quinta-feira, 16 de abril de 2015

Ópera em NY: uma incrível experiência


Mesmo para quem não é apreciador de ópera, diria que uma apresentação da ópera de Nova Iorque é quase imperdível (a menos que a pessoa tenha aversão à música clássica). As produções são impecáveis, os cantores excepcionais e a orquestra é incrível. Reconheço que óperas não são espetáculo de fácil fruição, e parecem ter pouco a ver com a sensibilidade contemporânea (óperas têm uma temporalidade estendida, lenta, como a dos trens). Mas realmente acho que todo mundo deveria experimentar, pelo menos uma vez na vida. Óperas são produtos artísticos de natureza múltipla: música clássica, canto lírico e teatro juntos. E, ás vezes, até balé (como na apresentação e Aída a que assisti na Metopera). No caso das apresentações da Metopera, o conjunto funciona com um equilíbrio e harmonia que encantam e comovem.
A Metopera tem uma sede lindíssima, parte de um complexo chamado Lincoln Center, situado no lado Oeste do Central Park, que também abriga o Ballet e a Filarmônica de Nova York. O conjunto tem uma bela arquitetura moderna, e a Ópera é deslumbrante por dentro. Toda forrada de veludo vermelho, com lustres belíssimos, que sugerem formações estelares. Tudo de muito bom gosto. Da rua, pela ampla fachada de vidro, se podem vislumbrar dois imensos painéis de Marc Chagall, nas laterais superiores do prédio. Um deles, em vermelho, é lindo demais. Vale observá-lo com atenção, pois está cheio de detalhes que fazem referência ao universo da ópera.
Assisti a duas apresentações. Ernani, com Plácido Domingo no papel de D. Carlo, rei da Espanha, e Aída, em que ele atuou como regente da orquestra. Aída é uma ópera muito forte, a música é intensa, seja nos seus momentos grandiloquentes, que celebram a coletividade, seja nas árias individuais, efetivamente sofridas e pungentes. Não sabia que Verdi havia composto essa peça especificamente para a Ópera do Cairo. E a estória lhe foi sugerida por um arqueólogo, profundo conhecedor do Egito. No livrinho do programa havia muitas informações interessantes sobre o processo de criação da ópera. Engraçado que desta vez, me dei conta de como o enredo de Aída tem semelhanças com Iracema, de José de Alencar. Ambas as heroínas são mulheres divididas entre o amor e a lealdade a seus povos (que perecem numa guerra) e o amor profundo por um homem (que pertence ao exército inimigo). A diferença é que Iracema abandona os seus, enquanto Aída opta por sacrificar seu amor, e se sacrificar por ele.
Plácido Domingo é um ótimo regente! Foi aplaudidíssimo. A soprano que fez Aída também é maravilhosa.
A única coisa irritante na minha experiência da Metopera foram os aplausos ao final de cada ária. O público simplesmente não esperava os intervalos para aplaudir, interrompendo a ópera a todo momento. Essa talvez pudesse ser uma reação típica do público americano, mas não me lembro desse comportamento na Ópera de São Francisco. Não consigo achar outra explicação que não a cultura Broadway, onde os aplausos pontuam e são desejáveis ao longo dos espetáculos. Só pode ser isso. Pior foram os aplausos absolutamente inconvenientes em pleno decurso da Marcha Triunfal, de Aída, simplesmente porque dois garbosos cavalos apareceram em cena.

Dicas de viagem:

Os ingressos podem ser comprados pela internet, no site da Metopera, e há ingressos de $32, portanto, bem mais baratos que os espetáculos da Broadway. Atenção apenas para o fato de que a última filha do Family Circle são standing places, ou seja, exigem disposição para assistir a 3 ou 4 horas de espetáculo de pé.

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