quarta-feira, 17 de outubro de 2018

O Brasil e sua Esfinge



A autocrítica será IMPRESCINDÍVEL para construirmos um Brasil pós-Bolsonaro. O ex-capitão do Exército precisaria cometer alguns erros graves nesses próximos 15 dias para perder essa eleição – um só não bastaria. Portanto, temos que começar a pensar e a trilhar o caminho que pode nos levar a um ponto de reequilíbrio do nosso arranjo democrático e social, ao longo e após o seu mandato. Tenho clareza de que essa é tarefa árdua, precisamente pela dificuldade dos atores políticos e intelectuais de fazerem uma reflexão honesta sobre o que está acontecendo no Brasil – não agora, mas desde 2013 pelo menos. Uma lástima que tenhamos chegado a esse segundo turno de opções tão extremadas para que finalmente se passe a fazer um esforço verdadeiro para ouvir e ENTENDER a chamada voz das ruas. O “tsunami” de que se fala nessa eleição, nada mais é do que a surpresa, o choque diante de uma realidade – i.e. de um sentimento de coletividade -- que não apenas os políticos, mas também intelectuais, analistas políticos, militantes se recusavam a enxergar. Danado é que a realidade é implacável. Por algum tempo, até por alguns anos, você pode se recusar a enxergá-la como ela de fato é, mas uma hora ela se impõe, avassaladora como um terremoto. É por isso que com alívio ouço vozes do campo da esquerda fazendo, enfim, uma reflexão sincera, humilde, desprovida de certezas e de pré-concepções. Ainda estou por ver isso acontecer também no campo do centro-direita. Espero que seja apenas uma questão de tempo. Para alguns, a eleição de Bolsonaro pode parecer o fim. Prefiro acreditar que estamos na mesma posição de Édipo diante da Esfinge: decifra-me ou te devoro. Será nossa capacidade de compreensão do que estamos vivendo agora que determinará se nos precipitamos no abismo ou nos recriamos como nação mais equilibrada, mais madura e mais justa.

(tela: Gustave Moreau)

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