19/4/15
Lição
do dia: Como é importante a gente se esforçar para vibrar numa energia
positiva.
Acordamos
cedo para esperar o amigo de D. que nos ajudaria a transportar as plantas para
o local do Earth Festival, bem no centro de Baton Rouge. A questão é que D.
acordou de mau humor. Ainda que chateada pelo que aconteceu a S., e que
continua me parecendo despropositado e injusto, não consigo deixar de ter
alguma simpatia por D. e compreender seu estado de espírito. Trata-se de um
evento muuuuito importante para ela. D. dedicou os dois últimos anos de sua
vida aos preparativos para esse dia, no qual ela esperava vender a maior parte
de suas plantas. Com esse dinheiro ela mantém seu projeto na América Central. Entendo
que ela esteja ao mesmo tempo ansiosa e frustrada, porque tudo que aconteceu na
véspera lhe tirou a alegria que esse dia deveria comportar.
O
que D. não compreende é que a vivência desse dia depende principalmente da
postura que ela assumir diante dos fatos. Lembro-me de papai e da frase que ele
sempre cita do Imperador-filósofo, Marco Aurélio: as coisas exteriores só nos
afetam na medida em que nos deixamos afetar por elas. A verdade é que a maior
parte dos fatos da vida, independem da nossa vontade. Qualquer forma de
controle sobre a própria vida é meramente ilusório, ou circunstancial. Mas
podemos controlar nossas reações
diante dos fatos, da realidade posta, das conjunturas. Eis o que tenho vontade
de dizer a D. Permaneço calada, pois sei que ela não está aberta e não deseja
escutar esse tipo de reflexão, nesse momento. Paciência. Só lamento porque ela
vibra numa energia negativa, e isso me faz pensar que o Festival não trará os
resultados esperados por ela. Creio piamente que essa é uma lei do Universo: a
gente atrai o que emana.
B.
chega com sua pick up. É o marido de
uma companheira de congregação de D. Um sujeito muito simpático, bem humorado,
solícito. Mais um exemplo da cordialidade sulista. Carregamos os carros e
seguimos para o local do Festival. Arrumamos as plantas na área designada pela
organização e ficamos à espera dos visitantes, que só começam a chegar em
quantidades significativas no início da tarde. Muito tempo se passa até que as
plantas de D. comecem a ser vendidas. Pelo menos o dia não será um desastre.
B.
e sua esposa, M. ficam por perto, tentando ajudar. B. entende tudo de plantas,
porque trabalha com isso. Sua ajuda ao longo de todo o dia foi essencial, e
parece ser obra da Providência. M. é muito engraçada. Fala sem parar e parece
ter três vezes mais energia que o marido. Observando-os fico pensando em como
certos comportamentos e dinâmicas entre casais parecem universais. Talvez sejam
universais para o Ocidente. B. e M. têm dois filhos, uma aborrescente, com
todos os trejeitos próprios dessa fase da vida, e um garoto bonito e vivaz, com
olhinhos atentos e inteligentes.
Pelas
três da tarde o Festival começa a ficar mais animado. O número de transeuntes
aumenta consideravelmente. Vejo meninas, brancas e negras, passando com enormes
laços na cabeça. Para mim, parecem criaturas saídas de algum filme da primeira
metade do século passado. Um costume que não saiu de moda na Lousiana, talvez.
Acho isso pitoresco.
Difícil
não observar a composição demográfica. Muitos negros, brancos em quantidade
razoável, e poucos mulatos claros. Vários rapazes negros andam com as calças
pelo meio da bunda, com a cueca quase toda de fora. Confesso que me causa
estranhamento. Fico prestando atenção nos cabelos das moças negras, com
penteados diversos, para todos os gostos: lisos, em coques, tranças, com
topete, coloridos... Há uma clara preocupação dessas moças com o cabelo, que em
alguns casos parece ser a parte mais importante da toilete, o que efetivamente
as diferencia.
Faz
um belo dia de sol. O calor é considerável. Me afasto da nossa barraca para dar
uma volta pela feira, mas não tenho muita disposição para ficar andando sob o
sol, que me queima a pele e aquece o ar a ponto de incomodar. Pelo menos a mim.
Já os locais curtem o sol, sentados em cadeiras portáteis, de lona, dobráveis.
Algumas dessas cadeiras têm um guarda-sol acoplado. Muitas pessoas estão
acomodadas em suas cadeiras, no gramado de uma praça, no fundo da qual está
montado um palco. Músicos se apresentam. Quando me aproximo, estão tocando
jazz, e logo passam a um pop rock. No espaço entre o gramado e o palco,
pessoas dançam ao som dessa música. Ao lado do gramado, crianças descalças
brincam numa fonte. A alegria é quase palpável nesse domingo de sol
e festa. Barracas de comida vendem todo tipo de fritura e junk food. Algo que ainda preciso provar é um marisco muuuuito
popular na região, chamado crawfish.
Parecem miniaturas de lagosta. São vendidos em pequenos montes para cada
pessoa. D. me explica que crawfish é uma comida super social, própria de
almoços com muita gente. Imagino que seja como feijoada ou caranguejada para
nós, no Brasil. Comida típica de um domingo de reunião familiar ou entre
amigos. Assim, nas barraquinhas de rua, me parece pouco convidativo. Aguardarei
uma melhor oportunidade para experimentar. Como uma deliciosa raspadinha de
maça verde, apropriadíssima para um dia tão quente.
O
Festival termina e vendemos menos da metade das plantas que levamos. D. procura
racionalizar ou disfarçar sua frustração. Carregamos a pick up e levamos as plantas de volta pra casa. Quando terminamos
de descarregar a caminhonete e levar tudo para o quintal, estou tão cansada que
não me animo nem a comer algo. Direto pra cama.
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