Os
subúrbios americanos têm uma configuração muito particular. D. mora num
subúrbio de Baton Rouge. Tenho saído para caminhar todos os dias (tentando
desenvolver o hábito da atividade física), e aproveito essas ocasiões para
observar a configuração espacial e humana do subúrbio. Me parece uma espécie de
entre-lugar. Os subúrbios americanos ficam nas periferias das grandes e médias
cidades, porém não têm nada a ver com as periferias brasileiras. Os subúrbios
permitem que as pessoas fujam do ruge-ruge das cidades. Viver nessas áreas
periféricas significa ficar mais distante dos engarrafamentos, do movimento
intenso de pedestres, do barulho e da poluição dos centros de cidade. No
entanto, também significa ficar distante de suas facilidades e conveniências,
cinemas, bares, mercados. Quando se mora nos subúrbios, parece que dá pra fazer
poucas coisas a pé. Minha impressão – que pode estar errada – é de que o carro
se faz necessário para quase tudo. Além disso, os subúrbios estão sempre perto
das highways e freeways, cujas margens não têm nenhum charme.
Tenho
apreciado muito minhas caminhadas diárias, por essa vizinhança de ruas
arborizadas, calmas e silenciosas. Confesso, porém, que não me agradaria a
ideia de viver numa área com essa configuração. Todas as ruas nos arredores se
parecem. Todas as casas se parecem. Predominam tons neutros nas fachadas.
Basicamente o bege, quebrado aqui e acolá por alguma parede branca. Algum
proprietário mais ousado, tem a fachada da casa cor de terra. Se alguém se
aventura no verde, é um verde água, bem esmaecido. A sensação geral é de certo
monocromatismo. Ousadia das ousadias, uma porta vermelha. Sinto falta de ver mais casas avarandadas, que não deixam de ser uma herança arquitetônica, profundamente vinculada à história desse estado sulista. Os jardins é que variam mais, e dá gosto observar alguns deles.
Nenhuma das casas têm cerca. Jardins se dispõem à frente das portas, e terminam
em calçadas, seguidas de um gramado que se interpõe à rua. Bandeiras americanas
pontuam esse cenário. Minha casa favorita nessa vizinhança é uma casa com parte da fachada branca, com lamparinas a gás ladeando a porta de entrada. Tem o sabor nostálgico que me agrada quase sempre.
De modo geral, para
mim, a beleza e o charme vêm principalmente das árvores. Os jardins são
repletos delas. O que não apenas gera sombra, como serve de casa para pássaros
e esquilos. As ruas são tranquilas e silenciosas (de ruídos humanos ou de
máquinas). Raramente passam carros, quando estou caminhando. Assim, escuto
basicamente o barulho alegre dos pássaros. Vejo inúmeros esquilos brincando nos
gramados e nas árvores. Passam ligeiros diante de mim e sobem pelo troncos com
grande agilidade e muita graça. Há muitas magnólias, que estão em plena
floração. Admiro suas flores de enormes e firmes pétalas brancas.
O
ambiente é muito propício para a caminhada e a reflexão. Em contrapartida, as
pessoas não se encontram e não se falam. D. me confirma essa impressão. Os
vizinhos não conversam, não interagem. Ela me explica que é uma vizinhança um
tanto envelhecida, com raras crianças. Talvez nem todas as vizinhanças de
subúrbios sejam assim... Em todo caso, a ampla extensão das fachadas das casas,
associada ao uso constante de carros para o deslocamento cotidiano, me dão a
sensação de não favorecer o convívio e a intimidade.
Claro
que viver nos subúrbios é uma escolha por um estilo de vida. E como tudo na
vida tem suas vantagens e desvantagens. O ponto de ônibus mais próximo da casa
de D. fica a 40 minutos de caminhada. Seria um problema para mim, se fosse
ficar mais tempo, ou se sentisse a necessidade de ir à cidade com mais
frequência. Para D. é conveniente, porque seu amplo quintal é fundamental para
as atividades que ela desenvolve e que lhe são tão caras. Enfim, mais uma prova
de que não se pode ter tudo, e de como é importante que cada um tenha a clara
noção de suas prioridades, para que não se sacrifiquem coisas essenciais, sem
as quais, a paz de espírito é difícil de ser alcançada.
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