quinta-feira, 23 de abril de 2015

Dia 14: Lousiana´s Earth Festival

19/4/15



Lição do dia: Como é importante a gente se esforçar para vibrar numa energia positiva.
Acordamos cedo para esperar o amigo de D. que nos ajudaria a transportar as plantas para o local do Earth Festival, bem no centro de Baton Rouge. A questão é que D. acordou de mau humor. Ainda que chateada pelo que aconteceu a S., e que continua me parecendo despropositado e injusto, não consigo deixar de ter alguma simpatia por D. e compreender seu estado de espírito. Trata-se de um evento muuuuito importante para ela. D. dedicou os dois últimos anos de sua vida aos preparativos para esse dia, no qual ela esperava vender a maior parte de suas plantas. Com esse dinheiro ela mantém seu projeto na América Central. Entendo que ela esteja ao mesmo tempo ansiosa e frustrada, porque tudo que aconteceu na véspera lhe tirou a alegria que esse dia deveria comportar.
O que D. não compreende é que a vivência desse dia depende principalmente da postura que ela assumir diante dos fatos. Lembro-me de papai e da frase que ele sempre cita do Imperador-filósofo, Marco Aurélio: as coisas exteriores só nos afetam na medida em que nos deixamos afetar por elas. A verdade é que a maior parte dos fatos da vida, independem da nossa vontade. Qualquer forma de controle sobre a própria vida é meramente ilusório, ou circunstancial. Mas podemos controlar nossas reações diante dos fatos, da realidade posta, das conjunturas. Eis o que tenho vontade de dizer a D. Permaneço calada, pois sei que ela não está aberta e não deseja escutar esse tipo de reflexão, nesse momento. Paciência. Só lamento porque ela vibra numa energia negativa, e isso me faz pensar que o Festival não trará os resultados esperados por ela. Creio piamente que essa é uma lei do Universo: a gente atrai o que emana.
B. chega com sua pick up. É o marido de uma companheira de congregação de D. Um sujeito muito simpático, bem humorado, solícito. Mais um exemplo da cordialidade sulista. Carregamos os carros e seguimos para o local do Festival. Arrumamos as plantas na área designada pela organização e ficamos à espera dos visitantes, que só começam a chegar em quantidades significativas no início da tarde. Muito tempo se passa até que as plantas de D. comecem a ser vendidas. Pelo menos o dia não será um desastre.
B. e sua esposa, M. ficam por perto, tentando ajudar. B. entende tudo de plantas, porque trabalha com isso. Sua ajuda ao longo de todo o dia foi essencial, e parece ser obra da Providência. M. é muito engraçada. Fala sem parar e parece ter três vezes mais energia que o marido. Observando-os fico pensando em como certos comportamentos e dinâmicas entre casais parecem universais. Talvez sejam universais para o Ocidente. B. e M. têm dois filhos, uma aborrescente, com todos os trejeitos próprios dessa fase da vida, e um garoto bonito e vivaz, com olhinhos atentos e inteligentes.
Pelas três da tarde o Festival começa a ficar mais animado. O número de transeuntes aumenta consideravelmente. Vejo meninas, brancas e negras, passando com enormes laços na cabeça. Para mim, parecem criaturas saídas de algum filme da primeira metade do século passado. Um costume que não saiu de moda na Lousiana, talvez. Acho isso pitoresco.
Difícil não observar a composição demográfica. Muitos negros, brancos em quantidade razoável, e poucos mulatos claros. Vários rapazes negros andam com as calças pelo meio da bunda, com a cueca quase toda de fora. Confesso que me causa estranhamento. Fico prestando atenção nos cabelos das moças negras, com penteados diversos, para todos os gostos: lisos, em coques, tranças, com topete, coloridos... Há uma clara preocupação dessas moças com o cabelo, que em alguns casos parece ser a parte mais importante da toilete, o que efetivamente as diferencia.
Faz um belo dia de sol. O calor é considerável. Me afasto da nossa barraca para dar uma volta pela feira, mas não tenho muita disposição para ficar andando sob o sol, que me queima a pele e aquece o ar a ponto de incomodar. Pelo menos a mim. Já os locais curtem o sol, sentados em cadeiras portáteis, de lona, dobráveis. Algumas dessas cadeiras têm um guarda-sol acoplado. Muitas pessoas estão acomodadas em suas cadeiras, no gramado de uma praça, no fundo da qual está montado um palco. Músicos se apresentam. Quando me aproximo, estão tocando jazz, e logo passam a um pop rock. No espaço entre o gramado e o palco, pessoas dançam ao som dessa música. Ao lado do gramado, crianças descalças brincam numa fonte. A alegria é quase palpável nesse domingo de sol e festa. Barracas de comida vendem todo tipo de fritura e junk food. Algo que ainda preciso provar é um marisco muuuuito popular na região, chamado crawfish. Parecem miniaturas de lagosta. São vendidos em pequenos montes para cada pessoa. D. me explica que crawfish é uma comida super social, própria de almoços com muita gente. Imagino que seja como feijoada ou caranguejada para nós, no Brasil. Comida típica de um domingo de reunião familiar ou entre amigos. Assim, nas barraquinhas de rua, me parece pouco convidativo. Aguardarei uma melhor oportunidade para experimentar. Como uma deliciosa raspadinha de maça verde, apropriadíssima para um dia tão quente.

O Festival termina e vendemos menos da metade das plantas que levamos. D. procura racionalizar ou disfarçar sua frustração. Carregamos a pick up e levamos as plantas de volta pra casa. Quando terminamos de descarregar a caminhonete e levar tudo para o quintal, estou tão cansada que não me animo nem a comer algo. Direto pra cama.

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