A agenda cultural do Recife sofreu melhoras substanciais e
graduais ao longo da última década. Atualmente, nossa capital conta, ao longo
de todo o ano, com eventos artísticos da mais alta qualidade (digo em termos de
programação; infelizmente, nossa logística ainda deixa bastante a desejar), e
atendendo a todos os gostos. Temos vários festivais de teatro e de música,
festivais de cinema, boas exposições, já nos inserimos, inclusive, nos roteiros
das mais aquilatadas atrações musicais nacionais e internacionais. Contamos com
boas opções de cinema cult ou de
arte. Enfim, nossa oferta cultural é variada, qualificada e constante. Creio
poder afirmar, sem perigo de soar como meramente bairrista, que Recife é a
capital melhor servida em termos culturais no Norte-Nordeste. Talvez pudéssemos
até disputar o posto de terceira capital cultural do país com Belo Horizonte e
Porto Alegre. Algo a ser verificado.
O cenário é, portanto, alvissareiro. Falta-nos, no entanto,
um elemento importante. Ainda não temos uma sala de concertos apropriada para
abrigar apresentações de nossa Orquestra Sinfônica (OSR), ou para receber
orquestras visitantes. Todas as chamadas capitais culturais do mundo têm uma
sala decente destinada à realização de concertos. Esta pode parecer uma demanda
elitista, mas não é. Ou por outra, mesmo se for elitista, justifica-se pela
importância da música clássica de per si.
Do ponto de vista da política cultural, logo, do poder público, faz tanto
sentido preterir nações de maracatu, quanto orquestras sinfônicas. Ou seja,
nenhum. Aos olhos do Estado, toda forma de manifestação cultural deve ter o
mesmo valor. Como regra geral, orquestras sinfônicas precisam da atuação do
Estado para subsistirem na condição de patrimônio cultural de uma cidade ou
país. Necessitam, igualmente, de uma gestão eficaz e profissional, que lhes
permita alcançarem um padrão de excelência internacional. A OSESP já conseguiu
essa profissionalização, e a Sinfônica Brasileira, sediada no Rio de Janeiro,
felizmente vai seguindo o mesmo caminho. Antes tarde do que nunca.
Quanto ao Recife, nossa OSR melhorou consideravelmente ao
longo do tempo. Lembro-me bem da primeira vez em que assisti a uma
apresentação, umas duas décadas atrás, no Parque 13 de Maio. Os desacertos eram
notáveis até mesmo para uma ouvinte neófita como eu. Para orgulho de todos os
recifenses, duas semanas atrás, a OSR fez uma bela apresentação no Teatro de
Santa Isabel. O Concerto para fagote e
orquestra, de Carl Weber, foi bem executado, com destaque para o solista,
Péricles Johnson, prata da casa. Já a Sinfonia
no. 2 de Tchaikovsky, sob a batuta vibrante do maestro Osman Giuseppe Gioia
foi empolgante. A peça, já de si alegre, foi tocada com entusiasmo e, assim,
ganhou força e vibração, impressionando a platéia. A beleza do espetáculo
musical, contudo, destoava das cadeiras dispostas no palco, parecendo
recém-saídas de uma sala para eventos de hotel, bem como dos suportes para
partitura, descascados e emendados com fita adesiva. Sem falar no calor
evidente, pairando no palco, onde alguns músicos suavam em bicas.
Testemunhando a cena, me veio a ideia de que já passou da
hora do Recife ter uma sala de concertos decente. Eis uma tarefa a ser assumida
pelo próximo prefeito. Ele poderia encabeçar o esforço e conclamar a iniciativa
privada a investir numa sala devidamente equipada, com tratamento acústico e
conforto para os músicos, de modo que estes possam estar inteiramente
concentrados na melodia a ser extraída de seus instrumentos. Quem sabe se um Itaú,
ou Bradesco, ou, melhor ainda, uma grande empresa 100% pernambucana pudesse
investir nesse espaço em troca de batizá-lo. Admite-se até o apodo Hall, plenamente justificado pela
grandeza da iniciativa. Com uma sala apropriada para a nossa OSR, a
democratização do acesso à música clássica seria mais fácil e mais ligeira.
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