De
modo geral, frustrações derivam de expectativas não preenchidas. Muito tempo
atrás, quando comecei a escrever neste blog,
acho que postei um texto sobre como a felicidade tem a ver com as expectativas
que cada um estabelece com relação à própria vida. E é claro que se você
deposita suas expectativas de felicidade em coisas difíceis de serem conquistadas,
ou que dependem muito de outras pessoas, suas possibilidades de se sentir
frustrado e infeliz são bem mais elevadas.
O
fato é que o mesmo princípio vale para os nossos relacionamentos com as pessoas.
E de todas as pessoas que podem nos frustrar, talvez sejam os nossos pais que
detêm maior potencial de nos ferir. Eu me considero uma pessoa abençoada,
porque tive e tenho uma relação bastante saudável com meus pais. Mas conheci um
número considerável de pessoas que carregam dolorosas marcas em virtude de relações
complicadas com seus pais. Inclusive, minha opinião de mera observadora do
comportamento humano é a de que as marcas e dores mais profundas são produzidas
nas pessoas exatamente por seus pais e mães, ainda que, com frequência, isso
ocorra de modo involuntário.
Sei
bem que alguns pais e mães produzem danos voluntariamente em seus filhos, e o
mundo, infelizmente, está cheio de horríveis histórias de violência e de
abandono de crianças por seus pais. Porém, quando não se trata de violência
física, nem de feridas abertas deliberadamente, tento cultivar, na minha vida,
um princípio que pode ajudar a lida com frustrações provocadas pelas pessoas
que amamos mais profundamente. É um princípio simples e óbvio, que minha irmã,
Nica, vive repetindo: não se pode pedir a uma jaqueira que dê mangas.
Nessa
última semana, passei muito tempo na cozinha com D. Ela gosta de cozinhar à
moda antiga, nada de comidas pré-fabricadas. Tenho aprendido muitas coisas com
ela, e enquanto cozinhamos, entabulamos longas conversas. Numa dessas ocasiões,
após ouvi-la falar com amargura da mãe pela enésima vez, eu lhe disse a frase
de Verônica, adaptada ao contexto americano, obviamente: não se pode pedir a
uma macieira que nos dê peras. Essa ideia simples, de que talvez sua mãe tenha
lhe dado aquilo que tinha dentro de si, e que se não deu mais, se não conseguiu
ser a mãe compreensiva, amorosa, carinhosa e liberal que D. gostaria de ter
tido, talvez fosse por falta dessas características. D. ficou olhando pra mim,
fixamente, por alguns segundos ou minutos. E
me disse: Why someone did not tell me
this before? Esse
comentário, motivado pelo desejo de sentir menos amargura nessa mulher que fui
aprendendo a admirar, surtiu um efeito surpreendente. D. parecia atônita e
admirada. Ontem, me repetiu que tem pensado muito sobre nossa conversa e que
está aprendendo a ver seu passado sob uma nova ótica.
Obviamente,
não acho que todos os problemas e traumas de todas as pessoas possam ser
resolvidas com esse princípio. Porém, por experiência própria, posso dizer que
quando conseguimos reduzir nossas expectativas e, sobretudo, quando nos
esforçamos para observar e entender quais frutos cada pessoa pode dar, dependendo
dos recursos afetivos que tenha dentro se si, nossos relacionamentos com elas
podem ficar mais leves, mais gratificantes e, às vezes, menos doloridos.
Tinha parado de acompanhar sua viagem por uns dias. Hoje aproveitei o domingo e me atualizei. Já tem muito crescimento. Que gostoso! Bjs
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