Não há nenhuma justificativa aceitável para o modo vergonhoso como o PT vem se comportando
desde que ascendeu ao poder. Nada me dá mais raiva e indignação do que o
argumento: Mas corrupção sempre existiu
no Brasil; Você acha que o PSDB também não roubava? Me pergunto como alguém
com o mínimo de consciência cívica e republicana pode abrir a boca para dizer
tal coisa?! Fico enfurecida com esse tipo de desfaçatez e de cinismo. Minha
resposta educada (na verdade tenho vontade soltar um impropério): eu não passei 15 anos da minha vida
acreditando que o PSDB, ou o PFL, ou o PMDB iriam mudar o modo como se faz
política no Brasil! Nem eles passaram 20 anos tentando me convencer – e ao país
inteiro – disso!
O pior de tudo foi ter de assistir, diversas vezes, ao então
Presidente Lula ir para a televisão defender a bandalheira, a corrupção, o
tráfico de influência, a promiscuidade entre o público e o privado. Por que
pior? Porque Lula é o maior fenômeno da história política do Brasil. Sua
popularidade não tem paralelo nem em Getúlio Vargas. Digo isso com toda
convicção, inclusive como profissional de pesquisa de opinião. Lula é
respeitado, admirado e amado por aquela vasta camada de compatriotas situados
entre as Classes E e B. Mais ainda, tornou-se um exemplo para essas pessoas. Ele
é espelho e ideal. Sua vida é uma espécie de exemplário do Brasil contemporâneo. Tal como as vidas de Santos,
populares da Europa Medieval, a trajetória e o comportamento de Lula servem de
inspiração para os brasileiros comuns, o chamado povão. Por isso mesmo, na hora
em que tal figura emblemática vai
aos meios de comunicação e avaliza a corrupção, a bandalheira, o privilégio, o
tráfico de influência, pode-se imaginar as consequências em termos de cultura
política, de consciência cidadã???!!! Eis um legado nefasto, com perigoso
efeito cascata, que décadas de História não corrigirão. Basta abrir qualquer
jornal ou revista de notícias, em qualquer dia do ano, para constatar as
consequências tenebrosas da era petista.
As instituições brasileiras nunca foram um primor de ética,
é verdade. Convivemos com o patrimonialismo desde que Caminha concluiu sua
carta de anúncio do “descobrimento” pedindo um emprego a El Rey. Sérgio Buarque
de Holanda explicou muito bem os mecanismos socioculturais do personalismo que
alimenta a promiscuidade entre os interesses públicos e privados. A corrupção
sempre foi endêmica no Estado brasileiro. No entanto, nunca antes na história deste país se viu tamanha desfaçatez no
trato da coisa pública. Nunca antes houve tal aparelhamento das instituições.
Nunca antes houve tanta descrença dos brasileiros em suas lideranças políticas
(também aqui falo como profissional de pesquisa). Falta pouco para que o roubo
do dinheiro público se torne legal, pois legítimo socialmente ele já vai se tornando.
Afinal, se o dinheiro público vai ser mesmo roubado, não há nada demais em que ele
venha parar no “meu” bolso. Tampouco parece errado que cada cidadão sonegue
impostos, ou que compre DVD’s piratas, fure a fila do exame de ressonância
magnética no hospital público, consiga com um médico amigo o remédio para o
tratamento de câncer distribuído pelo SUS, contribua com a caixinha da cerveja da
PM em troca de não ter o carro apreendido ou multado. São elas por elas. E o
Brasil vai se tornando cada vez mais a terra de ninguém, a casa da mãe joana.
Por que justo “eu” vou me submeter à letra da lei e às normas institucionais e
republicanas, quando o filho do ex-presidente deixou de ser monitor do
zoológico de São Paulo para tornar-se um empresário e pecuarista milionário, em
curtíssimo espaço de tempo, e Lula assegurou que não há nada de amoral nem de
errado nisso?
Tive um namorado, ex- petista como eu, que ficava
indignado quando eu dizia que a Ditadura Militar -- essa última, que prendeu
arbitrariamente, torturou e matou -- foi muito mais decente no trato da coisa
pública. Outro dia vi confirmada minha hipótese. Li notícia sobre o destino do
ex-presidentes militares. Todos morreram como cidadãos de classe média. Suas
famílias nem sonham em ter uma mínima parte do considerável patrimônio
acumulado por Lulinha, o fenômeno. Ou por vários outros companheiros, para me ater apenas aos petistas, caso alguém queria
argumentar que “as alianças com a corja política” são necessárias à
governabilidade (outro argumento que me dá vontade de voar no pescoço do
sujeito). Não estou reclamando das fortunas misteriosamente acumuladas pelos
Aleluias e Nascimentos da vida. Estou falando dos inúmeros petistas, que uns anos atrás estavam no chão de fábrica e hoje
andam em carros importados, moram em apartamentos milionários e são “consultores”
pagos a peso de ouro.
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