quarta-feira, 16 de maio de 2012

Confissões de uma viúva do PT (parte 2/3)


Não há nenhuma justificativa aceitável para  o modo vergonhoso como o PT vem se comportando desde que ascendeu ao poder. Nada me dá mais raiva e indignação do que o argumento: Mas corrupção sempre existiu no Brasil; Você acha que o PSDB também não roubava? Me pergunto como alguém com o mínimo de consciência cívica e republicana pode abrir a boca para dizer tal coisa?! Fico enfurecida com esse tipo de desfaçatez e de cinismo. Minha resposta educada (na verdade tenho vontade soltar um impropério): eu não passei 15 anos da minha vida acreditando que o PSDB, ou o PFL, ou o PMDB iriam mudar o modo como se faz política no Brasil! Nem eles passaram 20 anos tentando me convencer – e ao país inteiro – disso!
O pior de tudo foi ter de assistir, diversas vezes, ao então Presidente Lula ir para a televisão defender a bandalheira, a corrupção, o tráfico de influência, a promiscuidade entre o público e o privado. Por que pior? Porque Lula é o maior fenômeno da história política do Brasil. Sua popularidade não tem paralelo nem em Getúlio Vargas. Digo isso com toda convicção, inclusive como profissional de pesquisa de opinião. Lula é respeitado, admirado e amado por aquela vasta camada de compatriotas situados entre as Classes E e B. Mais ainda, tornou-se um exemplo para essas pessoas. Ele é espelho e ideal. Sua vida é uma espécie de exemplário do Brasil contemporâneo. Tal como as vidas de Santos, populares da Europa Medieval, a trajetória e o comportamento de Lula servem de inspiração para os brasileiros comuns, o chamado povão. Por isso mesmo, na hora em que tal figura emblemática vai aos meios de comunicação e avaliza a corrupção, a bandalheira, o privilégio, o tráfico de influência, pode-se imaginar as consequências em termos de cultura política, de consciência cidadã???!!! Eis um legado nefasto, com perigoso efeito cascata, que décadas de História não corrigirão. Basta abrir qualquer jornal ou revista de notícias, em qualquer dia do ano, para constatar as consequências tenebrosas da era petista.
As instituições brasileiras nunca foram um primor de ética, é verdade. Convivemos com o patrimonialismo desde que Caminha concluiu sua carta de anúncio do “descobrimento” pedindo um emprego a El Rey. Sérgio Buarque de Holanda explicou muito bem os mecanismos socioculturais do personalismo que alimenta a promiscuidade entre os interesses públicos e privados. A corrupção sempre foi endêmica no Estado brasileiro. No entanto, nunca antes na história deste país se viu tamanha desfaçatez no trato da coisa pública. Nunca antes houve tal aparelhamento das instituições. Nunca antes houve tanta descrença dos brasileiros em suas lideranças políticas (também aqui falo como profissional de pesquisa). Falta pouco para que o roubo do dinheiro público se torne legal, pois legítimo socialmente ele já vai se tornando. Afinal, se o dinheiro público vai ser mesmo roubado, não há nada demais em que ele venha parar no “meu” bolso. Tampouco parece errado que cada cidadão sonegue impostos, ou que compre DVD’s piratas, fure a fila do exame de ressonância magnética no hospital público, consiga com um médico amigo o remédio para o tratamento de câncer distribuído pelo SUS, contribua com a caixinha da cerveja da PM em troca de não ter o carro apreendido ou multado. São elas por elas. E o Brasil vai se tornando cada vez mais a terra de ninguém, a casa da mãe joana. Por que justo “eu” vou me submeter à letra da lei e às normas institucionais e republicanas, quando o filho do ex-presidente deixou de ser monitor do zoológico de São Paulo para tornar-se um empresário e pecuarista milionário, em curtíssimo espaço de tempo, e Lula assegurou que não há nada de amoral nem de errado nisso?
Tive um namorado, ex- petista como eu, que ficava indignado quando eu dizia que a Ditadura Militar -- essa última, que prendeu arbitrariamente, torturou e matou -- foi muito mais decente no trato da coisa pública. Outro dia vi confirmada minha hipótese. Li notícia sobre o destino do ex-presidentes militares. Todos morreram como cidadãos de classe média. Suas famílias nem sonham em ter uma mínima parte do considerável patrimônio acumulado por Lulinha, o fenômeno. Ou por vários outros companheiros, para me ater apenas aos petistas, caso alguém queria argumentar que “as alianças com a corja política” são necessárias à governabilidade (outro argumento que me dá vontade de voar no pescoço do sujeito). Não estou reclamando das fortunas misteriosamente acumuladas pelos Aleluias e Nascimentos da vida. Estou falando dos inúmeros petistas, que uns anos atrás estavam no chão de fábrica e hoje andam em carros importados, moram em apartamentos milionários e são “consultores” pagos a peso de ouro.

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