domingo, 12 de abril de 2015

Andando com Fé, eu vou: Dia 4

9/4/15

Durmo mal, por causa da gripe, que me pegou pra valer. Decido ficar a maior parte do dia em casa, não apenas por conta da gripe, mas pela necessidade de ordenar algumas coisas e refazer a mala.
Pelo meio da tarde, saio para um passeio a pé com Carlos e o pequeno Santiago. Santi tem três anos é uma criança fofa, com uns olhos soberbos, impressionantemente expressivos, e super carinhoso. Vamos até uma sorveteria orgânica próximo de casa. O sorvete de avelã estava divino. Textura perfeita. Na volta, fico um pouco com Santi num parquinho para crianças. Com surpresa e boa dose de estranhamento, me dou conta de que se trata de um parque “artificial”. Grama de plástico e terra de plástico no entorno de árvores que, estas, sim, são de verdade. Flores lilases, caídas das árvores, cobrem o gramado artificial, em vários trechos. Essa grama artificial é dura e desconfortável, coisa que verifico ao sentar-me no chão para brincar com Santi. O parque tem escorregadores, balanços, brinquedos de obstáculos, e um hipopótamo lilás que se move para frente e para trás. Uma grade separa o parque das crianças do parque dos cachorros, igualmente feito de chão artificial. Santi se diverte sozinho, com as flores caídas e água empoçada nos escorregadores de plástico. Em dado momento observo que deseja fazer pipi. E agora? Como resolver essa situação num parque de solo inteiramente artificial, portanto, sem areia ou terra que possa, absorver a urina sem maiores problemas???!!! Após alguns momentos de tensão, localizo uma nesguinha de terra no final do parque, junto a uma cerca viva, que me permite resolver a situação emergencial. Mesmo assim fico apreensiva, esperando que a qualquer momento se materialize na minha frente alguma figura de autoridade e me repreenda por aquele ato indevido. Alivia-me a consciência o pensamento de que é um absurdo um parque daqueles, todo fabricado do nada, não contar com um banheiro químico que seja. Afinal, é um parque infantil.
Um outro pensamento me intriga: por que um parque artificial, quando aqui nos Estados Unidos eles vendem gramados naturais maravilhosos? Não consigo atinar com outra resposta que não a profilaxia. Essa quase obsessão que eles têm de evitar acidentes, bactérias etc. Uma lástima. Correr num gramado artificial é completamente distinto. Aliás, ironicamente, umas meninas correm por esse gramado de plástico e caem todo o tempo, porque a cobertura artificial não lhes permite tatear as diferenças do terreno. Só que elas caem e não se machucam.

No final da tarde, Chrissy chega e tomamos um Ubber para Little Havana. Adorei o bairro cubano, apesar da rápida visita. O parque do dominó já estava fechado, mas do lado de fora, observamos uma animada roda de homens, jovens e velhos, que continuavam seus jogos. Afinal de contas, o parque pode ter hora de funcionamento, mas não a paixão pelo jogo, nem muito menos a convivência com os amigos e parceiros desse gostoso e pachorrento ócio de fim de tarde. Caminhamos um pouco pela Calle 8, coração do bairro, onde há um lindo cinema art nouveau, que ainda funciona como cinema!, e um belo centro cultural que quero conhecer com mais calma em uma próxima visita. Jantamos em um antigo restaurante cubano. Comida deliciosa. Matei as saudades de um bom moros y cristianos e de uma boa ropa vieja. O tamale também estava divino, extremamente bem temperado, com um toque de erva doce. Saindo do restaurante, caminhamos mais um pouco e acabamos entrando em uma loja de charutos cubanos, muito simpática, com vários sofás convidando a pessoa a sentar-se e “saborear” seu charuto. Por pura brincadeira, eu e Chrissy compramos um, nos sentamos e ficamos fumando e conversando. Os donos são extremamente simpáticos e passamos minutos divertidos. Eles nos contam que às sextas-feiras, põem os sofás nas calçadas, e que a rua se torna especialmente animada e convidativa. Realmente precisarei voltar a Little Havana um dia. Para finalizar a noite, paramos em uma das muitas ventanas que há na Calle 8, onde se vendem cafezinhos no estilo cubano, e tomamos um cortadito. Pela primeiríssima vez na minha vida, acho que tomei um café efetivamente saboroso em um estabelecimento comercial, em solo americano. Tiramos fotos com os galos que são símbolo da Little Havana e voltamos para casa. Fechamos minha última noite em Miami brindando com pro seco minha visita a esse maravilhoso casal, que me acolheu com tanto carinho e amor. 

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