quinta-feira, 9 de abril de 2015

Andar com Fé, eu vou: Dia 2

07/4/15


No vôo, assisti a Selma, um dos concorrentes do Oscar. É um filme razoável. Boa interpretação do ator que faz Martin Luther King, porém o filme carece de elementos poéticos que o façam mais interessante e menos lugar comum. A história real é que é impressionante, como de resto todas as histórias segregacionistas. Talvez o fato de uma violência tão absurda ter acontecido de modo institucional, num passado tão recente, e na nação que se tornou um símbolo da democracia e da civilidade seja o que mais contribui para tornar esse tipo de narrativa tão chocante.
O vôo foi tranquilo. Cheguei a dormir, porque estava bastante cansada. O serviço de bordo da TAM, registre-se, é impecável. Dedo tem toda razão: o vôo da TAM é infinitamente melhor que o da American Airlines, da simpatia e educação dos comissários de bordo, à qualidade da comida, e conforto da aeronave.
Minha passagem pela Imigração americana na madrugada desse dia 7 de abril foi curiosa. O oficial ficou intrigadíssimo com meu propósito de viagem. Tive que responder que ficaria dois meses nos Estados Unidos e que daqui vou para a Europa. Ele me encheu de perguntas e acabei dizendo, com muita naturalidade, que pretendo passar um ano viajando pelo mundo. “O que você quer dizer? Passar um ano viajando, sem trabalhar???!!!”. Se eu não tivesse uma certeza de FÉ de que vai dar tudo certo, teria ficado com grande receio dele me barrar. Mas, como sei que existe uma Vontade bem maior e mais poderosa que a daquele oficial de Imigração, me mantive tranquila, inclusive, segurando a vontade de rir. Afinal, eu não cabia em nenhuma de suas caixinhas: “Nunca vi nada semelhante”. Muito contrariado, acabou carimbando meu passaporte.
Também fui parada na Alfândega. Um oficial bem mais simpático que o primeiro me fez abrir uma mala. Felizmente, nem era aquela em que estavam os remédios que levo, preventivamente, e que tinha receio de que fossem retidos. Finalmente, liberada pelas autoridades americanas, peguei meu táxi para a casa de meus amigos, Chrissy e Carlos. O motorista do táxi era haitiano, e conversamos bastante, inclusive sobre a infame derrota do Brasil na Copa do Mundo. Ele me contou que ele e os amigos prepararam uma festa para assistir ao jogo, que ele foi pegar uma cerveja e quando voltou, o Brasil já tinha levado três gols. Já conheço essa triste narrativa.

Uma grande alegria rever meus amigos de Berkeley, e conhecer o filhinho deles. Santiago é um menino doce e carinhoso. Depois de dormir profundamente para me recuperar da viagem, saio com Chrissy e Santiago para dar uma volta no bairro. Eles moram em Coconut Grove. Trata-se de um bairro simpatissíssimo de Miami. Fiquei encantada. O bairro tem distintos cenários sociais, cada um deles com seu sabor pitoresco. A vizinhança de Chrissy é super arborizada e cheia de lojas e restaurantes charmosos. Tem ainda uma área com belas quintas, mansões de muito bom gosto, cercadas de árvores extensos jardins. Há a parte negra, com antigas casas de madeira bem conservadas (trata-se de uma vizinhança operária, e não de um gueto, como me explica Carlos), e há, ainda, Little Havana, que devo conhecer nos próximos dias. Sentamo-nos no Jaguar, um restaurante descolado, na vizinhança de Chrissy, que já foi um reduto de artistas, onde comemos ceviches deliciosos e bebemos margaritas perfeitas, para brindarmos o início do meu sabático e do processo de tenior dela. Sinto que começo essa aventura com uma energia maravilhosa. E estou encantada com Conconut Grove. Preciso reconhecer que Miami é cheia de surpresas.

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