quinta-feira, 16 de abril de 2015

O Moma e a 5ª Avenida






Para quem tem qualquer grau de apreço pela Arte Moderna, o Moma é um endereço obrigatório. Fui com a intenção de passar duas horas, e acabei passando quase três, apenas no 5º andar, onde fica a coleção de obras do final do XIX até os anos 40 do século XX. É bem verdade que esse é o meu período favorito no que se refere às artes plásticas, e a depender dos interesses e preferências do visitante, a visita pode ser mais ou menos curta. No total, passei quatro horas no museu, incluindo o 4º andar, onde se encontra a coleção pós-Segunda Guerra e o jardim interno, onde há algumas poucas esculturas – dentre as quais uma cabra de Picasso me pareceu a peça mais interessante.
O 5º andar do Moma tem vários obras importantes – e belas – dos grandes nomes da pintura Moderna, como Picasso, Matisse, Van Gogh, Klint... é uma visita emocionante, desde que seja feita sem pressa. Aliás, aproveitei essa visita ao Moma para exercitar uma das posturas que pretendo amadurecer e incorporar: estabelecer prioridades e ordenar o tempo de acordo com elas. Não apenas quando se está viajando e visitando uma cidade cheia de coisas interessantes para fazer, mas principalmente no cotidiano atribulado, quantas vezes me deixo levar pela ilusão de que darei conta de fazer uma lista enorme de coisas num único dia. Incapaz de olhar para minha lista de tarefas, ou de interesses, e escolher aquilo que é efetivamente importante para mim, vou tentando fazer tudo. O resultado é, invariavelmente: frustração ou esgotamento (madrugadas insones, trabalhando, quando deveria estar dormindo).
Sei disso, mas como é difícil mudar um hábito, uma postura! Na véspera da minha visita ao Moma, havia tomado mais uma lição da vida (que é implacável). Achando que dava pra visitar o Harlem, atravessar o Central Park e chegar às 15h na Broadway, meti os pés pelas mãos, e por muito pouco não perco minha peça, cujo ingresso custou mais de 300 reais (são muito caros os ingressos para esses espetáculos). Na verdade, perdi os primeiros 10 minutos de peça, mas achei que seria muito pior. Para meu alívio, descobri que se pode entrar nos teatros da Broadway mesmo depois do espetáculo começado, ainda que você fique de pé, no fundo, esperando uma ocasião propícia para ser conduzido ao seu assento.
O fato é que o episódio me serviu como mais um puxão de orelha. Preciso lutar, com todas as forças, contra a tentação de acreditar que posso fazer tudo e mais alguma coisa num único dia. Foi assim que, ao chegar no Moma, escolhi começar pelo que mais me interessa nas artes plásticas, e fui diretamente ao 5º andar. Meu plano era seguir dali para o Guggenheim. Com meia hora de Moma, fiz uma reflexão e decidi esquecer o Guggenheim. Melhor usufruir intensamente daquelas obras incríveis, que estavam ali, à minha disposição, do que não aproveitar bem, nem a coleção do Moma, nem a do Guggenheim. Voltarei a Nova Iorque uma outra vez, e então visitarei o Guggenheim. E se isso não for possível, paciência. Tomada essa sensata decisão, aproveitei cada minuto passado no Moma. Também decidi concentrar-me no 5º andar, já que não sou grande apreciadora da Arte Contemporânea. Acabei passando rapidamente pela coleção do 4º andar. Mas o importante é que pude fruir, com calma, atenção e emoção, cada um dos incríveis quadros dos meus pintores preferidos.


O Moma fica pertinho da 5ª Av. Como tinha tempo antes da ópera, fui caminhar um pouco por esse elegante trecho de Manhattan. A 5ª. Av. é o endereço imperdível de quem vai a Nova Iorque interessado em compras. Não é  o meu caso. Pra mim, o que vale a pena na 5ª Av. é a catedral de Saint Patrick, realmente bela e imponente, além das várias outras igrejas e templos que se espalham ao longo dessa via. Gosto da sensação de estranhamento que a presença desses lugares sagrados, entre prédios enormes e lojas chiquérrimas, me causa. Há várias igrejas ou templos ao longo da 5ª Av., justo nos trechos mais movimentados, onde o vai-e-vem de turistas e de nova-iorquinos, com seus elegantes sobretudos, é intenso. Já na lateral do Central Park, numa área mais residencial e mais tranquila, há uma bela sinagoga, em estilo românico. Acho que se chama templo de El-Manuel. Na fachada, uma estrela de Davi bem no meio de uma grande rosácea. Mas ao contrário do que se passa com a catedral de Saint Patrick, a Sinagoga parece perfeitamente harmônica em meio aos edifícios elegantes e claros do East Central Park.

Dicas de viagem:
Mesmo para quem não aprecia tanto a Arte Moderna, registro que vale a visita ao Moma para ao menos conhecer quadros emblemáticos, como as Démoiselles d´Avignon, de Picasso, Dance, de Matisse, ou Noite Estrelada, de Van Gogh. O museu disponibiliza um aparelho de áudio gratuito, com comentários sobre os principais quadros da coleção. Nas plaquinhas ao lado dos quadros comentados há um símbolo indicando a existência do comentário em áudio e o número do arquivo. É só digitar esse número e escutar a gravação. Aprendi muitas coisas interessantes com esse dispositivo.

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