sexta-feira, 11 de março de 2016

13 de Março: O Grito da Esperança?


Aproxima-se o domingo. Um 13 de Março que tem tudo para entrar pra História.

Pergunto-me, no entanto, o que faremos desse dia? Será esse apenas mais um momento -- como outros que já aconteceram nos últimos dois anos -- de catarse coletiva, de liberação da indignação e da raiva que tomam boa parte de nós? 
Diante do clima de profunda animosidade que se observa em todas as instâncias da vida social brasileira, inclusive nos universos virtuais, temo que esse 13 de Março seja mais um dos vários episódios que vêm nos dividindo, nos separando, nos colocando uns contra os outros, tirando nossa serenidade, nosso equilíbrio e nossa capacidade de enxergar as coisas com clareza e reagir com inteligência e sabedoria.
No meu coração, alimento, contudo, um sonho. Imagino um 13 de Março que seja: 
· menos sobre o pessimismo e mais sobre a Esperança; 
· menos sobre a raiva e mais sobre nosso Amor pelo Brasil; 
· menos sobre a desilusão e mais sobre a Determinação de superar as dificuldades, não importa que tamanho elas tenham;
· menos sobre o que fomos nos últimos anos, e mais sobre o País que Desejamos Ser daqui pra frente.

O Brasil está dividido “como nunca antes na sua História”. O próprio PT vem disseminando, desde a campanha de reeleição de Lula, o clima de medo, de raiva e de divisão do País. Pior é que todos nós, em alguma medida, acabamos por comprar esse discurso da cizânia, que alimenta, de maneira perversa, a desesperança e o pessimismo hoje reinantes entre esse povo que sempre se reconheceu na Alegria (para o bem e para o mal). 

Nunca soube que a raiva construísse nada de bom. 
Os fatos da vida são simplesmente fatos. São os sentidos que atribuímos a eles que fazem com sejam bons ou ruins para nós. De maneira objetiva, qualquer tipo de acontecimento é uma Oportunidade para decidirmos e afirmarmos aquilo que desejamos Ser (e o que Não queremos Ser também). Hoje o Brasil está tendo de se olhar no espelho como jamais foi compelido a fazê-lo. Estamos sendo confrontados com nossa própria imagem como Nação com uma crueza inédita. Ninguém há de discordar de que não estamos contentes com o que estamos contemplando no espelho. Só que de pouco vai adiantar essa constatação, se cada um de nós continuar dizendo para si mesmo que não tem nada a ver com essa imagem degradada, seja porque nunca votou no PT, seja porque votou de boa fé, ou por qualquer outra justificativa engenhosa que a mente seja capaz de elaborar. Todos e cada um de nós tem tudo a ver com o que está acontecendo no Brasil neste exato momento. E vou dar um exemplo muito simples e óbvio. Em que momento da sua vida você se preocupou com o tipo de educação ofertada às crianças e jovens que moram na favela mais próxima à sua casa? Em que momento da sua vida você fez algum gesto concreto para que pessoas que vivem na pobreza e na ignorância tivessem acesso a um sistema educacional que as preparasse para pensar por si mesmas, criticamente, e para serem donas de seus destinos, em lugar de ficarem dependendo das benesses de algum generoso governante? Outro exemplo. Você já parou pra pensar como essa cultura da transgressão à norma – que está na origem tanto das pequenas desobediências aos códigos legais e sociais como nos grandes assaltos ao bem público – faz parte do seu dia-a-dia? Quantas vezes, na última semana, você parou o seu carro na faixa de rolagem, super rapidinho, para pegar o filho na escola ou comprar uma revista na banca, atrapalhando todo o trânsito atrás de você? Quantas vezes, no último ano, você pediu a um amigo para agilizar um procedimento num órgão público, ou para furar a fila do SUS, marcando uma consulta para a sua empregada? Talvez seja esse um bom momento para pararmos de nos enganar. Em maior ou menor medida, o Brasil que temos hoje é fruto das nossas escolhas cotidianas (omissão também é escolha). 
Da forma como olho para o Brasil hoje, vejo dois caminhos à nossa frente. Nós podemos passar a próxima década entregues ao ressentimento e ao pessimismo, maldizendo Lula, Dilma e o PT por todas as – inegavelmente imensas – perdas que nos infringiram, ou podemos enxergar nessa “herança maldita” uma dura, mas importante, lição, e, principalmente, uma Oportunidade singular para passarmos o Brasil a limpo. A Operação Lava-Jato, os promotores paranaenses, o Juiz Sérgio Moro estão nos mostrando que existe uma Escolha, SIM, que não estamos condenados a ser, eternamente, o país do Jeitinho, da Impunidade e do Privilégio para os amigos. A corrupção pode ter existido até mesmo desde a chegada de Cabral, mas não precisamos e não devemos continuar sendo tolerantes com ela. Os tucanos podem ter roubado muito, e os petistas mais ainda, porém, não devemos ser tolerantes nem com uns, nem com os outros (eis mais uma falácia que agride a Inteligência e a Ética).
Lula deve ser preso, sim. E eu só posso lamentar, com profunda tristeza no coração, que a realidade que ele construiu para si mesmo na última década seja tão incongruente com as imagens do líder que fez História na luta pela Liberdade, pela Democracia e pelos Direitos dos Trabalhadores. Logicamente, Lula não deve ser preso simplesmente porque estamos indignados, decepcionados e com raiva pelos bilhões desviados dos cofres públicos no seu governo, nem pelo desastre econômico gerado pela personagem farsesca que ele deixou no comando do país. Lula deve ser preso porque escolheu o caminho da ilegalidade e do crime contra o patrimônio público, preferindo enriquecer a família, os amigos e o Partido a honrar seu próprio passado e sua História de Lutas. Do mesmo modo, Dilma deve perder o cargo com que foi investida nas urnas porque fez uma campanha suja, com dinheiro roubado dos contribuintes, e também porque se elegeu com base em grandes mentiras, que começaram a ruir ainda antes mesmo do início de seu segundo mandato. Lula deve ser preso e Dilma deve deixar o Palácio do Planalto porque doravante nos recusamos a aceitar que a corrupção seja uma fatalidade no Brasil, porque no país que desejamos Ser todos os corruptos devem ser presos, não importa sua filiação partidária, e porque não queremos mais deixar que a Mentira nos governe, nem queremos abrir mão da Ética em favor da cínica lógica de que os Fins justificam os Meios.

É a Decência que pede a prisão de um e a destituição da outra. E é nosso compromisso com a Verdade, com a Justiça, com o Brasil-que-queremos-Ser que deve levar cada manifestante às ruas nesse 13 de Março.
Desejo muito que possamos assistir a uma gigantesca manifestação, não Contra Lula ou Dilma, mas A FAVOR do nosso Futuro como país. Que esse 13 de Março seja menos sobre o PT e mais sobre o BRASIL que queremos legar para as futuras gerações.