Como é importante estarmos sempre prontos a superar as
primeiras impressões.
Na noite em que cheguei a esse hotel, pensei que tinha
entrado numa roubada. O quarto minúsculo me deu a sensação de que estava
pagando caro por algo que não valia. No entanto, a cada dia me senti melhor no
hotel, até que fui embora com pena e uma certa vontade de voltar. Ou seja,
acabei adorando o The Jane. Trata-se
de um prédio antigo, inaugurado em 1908, como um hotel para homens do mar,
marinheiros e oficiais. Por isso os quartos são efetivamente pequenos. Lembram
uma cabine de navio. Tudo no quarto é compacto e ele não comporta uma mala
inteiramente aberta. O banheiro é coletivo, e fica no final do corredor (tem
uma ducha incrível! O banho é delicioso). Certamente, não é um hotel para quem
deseja espaço e privacidade. Apesar do que, há quartos maiores, para casais
(provavelmente os que pertenciam aos oficiais).
O fato é que para viajantes solitários e com espírito de
despojamento, o The Jane é perfeito.
Ainda mais se esse viajante tiver uma sensibilidade nostálgica como a minha.
Tudo no hotel remete ao tempo de sua construção. Do hall, com colunas espelhadas e animais empalhados nas paredes, aos
corredores estreitos, acarpetados e iluminados a meia-luz por luminárias em
forma de pequenos abajures. Um tom salmão predomina por toda parte e há vários
toques orientais, mas no estilo decorativo que se usava no início do século XX,
quando o Oriente se tornou moda e invadiu muitos dos mais elegantes salões da
Europa e dos Estados Unidos. Os banheiros também preservam ares do início do
século passado, mas com outro estilo. São sóbrios e elegantes, com suas
pastilhas em branco e preto.
Gostei do cheiro do hotel, que é muito organizado e limpo. Por
duas vezes cruzei com uma senhorinha negra, bem idosa e encurvada, limpando o
banheiro, com imenso capricho e paciência. Não esquecerei do perfume sempre
presente no banheiro e nos quartos, florido, mas suave, agradável e em total
harmonia com o ambiente, como se também ele pertencesse a um tempo passado. O
único elemento a destoar da forte impressão de ordem e limpeza é o tapete do
elevador, demasiado esgarçado e cheio de manchas.
O The Jane guarda
uma curiosidade histórica. Abrigou os sobreviventes do Titanic, enquanto se concluíam as investigações preliminares. E uma
cerimônia fúnebre foi realizada no seu salão alguns dias após o naufrágio.
Na entrada do hotel, à esquerda, há um restaurante que
parece bastante concorrido. Chama-se Gitane.
Tomei café da manhã nesse restaurante, onde as referências ao Oriente são ainda
mais marcadas na decoração. Nota-se que é um restaurante frequentado pelos
locais. Pelas noites, no final de semana, realizam-se festas no salão do The Jane. Sábado à noite, voltando da
ópera, bem tarde, tomei um susto com a quantidade de gente na porta, fazendo
fila para entrar na festa. Achei bem curioso.
Um dia, resolvi descer de escada, em lugar de tomar o
elevador, e acabei saindo dentro do salão de festas. Um enorme salão, decorado
com alguma suntuosidade e inteiramente com motivos orientais. Me senti num
romance qualquer do século XIX, ou princípios do XX. Fiquei surpresa e
intrigada. Procurei me informar. Parece que as festas aí realizadas são
privadas. Não seria mal observar uma delas. Quem sabe numa próxima vez? Quando
voltar a Nova Iorque gostaria muito de ficar novamente no The Jane.
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