segunda-feira, 2 de abril de 2012

Sobre gueixas e cavalheiros


Quanto mais vivo, mais me convenço de que há algo de interessante e sedutor no velho arranjo de papéis de gênero. Sem desconhecer as conquistas do feminismo, não posso deixar de perceber alguns efeitos colaterais perversos, dentre os quais se destaca a solidão-frustração feminina. É claro que meu argumento não vale para as mulheres de mais de trinta e cinco que estão sozinhas por opção e se sentem perfeitamente felizes assim. Dirijo-me ao universo bastante considerável de balzaquianas e pós-balzaquianas que sofrem as agruras da dificuldade de encontrar um parceiro digno de seus afetos, e, ao mesmo tempo, disponível no mercado das relações amorosas. Estou convencida de que precisamos encontrar o ponto de equilíbrio, perdido em meio à feroz luta pela emancipação das mulheres. Os sábios gregos nos ensinaram que a virtude está no meio. Pois é esse danado meio que se faz urgente descobrir. Ele há de situar-se em algum lugar entre a pia da cozinha e a mesa do escritório de bem-sucedidas profissionais.
De minha parte, quero reivindicar o direito a exercer todos os papéis femininos tradicionais com os quais me sinta confortável. Isso inclui cuidar de casa, marido e filhos com zelo e com gosto. Quero o direito de ser uma feliz e dedicada gueixa, sem culpa e com muito prazer. Em troca, quero um homem provedor, másculo e cavalheiro. Este último item, diga-se, é muito importante. O porquê exatamente as mulheres resolveram abrir mão do cavalheirismo é algo de difícil assimilação para mim. Existe nada mais lisonjeiro e sedutor que homens à moda antiga? Desses que abrem portas, andam do lado esquerdo da calçada, puxam cadeiras, pagam contas de restaurante, oferecem flores e têm no bolso um lenço à espera das suas lágrimas, suor ou espirros? Conheço raríssimos exemplares. São homens encantadores. De uma delicadeza, infelizmente, em extinção. Reconheço, com tristeza, que esses raros gentlemen gravitam no limiar dos 60 anos (posso falar de um único exemplar na faixa dos 50), além de estarem obviamente comprometidos. Acrescente-se que suas esposas têm a mais perfeita consciência do prêmio de loteria em mãos, o que significa que tais homens e suas respectivas companheiras são casais felizes. Que fique bem claro, a felicidade deles me alegra. A aludida tristeza vem da constatação de que não há exemplares dessa espécie entre os homens de 40 (que se dirá dos de 30 ou 20!). É realmente uma lástima. Não posso deixar de me perguntar: o que raios fomos fazer com eles e conosco mesmas?

3 comentários:

  1. Hmmm. Já ouvi esta conversa antes.

    Gosto de de sua idéia.

    Já cavalheiros clássicos assim, hmmm, tanto cavalheirismo assim não cansa, não?

    Amigas chamariam estes homens, na versão de hoje, de fofos! Constrangedor, me soa. Procure por eles, talvez encontre o que quer, mas um pouco menos clássicos.

    Aliás, porque andar do lado esquerdo da calçada ao acompanhar uma dama?

    Beijos
    Vini

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  2. Opa.
    Deixei passar uma idéia: como assim a mudança nos padrões de comportamento entre homens e mulheres deixou estas a mercê da solidão e frustração?
    Nós sofremos também, oras.
    O padrão de relacionamento estável mudou para os dois lados. Como arranjar outro par é fácil, todos querem o par ideal; e ainda um que não lhe bote cornos ou que não se vá levando a casa e toda a mobília (histórico dos meus primos e amigos exemplo de machões).
    E a bendita 'liberdade feminina' abriu espaço maior para a autonomia, não foi? Nessa a frustração e a solidão fazem parte do pacote da busca por esta. São só brindes (Ah!!).
    Emboras mães solteiras com filhos de caras canalhas possam afirmar o q você diz, acho que afirma tb a autonomia possível.

    Bem, é o que tenho visto, da minha mente de homem de 20 e poucos, sobre as mulheres.
    Você, que conviveu com outros ritmos de relacionamento e com os cavalheiros e damas de outras outras épocas, me diga: que segurança é esta que você sente falta?

    Aliás, aproveitando. Minha cara, que não tem vergonha de dizer que adora um fogão, conte-me o que cozinhou para a sexta santa.

    Com licença, que vou tomar a companhia de duas amigas: chocolate para minhas frustrações e a Lua Cheia para a solidão.

    Beijos

    Vini

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  3. Desencontro, Valéria. Simplesmente, desencontro. Beijo, Ivanildo.

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