sexta-feira, 22 de abril de 2016

Cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é...


20/4/16

Se as manifestações indignadas provocadas pela reportagem da Veja online sobre Marcela Temer se dirigirem à revista eletrônica, eu até compreendo. Realmente, a matéria parece mais um texto de Caras. Pouco adequada à mais importante revista de notícias do país (goste-se ou não, é um fato). Particularmente, também considero muito deselegante a revista fazer uma reportagem sobre a "futura" primeira-dama do país, num momento de tanta gravidade como o que passamos, em que as coisas ainda estão se definindo. Parece que está todo mundo perdendo de vista a noção de decoro. 
Porém, tem algo nessas reações enfurecidas (mesmo quando procuram ser bem humoradas) que me incomoda. Sinto um tom de censura à vice primeira-dama. É como se as pessoas estivessem dizendo que a escolha dela por ser “recatada e do lar” não fosse legítima (a beleza não é escolha, mas a danada é linda mesmo!). Paira no ar uma condenação coletiva a qualquer mulher que, por livre e espontânea decisão, resolva assumir, com alegria e porque não dizer, orgulho, papéis sociais femininos tradicionais!
Espero estar entendendo tudo errado. Porque se for isso mesmo, se o patrulhamento ideológico e social no Brasil tiver chegado a esse ponto, é mesmo muito preocupante. Se já era triste ver tanta intolerância na discussão do melhor caminho para o país (destino coletivo), identificar essa intolerância com relação a escolhas que os indivíduos fazem para suas próprias vidas, é estarrecedor.
Então, quando eu vejo a imagem da jovem Dilma Rousseff, diante de um tribunal de exceção, exibida como contraposição tácita à imagem da vice primeira-dama, eu fico atônita. Qual é a verdadeira afirmação por trás disso? As pessoas querem dizer que Dilma Rousseff é melhor do que Marcela Temer porque escolheu ter uma vida pública, ao passo que essa última escolheu a insignificância do Lar? Ou será que é apenas uma oportunidade para reafirmar a posição contra o Impeachment da presidente? Alguém já pensou que se Marcela Temer já tivesse nascido e fosse uma jovem nos anos em que Dilma Rousseff ficou presa, talvez, ela também tivesse feito uma opção pela guerrilha? (a pergunta é retórica; só serve para acentuar o disparate que é comparar as trajetórias das duas, com o propósito de condenar as escolhas de Marcela). Juro que me é difícil sair de um estado de total perplexidade com o que tenho visto.
Na minha humilíssima opinião, a melhor coisa de tudo o que o Feminismo poderia nos legar, é a LIBERDADE para que nós, Mulheres, sejamos o que quisermos! E isso inclui os papéis de mãe, dona de casa, esposa dedicada e mulher recatada. Se, efetivamente, quisermos ser uma sociedade plural, precisaremos aprender a respeitar as escolhas individuais. TODAS ELAS, e não apenas aquelas que coincidem com nossa própria visão de mundo.
Bela Marcela, se você é Feliz, vá em frente! Ser uma mulher recatada e do lar é uma escolha tão legítima como a de seguir uma carreira pública e se tornar presidente do Brasil. Ignore esse furor coletivo. Como diz a música de Caetano, cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é. Imagino que é duro ser objeto de um julgamento coletivo, sem apelação e sem chance de defesa, por milhares de pessoas que nem sequer a conhecem. Eu também não a conheço, não sei quais são os seus valores, mas sei que ninguém tem o direito de julgá-la pelas escolhas que você fez para a sua própria vida. E vou dizer mais – mesmo sabendo que provocarei a ira das feministas e serei condenada à fogueira no Tribunal da Inquisição em que nos transformamos –, embora seu marido me desagrade profundamente, se ele assumir mesmo a presidência do Brasil, vou achar muito bom você emprestar sua beleza e elegância ao Palácio do Planalto. 

Em tempo: Se algum homem romântico, que escreva poemas de amor inspirados, quiser me sustentar, um dos meus sonhos é me tornar uma mulher do Lar. Adoro cozinhar! Cuido muuuito bem de uma casa. Tenho loucura para ser mãe. Só não sou exatamente uma mulher recatada. Você vai precisar me levar ao teatro, a concertos, a shows, ao cinema e a bons restaurantes com frequência. Também poderemos viajar muito, e ter boas e instigantes conversas acompanhadas de taças de vinho. Só tenho uma exigência. Você precisa ser Honesto!

Nenhum comentário:

Postar um comentário