06/04/15
Comecei hoje minha aventura ao redor do mundo. Toda a última
semana foi intensa, tomada pelos preparativos e providências que ficaram para
os derradeiros momentos. Praticamente virei a noite arrumando a bagagem.
Dificílimo me limitar aos 23 kgs que devem caber na única mala que me
acompanhará. Mais um exercício de desapego, dentre os muitos que tenho feito
nas últimas semanas. Viajar apenas com o essencial. Não cheguei no que deveria,
mas estou perto. Decidida a deixar coisas pelo meio do caminho.
Estou ciente de que o desapego assegura a leveza. No
entanto, entre a consciência e a prática, ou vivência, há um longo aprendizado.
Rápido almoço em família, em que ganho um lindo caderno de
viagem, preparado carinhosa e caprichosamente para mim, com mensagens de papai,
mamãe, Nica Quel, e de meus grandes amigos, além de pensamentos, trechos de
música, orações, e muitos espaços em branco, para eu ir registrando pensamentos
e fatos da viagem. Um presente ímpar e preciosíssimo, do qual não me apartarei.
Será minha companhia permanente. Um modo de ter ao alcance dos olhos, aqueles
que levo sempre no meu coração.
Família – papai, mamãe, Darlan -- e amigos-irmãos – Dani, Dedo e Karina -- no
aeroporto. Uma sensação estranha de incredulidade. Depois de três anos
acalentando esse projeto, chegou o dia. De verdade! Me despeço de pessoas que
amo tão profundamente e sinto que, como eu, elas estão divididas entre a
alegria por me verem realizando algo que tanto desejo, e a tristeza da saudade
antecipada.
Embarco com a curiosa sensação de que a minha ficha não caiu
de fato.
Bastante cansada pela sequência de noites quase sem dormir,
cochilo no vôo até o Galeão.
Enquanto espero a chamado do vôo para Miami, faço as últimas
ligações e mando as últimas mensagens pelo celular. São os derradeiros atos rituais,
que me permitem partir com mais conforto e segurança. Nas últimas semanas e
dias, foram vários os gestos e momentos de afirmação do carinho, do amor, da
amizade que me conecta aos meus pais, irmãs e amigos. Tentei dizer-lhes, e
espero que todos tenham compreendido, que se tenho coragem de me jogar nessa
travessia ao redor do mundo, é apenas porque eles existem, é apenas porque o
amor que nos conecta é profundo, sólido, concreto. Aliás, das coisas mais
concretas da minha vida. Como lhes disse, vou porque sei que eles estão AQUI. E
não falo apenas do aqui físico, do aqui-Recife ou qualquer outra cidade
brasileira, por onde se espalham pessoas que amo, vou porque sei que eles
habitam um AQUI permanente e imanente, que eu posso acessar a qualquer momento,
e por todo o sempre.
Embarco com duas certezas: a de que não serei mais a mesma
pessoa, e a de que voltarei para casa ao final dessa travessia.
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