Mesmo para quem não é apreciador de ópera, diria que uma
apresentação da ópera de Nova Iorque é quase imperdível (a menos que a pessoa
tenha aversão à música clássica). As produções são impecáveis, os cantores
excepcionais e a orquestra é incrível. Reconheço que óperas não são espetáculo
de fácil fruição, e parecem ter pouco a ver com a sensibilidade contemporânea (óperas
têm uma temporalidade estendida, lenta, como a dos trens). Mas realmente acho
que todo mundo deveria experimentar, pelo menos uma vez na vida. Óperas são
produtos artísticos de natureza múltipla: música clássica, canto lírico e
teatro juntos. E, ás vezes, até balé (como na apresentação e Aída a que assisti na Metopera). No caso das apresentações da Metopera, o conjunto funciona com um
equilíbrio e harmonia que encantam e comovem.
A Metopera tem uma
sede lindíssima, parte de um complexo chamado Lincoln Center, situado no lado Oeste do Central Park, que também abriga o Ballet e a Filarmônica de Nova
York. O conjunto tem uma bela arquitetura moderna, e a Ópera é deslumbrante por
dentro. Toda forrada de veludo vermelho, com lustres belíssimos, que sugerem
formações estelares. Tudo de muito bom gosto. Da rua, pela ampla fachada de
vidro, se podem vislumbrar dois imensos painéis de Marc Chagall, nas laterais
superiores do prédio. Um deles, em vermelho, é lindo demais. Vale observá-lo
com atenção, pois está cheio de detalhes que fazem referência ao universo da
ópera.
Assisti a duas apresentações. Ernani, com Plácido Domingo no papel de D. Carlo, rei da Espanha, e
Aída, em que ele atuou como regente
da orquestra. Aída é uma ópera muito
forte, a música é intensa, seja nos seus momentos grandiloquentes, que celebram
a coletividade, seja nas árias individuais, efetivamente sofridas e pungentes.
Não sabia que Verdi havia composto essa peça especificamente para a Ópera do
Cairo. E a estória lhe foi sugerida por um arqueólogo, profundo conhecedor do
Egito. No livrinho do programa havia muitas informações interessantes sobre o
processo de criação da ópera. Engraçado que desta vez, me dei conta de como o
enredo de Aída tem semelhanças com Iracema, de José de Alencar. Ambas as
heroínas são mulheres divididas entre o amor e a lealdade a seus povos (que
perecem numa guerra) e o amor profundo por um homem (que pertence ao exército
inimigo). A diferença é que Iracema abandona os seus, enquanto Aída opta por
sacrificar seu amor, e se sacrificar por ele.
Plácido Domingo é um ótimo regente! Foi aplaudidíssimo. A
soprano que fez Aída também é maravilhosa.
A única coisa irritante na minha experiência da Metopera foram os aplausos ao final de
cada ária. O público simplesmente não esperava os intervalos para aplaudir,
interrompendo a ópera a todo momento. Essa talvez pudesse ser uma reação típica
do público americano, mas não me lembro desse comportamento na Ópera de São
Francisco. Não consigo achar outra explicação que não a cultura Broadway, onde
os aplausos pontuam e são desejáveis ao longo dos espetáculos. Só pode ser
isso. Pior foram os aplausos absolutamente inconvenientes em pleno decurso da
Marcha Triunfal, de Aída, simplesmente porque dois garbosos cavalos apareceram
em cena.
Dicas de viagem:
Os ingressos podem ser comprados pela internet, no site da Metopera, e há ingressos de $32,
portanto, bem mais baratos que os espetáculos da Broadway. Atenção apenas para o fato de que a última filha do Family Circle são standing places, ou seja, exigem disposição para assistir a 3 ou 4
horas de espetáculo de pé.
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