sexta-feira, 13 de abril de 2012

O engodo da mulher moderna


Uma amiga muito próxima e querida, médica super bem-sucedida, esposa e mãe, há anos repete um bordão de dar arrepios às feministas. Ela diz algo nessa linha: Quero saber quem foi a vaca que queimou o primeiro sutiã em praça pública, porque se ela ainda não morreu, vou matar com minhas próprias mãos!. Imagine-se um tom de voz inflamado e bochechas vermelhas de indignação, e eis uma perfeita visualização da cena, ambientada em qualquer mesa de bar ou restaurante, sempre que o assunto da conversa recair sobre o cotidiano, trabalho, casa, filhos. Note-se que esse sentimento de termos, no fundo, sido ludibriadas com as chamadas “conquistas” feministas, parece atingir um número crescente de mulheres bem-sucedidas, profissional e financeiramente.
Em conversa telefônica com minha irmã, algumas semanas atrás, nos ríamos do susto e indignação experimentados por suas amigas quando ela se pôs a argumentar que essa história de mulher moderna era um engodo. Eu já tive várias vezes o mesmo tipo de experiência. Quando, numa conversa qualquer, digo que gostaria de ter nascido no século XIX e de ter tido como único objetivo de vida, casar com um homem decente e ser esposa e mãe dedicada, a primeira reação dos meus interlocutores – mulheres e homens -- é rir. Pensam que estou fazendo piada. Depois de perceberem, pela minha seriedade e contundência, que estou mesmo falando sério, vêm o choque e, em seguida, a indignação. Tanto mais porque me insiro no perfil mais “convencional” de mulher moderna: dinâmica, politizada, intelectual com livros publicados, professora universitária, autônoma, poliglota, culta, divorciada e sem filhos. Figurino perfeito. Exceto pela sensação íntima de que nada disso vale a satisfação da vida do lar. Fui casada por 12 anos e apesar da separação (sempre dolorosa), adorava a vida de casada! Sinto-me perfeitamente feliz e realizada no papel de esposa e dona de casa. Gosto de cozinhar, arrumar a casa, receber amigos e esperar o marido, no final do dia, cheirosa e cheia de amor para dar. E sendo ainda mais franca, a maior frustração que guardo do casamento fracassado é a de não ter tido filhos. Trocaria, facilmente, minha dissertação de mestrado e minha tese de doutorado por dois pimpolhos. Mas, se gosto tanto da vida a dois, por que, depois de mais de três anos de separação, continuo solteira? A resposta é simples e complexa ao mesmo tempo. Minha formação e meu preparo são quase incompatíveis com os papéis que deveras gostaria de desempenhar na minha vida. Sou tão independente, segura e preparada que tenho grande dificuldade de encontrar uma parelha disponível. Os raríssimos exemplares existentes, na minha faixa etária – tão independentes, seguros e preparados quanto eu própria -- já estão comprometidos (excluam-se os que apreciam outro tipo de fruto). Há também, e são muitos, os que simplesmente preferem mulheres menos desafiadoras, venham ou não em embalagens caprichosamente trabalhadas em horas de malhação diária. Estou cada vez mais convencida de que no fundo as mulheres desejam homens que lhes transmitam a sensação primitiva de proteção e segurança (não pelo físico, mas por atitudes). Encontrar um exemplar que me dê tal sensação tem sido difícil. Quanto aos homens... conforme observação de um sábio amigo, quem se apaixona por inteligência são as mulheres. E se não fazemos parte do clube das gostosonas malhadas, o que exatamente temos para oferecer no mercado das relações amorosas?

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