9/4/15
Durmo mal, por causa da gripe, que me pegou pra valer. Decido
ficar a maior parte do dia em casa, não apenas por conta da gripe, mas pela
necessidade de ordenar algumas coisas e refazer a mala.
Pelo meio da tarde, saio para um passeio a pé com Carlos e o
pequeno Santiago. Santi tem três anos é uma criança fofa, com uns olhos
soberbos, impressionantemente expressivos, e super carinhoso. Vamos até uma
sorveteria orgânica próximo de casa. O sorvete de avelã estava divino. Textura
perfeita. Na volta, fico um pouco com Santi num parquinho para crianças. Com
surpresa e boa dose de estranhamento, me dou conta de que se trata de um parque
“artificial”. Grama de plástico e terra de plástico no entorno de árvores que,
estas, sim, são de verdade. Flores lilases, caídas das árvores, cobrem o
gramado artificial, em vários trechos. Essa grama artificial é dura e
desconfortável, coisa que verifico ao sentar-me no chão para brincar com Santi.
O parque tem escorregadores, balanços, brinquedos de obstáculos, e um
hipopótamo lilás que se move para frente e para trás. Uma grade separa o parque
das crianças do parque dos cachorros, igualmente feito de chão artificial.
Santi se diverte sozinho, com as flores caídas e água empoçada nos
escorregadores de plástico. Em dado momento observo que deseja fazer pipi. E
agora? Como resolver essa situação num parque de solo inteiramente artificial,
portanto, sem areia ou terra que possa, absorver a urina sem maiores problemas???!!!
Após alguns momentos de tensão, localizo uma nesguinha de terra no final do
parque, junto a uma cerca viva, que me permite resolver a situação emergencial.
Mesmo assim fico apreensiva, esperando que a qualquer momento se materialize na
minha frente alguma figura de autoridade e me repreenda por aquele ato
indevido. Alivia-me a consciência o pensamento de que é um absurdo um parque
daqueles, todo fabricado do nada, não contar com um banheiro químico que seja.
Afinal, é um parque infantil.
Um outro pensamento me intriga: por que um parque artificial,
quando aqui nos Estados Unidos eles vendem gramados naturais maravilhosos? Não
consigo atinar com outra resposta que não a profilaxia. Essa quase obsessão que
eles têm de evitar acidentes, bactérias etc. Uma lástima. Correr num gramado
artificial é completamente distinto. Aliás, ironicamente, umas meninas correm
por esse gramado de plástico e caem todo o tempo, porque a cobertura artificial
não lhes permite tatear as diferenças do terreno. Só que elas caem e não se
machucam.
No final da tarde, Chrissy chega e tomamos um Ubber para Little Havana. Adorei o bairro cubano, apesar da rápida visita. O
parque do dominó já estava fechado, mas do lado de fora, observamos uma animada
roda de homens, jovens e velhos, que continuavam seus jogos. Afinal de contas,
o parque pode ter hora de funcionamento, mas não a paixão pelo jogo, nem muito
menos a convivência com os amigos e parceiros desse gostoso e pachorrento ócio
de fim de tarde. Caminhamos um pouco pela Calle
8, coração do bairro, onde há um lindo cinema art nouveau, que ainda funciona como cinema!, e um belo centro
cultural que quero conhecer com mais calma em uma próxima visita. Jantamos em
um antigo restaurante cubano. Comida deliciosa. Matei as saudades de um bom moros y cristianos e de uma boa ropa vieja. O tamale também estava
divino, extremamente bem temperado, com um toque de erva doce. Saindo do
restaurante, caminhamos mais um pouco e acabamos entrando em uma loja de
charutos cubanos, muito simpática, com vários sofás convidando a pessoa a
sentar-se e “saborear” seu charuto. Por pura brincadeira, eu e Chrissy
compramos um, nos sentamos e ficamos fumando e conversando. Os donos são
extremamente simpáticos e passamos minutos divertidos. Eles nos contam que às
sextas-feiras, põem os sofás nas calçadas, e que a rua se torna especialmente
animada e convidativa. Realmente precisarei voltar a Little Havana um dia. Para finalizar a noite, paramos em uma das
muitas ventanas que há na Calle 8, onde se vendem cafezinhos no
estilo cubano, e tomamos um cortadito.
Pela primeiríssima vez na minha vida, acho que tomei um café efetivamente
saboroso em um estabelecimento comercial, em solo americano. Tiramos fotos com
os galos que são símbolo da Little Havana
e voltamos para casa. Fechamos minha última noite em Miami brindando com pro seco minha visita a esse maravilhoso
casal, que me acolheu com tanto carinho e amor.
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