quinta-feira, 22 de março de 2012

A presidente Dilma e o silêncio dos bons


Todos nós, cidadãos brasileiros que acompanhamos o bailado trôpego e indecente da política nacional, estamos com a respiração em suspenso. A presidente Dilma resolveu enfrentar os maus parlamentares, os péssimos políticos e os partidos de aluguel. Note-se bem que tomo o cuidado de não dizer: a presidente decidiu “peitar o Congresso”. Muito pelo contrário, nossa presidente finalmente atua como Chefe da Nação, age em benefício das nossas instituições democráticas, logo, também do Parlamento.
Todavia, embora em nosso íntimo nos alegremos com a coragem e a razoabilidade da troca de lideranças nas duas Casas do Congresso, e com a firmeza da recusa em fazer dos ministérios repasto, à boca pequena comentamos a temeridade de seus atos, como se o mais adequado fosse mesmo ficar refém da chantagem de um punhado de abutres, que há tempos se alimentam do Estado brasileiro, reduzido à carniça pelas práticas cotidianas e generalizadas de aparelhamento da máquina burocrática, desvio de recursos, promiscuidade com interesses privados.
Já não somos inocentes: as velhas raposas do “alto clero” parlamentar e os caciques da “base aliada” não darão descanso à presidente. Usarão de todos os meios, legítimos e ilegítimos, para dobrá-la. Querem-na curvada aos seus pés. Deram mostras evidentes disso nas “derrotas” impostas ontem ao Governo. Temos clareza quanto à força desses maus políticos e eis porque o suspense e a apreensão. A presidente Dilma nos aponta com uma luz no fim do tenebroso túnel em que se converteu a política brasileira. Os corações da plebe enchem-se de esperança por alguns instantes. Porém, logo a história recente nos joga baldes de água fria e nos pede prudência. Nessa luta, a presidente é o lado mais fraco. Malgrado o desejo de milhões de cidadãos de que ela triunfe, é ela o Davi. Só que sem deus para apoiá-la. Olho para ela e enxergo apenas sua determinação como arma. Até o ex-presidente Lula, amigo dos defenestrados, me dá a impressão de posicionar-se do lado de Golias.
A frase mais famosa de Martin Luther King talvez seja aquela em que ele proclama sua preocupação com o silêncio dos bons. Este me parece ser um momento crucial para o Brasil, em que o silêncio dos bons pode nos ser fatal. É o momento em que cabe aos Justos se pronunciarem, independentemente de sua cor partidária. Eu mesma não votei na presidente Dilma. Mas dou a ela todo o meu apoio nessa cruzada por níveis mínimos de decência, moralidade e republicanismo em nossa vida pretensamente democrática. Muito me alegraria ver os bons parlamentares do Congresso Nacional, os bons políticos deste país mobilizando-se para dar à presidente o apoio e a força de que ela muito carece. O mesmo se pode dizer de cada um de nós. Onde estaremos durante esse embate? Até quando permaneceremos calados?

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