Meu primeiro e mais importante critério para avaliar a
qualidade de uma companhia aérea é a aterrissagem. Considero boas aterrissagens
aquelas em que o avião faz o procedimento de descida suavemente, poupando os
passageiros de níveis desconfortáveis de pressão nos tímpanos, e que prescindem
de desaceleradas bruscas ainda no ar, assim como de freadas violentas depois de
tocar o solo. Esse momento de tocar o solo, então, é crucial. Deve dar-se de
modo sutil, sem sustos e com tal delicadeza que se o passageiro estiver
distraído, nem perceba já estar em terra firme. Portanto, minha preferência por
uma companhia aérea é diretamente proporcional à relação entre o número de boas
aterrissagens sobre o total de vôos efetuados com a dita cuja. É bem verdade
que preço e trajeto são critérios de uma objetividade frequentemente incontornável.
Recentemente, tive de fazer uma sequência de viagens a
trabalho. Meu contratante me pôs em alguns vôos da Trip. Os restantes eram Gol.
Confesso: ao ver o roteiro, torci meu nariz por causa da Trip. Nunca havia
viajado nessa companhia, porém, experiências desagradáveis de aterrissagem com
companhias “menores”, me deixaram cabreira. Aqui devo acrescentar que, no meu
raciocínio, más aterrissagens são indício de pouca perícia dos pilotos, daí
porque constituem meu critério fundamental de qualidade. Afinal, nada deveria
ser mais importante que minha segurança. Muito bem. Eis que viajar com a Trip
revelou-se gratíssima surpresa! As quatro aterrissagens foram absolutamente
impecáveis. Além disso, pasmei com o serviço de bordo: ainda servem lanches de
verdade! Nada de barrinhas de cereal, de amendoim ou de infames pacotinhos com
duas rosquinhas de leite, chocolate ou coco. Para completar, os comissários de
bordo são simpaticíssimos, muito solícitos. E o uniforme é adorável -- para
alguém de sensibilidade nostálgica como eu. As aeromoças parecem saídas de uma
fotografia dos anos 50 ou 60. Com direito a chapeuzinho de dobradura e tudo.
Uma graça.
Em contrapartida, tive surpresas desagradáveis nos trechos
voados com a Gol. As aterrissagens foram mais ou menos. Nada preocupante, mas
tampouco foram um primor. Mais desagradável ainda foi descobrir que não existe
mais serviço de bordo disponível em alguns vôos da companhia (justamente os
mais longos, segundo notícia lida há pouco no jornal), a menos que o passageiro
esteja disposto a desembolsar 12 reais por um sanduíche, ou 5 reais por
qualquer bebida, seja café, refrigerante ou chocolate. Confesso não ter
verificado o preço da água. Ainda assim, advirto os incautos haver poucas
opções de refrigerante, e nenhuma de suco. Pelo menos no meu vôo foi assim. Tenho
testemunhas. Talvez esse seja mesmo o futuro da aviação brasileira. Nos Estados
Unidos, há tempos os vôos nacionais cobram pelo cafezinho ou refrigerante. Só
acho que, sendo novidade no Brasil, o passageiro deveria ser previamente
informado de que no vôo X não será tratado sequer a pão e água. Assim, os
previdentes podem municiar-se de suas próprias garrafinhas d’água, de maçãs ou de
barrinhas de cereais. Aliás, aviso aos passageiros da Webjet que em todos os
vôos da companhia o serviço de bordo é pago, na lata e em dinheiro vivo, muito
embora a comissária anuncie em voz melodiosa que a companhia tem o prazer de
“oferecer” sanduíches, noodles e etc
(os preços são ligeiramente mais módicos frente aos da Gol; pode-se economizar
um real no refrigerante, por exemplo).
Milagrosamente, a Anac baixou há pouco medida muito
favorável ao consumidor, determinando que as companhias aéreas informem a taxa
de atrasos de seus vôos, de modo que no momento da compra do bilhete o
passageiro possa levar esse critério em consideração. Excelente. Melhor ainda
seria obrigar as companhias a informarem o tipo de serviço de bordo que será
disponibilizado em cada vôo: lanche frio, barrinha de cereais, bebida –
incluídos no valor da passagem, pois não se trata de nada gratuito --, ou
apenas comes e bebes pagos à parte. Eis algo que o passageiro merece saber com
antecedência e, quiçá, usar como mais um critério na ora de optar por tal ou
qual vôo.
Além da sugestão acima, deixo registrada uma reflexão um
tanto gasta, e nem por isso menos útil: pré-julgamentos são péssimos
companheiros de boas experiências. Afinal, voar Trip acabou sendo uma doce
surpresa.
Nenhum comentário:
Postar um comentário