quarta-feira, 2 de maio de 2012

A OSR e uma Sala de Música


A agenda cultural do Recife sofreu melhoras substanciais e graduais ao longo da última década. Atualmente, nossa capital conta, ao longo de todo o ano, com eventos artísticos da mais alta qualidade (digo em termos de programação; infelizmente, nossa logística ainda deixa bastante a desejar), e atendendo a todos os gostos. Temos vários festivais de teatro e de música, festivais de cinema, boas exposições, já nos inserimos, inclusive, nos roteiros das mais aquilatadas atrações musicais nacionais e internacionais. Contamos com boas opções de cinema cult ou de arte. Enfim, nossa oferta cultural é variada, qualificada e constante. Creio poder afirmar, sem perigo de soar como meramente bairrista, que Recife é a capital melhor servida em termos culturais no Norte-Nordeste. Talvez pudéssemos até disputar o posto de terceira capital cultural do país com Belo Horizonte e Porto Alegre. Algo a ser verificado.
O cenário é, portanto, alvissareiro. Falta-nos, no entanto, um elemento importante. Ainda não temos uma sala de concertos apropriada para abrigar apresentações de nossa Orquestra Sinfônica (OSR), ou para receber orquestras visitantes. Todas as chamadas capitais culturais do mundo têm uma sala decente destinada à realização de concertos. Esta pode parecer uma demanda elitista, mas não é. Ou por outra, mesmo se for elitista, justifica-se pela importância da música clássica de per si. Do ponto de vista da política cultural, logo, do poder público, faz tanto sentido preterir nações de maracatu, quanto orquestras sinfônicas. Ou seja, nenhum. Aos olhos do Estado, toda forma de manifestação cultural deve ter o mesmo valor. Como regra geral, orquestras sinfônicas precisam da atuação do Estado para subsistirem na condição de patrimônio cultural de uma cidade ou país. Necessitam, igualmente, de uma gestão eficaz e profissional, que lhes permita alcançarem um padrão de excelência internacional. A OSESP já conseguiu essa profissionalização, e a Sinfônica Brasileira, sediada no Rio de Janeiro, felizmente vai seguindo o mesmo caminho. Antes tarde do que nunca.
Quanto ao Recife, nossa OSR melhorou consideravelmente ao longo do tempo. Lembro-me bem da primeira vez em que assisti a uma apresentação, umas duas décadas atrás, no Parque 13 de Maio. Os desacertos eram notáveis até mesmo para uma ouvinte neófita como eu. Para orgulho de todos os recifenses, duas semanas atrás, a OSR fez uma bela apresentação no Teatro de Santa Isabel. O Concerto para fagote e orquestra, de Carl Weber, foi bem executado, com destaque para o solista, Péricles Johnson, prata da casa. Já a Sinfonia no. 2 de Tchaikovsky, sob a batuta vibrante do maestro Osman Giuseppe Gioia foi empolgante. A peça, já de si alegre, foi tocada com entusiasmo e, assim, ganhou força e vibração, impressionando a platéia. A beleza do espetáculo musical, contudo, destoava das cadeiras dispostas no palco, parecendo recém-saídas de uma sala para eventos de hotel, bem como dos suportes para partitura, descascados e emendados com fita adesiva. Sem falar no calor evidente, pairando no palco, onde alguns músicos suavam em bicas.
Testemunhando a cena, me veio a ideia de que já passou da hora do Recife ter uma sala de concertos decente. Eis uma tarefa a ser assumida pelo próximo prefeito. Ele poderia encabeçar o esforço e conclamar a iniciativa privada a investir numa sala devidamente equipada, com tratamento acústico e conforto para os músicos, de modo que estes possam estar inteiramente concentrados na melodia a ser extraída de seus instrumentos. Quem sabe se um Itaú, ou Bradesco, ou, melhor ainda, uma grande empresa 100% pernambucana pudesse investir nesse espaço em troca de batizá-lo. Admite-se até o apodo Hall, plenamente justificado pela grandeza da iniciativa. Com uma sala apropriada para a nossa OSR, a democratização do acesso à música clássica seria mais fácil e mais ligeira.

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