domingo, 26 de abril de 2015

O suor do rosto

Na minha passagem por Miami, meu amigo Carlos me contou que havia lido sobre um tratamento muito eficaz para insônia. Eficaz e simples. A pessoa tem de passar 7 dias num lugar sem utilizar a luz elétrica. Preferencialmente numa área rural. Parece que depois de 7 dias dormindo com as galinhas e acordando com os galos, o corpo passa por uma espécie de reprogramação. Como se o organismo desse um reboot, ou zerasse tudo, pra recomeçar a contagem. Zerado, ele volta a funcionar direito. Trata-se de uma espécie de reprogramação de si mesmo.
Desde que Carlos me disse isso, que estou com essa imagem na cabeça. Parece-me uma metáfora interessante para o que eu estou tentando fazer comigo mesma. Nada a ver com insônia, mas com esse desejo de reprogramar comportamentos, concepções, prioridades. E assim como o insone busca reequilibrar o sono por meio da luz natural, o que estou tentando fazer é viver de atividades primárias, básicas, manuais. Voltar ao primitivo, para conquistar uma renovação genuína e profunda.
Claro que estou apenas no início desse processo, mas tenho me sentido muito gratificada com atividades primárias, que nunca fizeram parte da minha vida. E como estou trabalhando para ter comida e cama, pela primeira vez na minha vida posso dizer que estou literalmente vivendo do suor do meu rosto. Faz alguns dias que trabalho duro, puxando folhas com um “garfo”, remexendo a terra, plantando mudas, aguando plantas. E tenho feito questão de não usar luvas. Me dá prazer sentir a terra nas mãos, enquanto assento as raízes de uma plantinha que um dia será uma bela e frondosa árvore. Nessa lida, tenho me lembrado muito de Iza. Lembro de como ela conversava com as plantas na casa de vovó e, depois que meus avós morreram, na casa dela. Estou tentando fazer a mesma coisa, conversar com as minhas mudas, tratá-las com genuíno carinho, pra ver se elas crescem bonitas e viçosas.

Meu corpo, claro, acostumado apenas ao computador, está se ressentindo. Músculos me doem por toda parte. Mas até isso me alegra. Cada vez que sinto um músculo reclamando, tenho a certeza de que estou fazendo a coisa certa. Em pouco tempo sei que meu corpo estará afeito a essas atividades. Não me cansarei tanto como agora. Irei adquirindo resistência, à medida que o organismo se reprograma. Reprogramar a mente e o espírito será bem mais complexo e mais lento. Sei disso. E sei também que chegarei lá.

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