Lula são feitos pelo estilista Ricardo Almeida. Será que Ricardo Almeida abriu uma lojinha na rua de comércio popular de São Paulo? Por mim, Lula pode se vestir com o estilista que quiser. Mas ele tem que admitir que o discurso da 25 de Março ficou fora do contexto. A gente não era contra discursos demagógicos? O que mudou?

Meus amigos petralhas dizem que é muito perigoso tornar Sergio Moro um herói. Que o Brasil não precisa de um salvador da pátria. Mas, vem cá, não foi como salvador da pátria que Lula foi convocado para voltar ao governo? Não é ele mesmo quem diz que é “a única pessoa” que pode incendiar este país? Não é ele mesmo quem diz que é a “única pessoa” que pode dar um jeito “nesses meninos” do Ministério Público? Será que o verdadeiro perigo não está do outro lado do muro? Não é lá que estão forjando um salvador da pátria?



Há muitas décadas ouço falar que as empreiteiras brasileiras participam de corrupção. Nunca foi provado. Agora, chegou um juiz do Paraná, que investigava as práticas de malfeito de um doleiro local, e, no desenrolar das investigações, botou na cadeia alguns dos homens mais poderosos do país. Enfim, apareceu alguém que levou a sério a tarefa de desvendar a corrupção que há muitos governos atrapalha o desenvolvimento do país. E, justo agora, quando a gente está chegando ao Brasil que sempre desejamos, Lula e seus soldados querem limites para a investigação. Pensando bem, rejeito a acusação de ser coxinha, rejeito ser enquadrado na direita, rejeito o xingamento de antidemocrata, só porque apoio o juiz Sergio Moro e a Operação Lava-Jato. Coxinha é o Lula que se veste com Ricardo Almeida e mantém uma adega de razoáveis proporções no sítio de Atibaia. E, para encerrar, roubo dos petralhas sua palavra de ordem: sinto muito, mas não vai ter golpe. Sergio Moro vai ficar."

Estou em construção


3/4/16

Linda e sábia mensagem do Papa Francisco. Vale ler com o coração e tentar incorporar como práticas cotidianas, independentemente da Fé que se professe (ou não...). Felicidade e Paz Interior são prováveis consequências...

"Durante a nossa vida causamos transtornos na
vida de muitas pessoas,
porque somos imperfeitos.

Nas esquinas da vida, pronunciamos palavras inadequadas,
falamos sem necessidade,
incomodamos.

Nas relações mais próximas, agredimos sem intenção ou intencionalmente.
Mas agredimos.

Não respeitamos o
tempo do outro,
a história do outro.

Parece que o mundo gira
em torno dos nossos desejos
e o outro é apenas
um detalhe.

E, assim, vamos causando transtornos.

Esses tantos transtornos mostram que não estamos prontos, mas em construção.

Tijolo a tijolo, o templo da nossa história vai ganhando forma.

O outro também está em construção e também causa transtornos.

E, às vezes,
um tijolo cai e nos machuca.
Outras vezes,
é o cal ou o cimento que suja nosso rosto.
E quando não é um,
é outro.
E o tempo todo nós temos que nos limpar e cuidar das feridas, assim como os outros que convivem conosco
também têm de fazer.

Os erros dos outros,
os meus erros.
Os meus erros,
os erros dos outros.

Esta é uma conclusão essencial:
todas as pessoas erram.
A partir dessa conclusão, chegamos a uma necessidade
humana e cristã:
o perdão.

Perdoar é cuidar das feridas e sujeiras.
É compreender que os
transtornos são muitas vezes involuntários.

Que os erros dos outros são
semelhantes aos meus erros e que,
como caminhantes de uma jornada,
é preciso olhar adiante.

Se nos preocupamos com
o que passou,
com a poeira,
com o tijolo caído,
o horizonte deixará de ser contemplado.
E será um desperdício.

O convite que faço é que você experimente a beleza
do perdão.
É um banho na alma!
Deixa leve!

Se eu errei,
se eu o magoei,
se eu o julguei mal,
desculpe-me por todos
esses transtornos…
Estou em construção!"

PAPA FRANCISCO

Nunca mais!


2/4/16

Nesse momento de ânimos tão acirrados no país, é bom a gente ter cuidado pra manter cada pingo no seu "i". Uma coisa é a gente desejar e pressionar pelo término Legal e Legítimo de um governo enredado até o pescoço no desvio de bilhões de reais dos cofres públicos (pra não falar de outros absurdos). Outra bem diferente é apoiar qualquer tipo de referência à Ditadura. 

Pelo que eu saiba, não existe registro, na História da Humanidade, de ditadura, seja de Direita, seja de Esquerda, que não tenha cerceado a Liberdade de Expressão, suprimido o Direito de Defesa das pessoas, ou torturado opositores (às vezes meramente suspeitos).
Não há nenhum benefício para a ordem social e política que mereça abrirmos mão de valores como a Liberdade, a Vida e o respeito à Integridade Física e Moral dos cidadãos.
E para que não reste dúvida a esse respeito, reproduzo trecho de depoimento de Frei Tito, à própria Justiça Militar:

"Na quarta feira, fui acordado às 8 horas, subi para a sala de interrogatórios, onde a equipe do capitão Homero me esperava.
Repetiram as mesmas perguntas do dia anterior. A cada resposta negativa, ou recebia cuteladas na cabeça, nos braços e no peito.
Neste ritmo prosseguiram até o início da noite, quando me serviram a primeira refeição naquelas 48 horas. (…)
Na quinta- feira, três policiais acordaram-me à mesma hora do dia anterior. De estômago vazio, fui para a sala de interrogatórios. Um capitão, cercado por uma equipe, voltou às mesmas perguntas.
Vai ter que falar, senão, só sai morto daqui”, gritou. Logo depois vi que isto não era apenas uma ameaça: era quase uma certeza.
Sentaram-me na “cadeira de dragão” (com chapas metálicas e fios), descarregaram choques nas mãos e na orelha esquerda. A cada descarga, eu estremecia todo, como se o organismo fosse decompor.
Da sessão de choques, passaram-me ao pau-de-arara. Mais choques, pauladas no peito e nas pernas cada vez que elas se curvavam para aliviar a dor.
Uma hora depois, com o corpo todo sangrando e todo ferido, desmaiei. Fui desamarrado e reanimado. Conduziram-me à outra sala, dizendo que passariam a carga elétrica para 230 volts a fim de que eu falasse “antes de morrer”. Não chegaram a fazê-lo.
Voltaram às perguntas, batiam em minhas mãos com palmatórias. As mãos ficaram roxas e inchadas, a ponto de não ser possível fechá-las. Novas pauladas. Era impossível saber qual parte do corpo doía mais: tudo parecia massacrado.
Mesmo que quisesse, não poderia responder às perguntas: o raciocínio não se ordenava mais. Restava apenas o desejo de perder novamente os sentidos.''
(depoimento copiado do blog de Sakamoto)

Frei Tito se enforcou poucos anos depois, durante exílio na França. Seu depoimento é um dos muitos que foram registrados. Lembro-me de que, quando universitária, fui incapaz de concluir a leitura de "Brasil: nunca mais". Não consegui suportar o horror dos relatos dos torturados. Não vai aqui nenhuma ofensa a quem, hoje, faz nossas Forças Armadas. Cada pessoa só pode ser responsabilizada por seus próprios atos. 
Confesso, inclusive, que sempre fui muito reticente com relação a processos de "caça às bruxas". Mas quando vejo manifestações como a de Bolsonaro, celebrando um regime que torturou e matou tantos de nossos compatriotas, sinto-me tentada a concordar com o argumento de que fomos muito ligeiros e talvez levianos ao virar, sem muita reflexão, essa página triste e dolorosa de nosso passado como nação. 
Só posso esperar que sejam muito poucos os que porventura venham a ecoar e apoiar tamanha insensatez....