07/4/15
No vôo, assisti a Selma, um dos concorrentes do Oscar. É um
filme razoável. Boa interpretação do ator que faz Martin Luther King, porém o
filme carece de elementos poéticos que o façam mais interessante e menos lugar
comum. A história real é que é impressionante, como de resto todas as histórias
segregacionistas. Talvez o fato de uma violência tão absurda ter acontecido de
modo institucional, num passado tão recente, e na nação que se tornou um
símbolo da democracia e da civilidade seja o que mais contribui para tornar
esse tipo de narrativa tão chocante.
O vôo foi tranquilo. Cheguei a dormir, porque estava
bastante cansada. O serviço de bordo da TAM, registre-se, é impecável. Dedo tem
toda razão: o vôo da TAM é infinitamente melhor que o da American Airlines, da
simpatia e educação dos comissários de bordo, à qualidade da comida, e conforto
da aeronave.
Minha passagem pela Imigração americana na madrugada desse
dia 7 de abril foi curiosa. O oficial ficou intrigadíssimo com meu propósito de
viagem. Tive que responder que ficaria dois meses nos Estados Unidos e que
daqui vou para a Europa. Ele me encheu de perguntas e acabei dizendo, com muita
naturalidade, que pretendo passar um ano viajando pelo mundo. “O que você quer dizer? Passar um ano
viajando, sem trabalhar???!!!”. Se eu não tivesse uma certeza de FÉ de que
vai dar tudo certo, teria ficado com grande receio dele me barrar. Mas, como
sei que existe uma Vontade bem maior e mais poderosa que a daquele oficial de
Imigração, me mantive tranquila, inclusive, segurando a vontade de rir. Afinal,
eu não cabia em nenhuma de suas caixinhas: “Nunca
vi nada semelhante”. Muito contrariado, acabou carimbando meu passaporte.
Também fui parada na Alfândega. Um oficial bem mais
simpático que o primeiro me fez abrir uma mala. Felizmente, nem era aquela em
que estavam os remédios que levo, preventivamente, e que tinha receio de que
fossem retidos. Finalmente, liberada pelas autoridades americanas, peguei meu
táxi para a casa de meus amigos, Chrissy e Carlos. O motorista do táxi era haitiano,
e conversamos bastante, inclusive sobre a infame derrota do Brasil na Copa do
Mundo. Ele me contou que ele e os amigos prepararam uma festa para assistir ao
jogo, que ele foi pegar uma cerveja e quando voltou, o Brasil já tinha levado
três gols. Já conheço essa triste narrativa.
Uma grande alegria rever meus amigos de Berkeley, e conhecer
o filhinho deles. Santiago é um menino doce e carinhoso. Depois de dormir
profundamente para me recuperar da viagem, saio com Chrissy e Santiago para dar
uma volta no bairro. Eles moram em Coconut Grove. Trata-se de um bairro simpatissíssimo
de Miami. Fiquei encantada. O bairro tem distintos cenários sociais, cada um
deles com seu sabor pitoresco. A vizinhança de Chrissy é super arborizada e
cheia de lojas e restaurantes charmosos. Tem ainda uma área com belas quintas,
mansões de muito bom gosto, cercadas de árvores extensos jardins. Há a parte
negra, com antigas casas de madeira bem conservadas (trata-se de uma vizinhança
operária, e não de um gueto, como me explica Carlos), e há, ainda, Little Havana,
que devo conhecer nos próximos dias. Sentamo-nos no Jaguar, um restaurante descolado,
na vizinhança de Chrissy, que já foi um reduto de artistas, onde comemos ceviches
deliciosos e bebemos margaritas perfeitas, para brindarmos o início do meu
sabático e do processo de tenior dela. Sinto que começo essa aventura com uma
energia maravilhosa. E estou encantada com Conconut Grove. Preciso reconhecer
que Miami é cheia de surpresas.
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