AVISO: O MINISTÉRIO DA TOLERÂNCIA ADVERTE QUE O TEXTO ABAIXO NÃO
É RECOMENDÁVEL PARA QUEM TEM POSIÇÕES RADICAIS, À DIREITA OU À
ESQUERDA DO ESPECTRO POLÍTICO.
Somos todos seres limitados. Temos nossas imperfeições e carências
(Graças a Deus!). Não penso ser melhor nem pior do que ninguém. Ciente de
minhas limitações, faço um esforço cotidiano para ser a melhor pessoa possível,
nas minhas circunstâncias. Ao menos tento exercitar a
generosidade, a solidariedade, o respeito profundo e sincero ao outro na sua
integralidade. Acredito na Democracia e tenho sede de Justiça. Por isso mesmo,
durante quase vinte anos da minha vida, militei por um projeto de esquerda para
o país... nos meus tempos de movimento estudantil, por pouco não me filei ao
PT....
Acho que o que quero escrever aqui é um desabafo. Das minhas angústias e
tristezas com esse segundo turno tão polarizado. O primeiro desabafo é o da
minha indignação com as forças de centro desse país, que foram incapazes de se
unir em torno de uma candidatura eleitoralmente viável. A vaidade, o autismo, o
orgulho e a falta de compromisso efetivo com a coletividade – por parte de
lideranças políticas importantes -- nos precipitaram nessa beira de abismo. Não
sei se um dia conseguirei perdoá-los.
O segundo desabafo é a revelação de um desejo: como eu queria
acreditar!!!
Proclamo com toda a honestidade do meu coração: queria, neste momento, a
bênção da ignorância, ou a da credulidade dos ingênuos e idealistas, ou até a
das certezas dos desesperados! (só não quero, jamais, o cinismo dos
salafrários)
Como eu queria acreditar que o PT tem um projeto de país e não um
projeto de poder!
Como eu queria acreditar que o PT de fato representa A alternativa
democrática! Como eu queria ignorar o caderno de teses do PT, publicado
ainda no ano passado, cheio de afirmações e compromissos em claro
confronto com os princípios e fundamentos da Democracia. Como eu
queria não ter lido o programa de governo do presidenciável Fernando Haddad,
que fala em “controle social” não só da Imprensa, mas da Justiça.
Como eu queria acreditar que o PT defenderá os valores democráticos a
qualquer custo! Como eu queria me libertar do receio de que uma vez de volta ao
Poder, o PT empregue todos os meios legítimos e ilegítimos para não mais
largá-lo! Como eu queria esquecer das lições de Sun Tzu sobre o instinto de
sobrevivência e a sanha vingadora de uma fera ferida, para então poder
acreditar no argumento de que o PT não seguiria a trilha da autocracia porque
“nunca fez isso antes” (seria maravilhoso, inclusive, não ter tomado
conhecimento da entrevista de José Dirceu a El País).
Queria tanto conseguir relativizar o peso do apoio dos governos petistas
e de seus militantes e aliados a várias ditaduras de esquerda, que juntas
sacrificaram e continuam sacrificando milhões de vidas pelo planeta. Queria
esquecer o desastre humanitário da Venezuela e o apoio vergonhoso de Lula a
Hugo Chávez e Nicolás Maduro. Queria ignorar que os governos do PT investiram
mais de 50 bilhões de reais – dos contribuintes brasileiros -- em países
governados por ditadores-na-prática, simplesmente porque eram regimes “amigos”,
alinhados ideologicamente à esquerda, sem qualquer preocupação com
direitos humanos violados ou desrespeito aos valores democráticos.
Como eu queria acreditar que um governo Haddad teria compromisso com a
porta estreita do equilíbrio fiscal; acreditar que contrariando as promessas
feitas em sua própria propaganda eleitoral, de retomar, ampliando, os
programas-ícones da era Lula, para fazer o Brasil feliz de novo, o governo
Haddad abraçaria o remédio amargo da austeridade, evitando que seguíssemos para
a ruína econômica.
Como eu queria acreditar que uma consagração nas urnas não teria o
efeito simbólico de chancelar o maior escândalo de corrupção protagonizado por
um partido, na história das democracias contemporâneas. Como eu queria
acreditar que não foi o PT que institucionalizou a corrupção e quase fez dela uma
política de estado. Como eu queria esquecer que passei anos militando pelo PT
justamente com a expectativa de que ele pusesse fim à corrupção existente até
então – aquela que hoje parece até coisa de amador.
Como eu queria acreditar que Fernando Haddad, o intelectual preparado, o
doutor em filosofia, o homem elegante e equilibrado, teria força e autonomia
para governar segundo seus próprios valores e crenças pessoais, sem a
interferência de Lula e José Dirceu!
(Como eu queria esquecer que Fernando Haddad foi ministro da educação
por 7 anos, que o PT governou o país por 13 anos, e que ambos têm considerável
parcela de responsabilidade sobre o maior crime que já se cometeu contra a
memória deste país: o incêndio do Museu Nacional!)
Como eu queria acreditar que Lula não acabaria solto e a Lava-Jato não
seria sabotada, para alegria de políticos de todas as colorações -- inclusive
os de plumagem tucana, que mal começam a ser tornar a bola da vez.
Como eu queria acreditar que a violência das declarações de Bolsonaro e
mesmo a abominável-inaceitável violência física e simbólica de seus
seguidores é maior que a violência dos milhares de bilhões de
reais desviados dos cofres públicos nos 13 anos de governo do PT. Como eu
queria esquecer o contingenciamento de 131 bilhões de reais da saúde pública
nos governos Lula e Dilma e poder acreditar que o PT não tem nada a ver com a
mais grave crise enfrentada pelo SUS desde a sua criação. Como eu queria não
enxergar a relação de causalidade entre a irresponsabilidade administrativa do
PT e os milhares, quem sabe milhões de compatriotas, que independentemente de
gênero, cor ou opção sexual morreram nos corredores e filas dos nossos
hospitais públicos...
Como eu queria acreditar que o PT não tem nenhuma responsabilidade sobre
os cerca de 60 mil brasileiros que morrem por ano com a explosão da violência,
enquanto bilhões de reais da segurança pública também foram contingenciados nos
governos petistas (inclusive a verba supostamente carimbada do Fundo
Penitenciário Nacional)....
Como eu queria ter essa clareza de que o PT é muito melhor do que “ele”!
Seria tão reconfortante, tão mais leve e tão mais fácil. Afinal, é bem melhor
para a consciência de uma pessoa que procura, nas suas ações cotidianas, estar
ao lado do Bem, acreditar que neste pleito está fazendo uma opção pelos mais
nobres valores humanos, políticos e sociais. Daria até pra encher a boca e
proclamar orgulhosa que com meu voto defendo a vida, a tolerância, a
diversidade, as minorias....
Como eu queria ter essa certeza de que o PT é o único caminho que pode
nos resguardar de um mal maior, que pode nos salvar como nação e
coletividade.... ao menos eu não teria a alma tão dilacerada.
Ah, se eu conseguisse acreditar.... (suspiro profundo da alma)...
poderia dormir tranquila, cheia de certezas, e feliz comigo mesma...
(tela: Cícero Dias)
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