domingo, 27 de maio de 2012

Surpresas no Ar


Meu primeiro e mais importante critério para avaliar a qualidade de uma companhia aérea é a aterrissagem. Considero boas aterrissagens aquelas em que o avião faz o procedimento de descida suavemente, poupando os passageiros de níveis desconfortáveis de pressão nos tímpanos, e que prescindem de desaceleradas bruscas ainda no ar, assim como de freadas violentas depois de tocar o solo. Esse momento de tocar o solo, então, é crucial. Deve dar-se de modo sutil, sem sustos e com tal delicadeza que se o passageiro estiver distraído, nem perceba já estar em terra firme. Portanto, minha preferência por uma companhia aérea é diretamente proporcional à relação entre o número de boas aterrissagens sobre o total de vôos efetuados com a dita cuja. É bem verdade que preço e trajeto são critérios de uma objetividade frequentemente incontornável.
Recentemente, tive de fazer uma sequência de viagens a trabalho. Meu contratante me pôs em alguns vôos da Trip. Os restantes eram Gol. Confesso: ao ver o roteiro, torci meu nariz por causa da Trip. Nunca havia viajado nessa companhia, porém, experiências desagradáveis de aterrissagem com companhias “menores”, me deixaram cabreira. Aqui devo acrescentar que, no meu raciocínio, más aterrissagens são indício de pouca perícia dos pilotos, daí porque constituem meu critério fundamental de qualidade. Afinal, nada deveria ser mais importante que minha segurança. Muito bem. Eis que viajar com a Trip revelou-se gratíssima surpresa! As quatro aterrissagens foram absolutamente impecáveis. Além disso, pasmei com o serviço de bordo: ainda servem lanches de verdade! Nada de barrinhas de cereal, de amendoim ou de infames pacotinhos com duas rosquinhas de leite, chocolate ou coco. Para completar, os comissários de bordo são simpaticíssimos, muito solícitos. E o uniforme é adorável -- para alguém de sensibilidade nostálgica como eu. As aeromoças parecem saídas de uma fotografia dos anos 50 ou 60. Com direito a chapeuzinho de dobradura e tudo. Uma graça.
Em contrapartida, tive surpresas desagradáveis nos trechos voados com a Gol. As aterrissagens foram mais ou menos. Nada preocupante, mas tampouco foram um primor. Mais desagradável ainda foi descobrir que não existe mais serviço de bordo disponível em alguns vôos da companhia (justamente os mais longos, segundo notícia lida há pouco no jornal), a menos que o passageiro esteja disposto a desembolsar 12 reais por um sanduíche, ou 5 reais por qualquer bebida, seja café, refrigerante ou chocolate. Confesso não ter verificado o preço da água. Ainda assim, advirto os incautos haver poucas opções de refrigerante, e nenhuma de suco. Pelo menos no meu vôo foi assim. Tenho testemunhas. Talvez esse seja mesmo o futuro da aviação brasileira. Nos Estados Unidos, há tempos os vôos nacionais cobram pelo cafezinho ou refrigerante. Só acho que, sendo novidade no Brasil, o passageiro deveria ser previamente informado de que no vôo X não será tratado sequer a pão e água. Assim, os previdentes podem municiar-se de suas próprias garrafinhas d’água, de maçãs ou de barrinhas de cereais. Aliás, aviso aos passageiros da Webjet que em todos os vôos da companhia o serviço de bordo é pago, na lata e em dinheiro vivo, muito embora a comissária anuncie em voz melodiosa que a companhia tem o prazer de “oferecer” sanduíches, noodles e etc (os preços são ligeiramente mais módicos frente aos da Gol; pode-se economizar um real no refrigerante, por exemplo).
Milagrosamente, a Anac baixou há pouco medida muito favorável ao consumidor, determinando que as companhias aéreas informem a taxa de atrasos de seus vôos, de modo que no momento da compra do bilhete o passageiro possa levar esse critério em consideração. Excelente. Melhor ainda seria obrigar as companhias a informarem o tipo de serviço de bordo que será disponibilizado em cada vôo: lanche frio, barrinha de cereais, bebida – incluídos no valor da passagem, pois não se trata de nada gratuito --, ou apenas comes e bebes pagos à parte. Eis algo que o passageiro merece saber com antecedência e, quiçá, usar como mais um critério na ora de optar por tal ou qual vôo.
Além da sugestão acima, deixo registrada uma reflexão um tanto gasta, e nem por isso menos útil: pré-julgamentos são péssimos companheiros de boas experiências. Afinal, voar Trip acabou sendo uma doce surpresa.

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