terça-feira, 14 de abril de 2015

Andando com Fé, eu vou: Dia 5

10/4/15

Duas lições, óbvias, mas nem por isso menos importantes. A primeira é que é realmente uma tolice ter ideias prontas e acabadas sobre as coisas, inclusive sobre os lugares. Eu achava que, na melhor das perspectivas, Miami se resumia a South Beach, e essa é apenas uma pontinha das coisas interessantes que a cidade tem para oferecer. Miami, para mim, era sinônimo de consumismo, esbanjamento, alienação e cafonice. Eu já tinha me surpreendido, em janeiro, com o charme de South Beach, cuja arquitetura art nouveau me deixou encantada. Coconut Grove e Little Havana me seduziram ainda mais.
A segunda lição dessa etapa é que viajar sem expectativas e sem planos estabelecidos pode mesmo ser profundamente gratificante. A visita a Miami foi muito boa! Minha intenção era apenas rever antigos e queridos amigos, e acabei conhecendo lugares insuspeitadamente interessantes. Me sinto profundamente agradecida a Carlos e Chrissy. Me despeço deles e do pequeno Santi já com um gostinho de saudade.
Chamo um Ubber e vou para o aeroporto. O motorista, Ricardo, é venezuelano. Vive há 14 anos em Miami. Queixa-se da situação em que se encontra seu país. Lamento não ter nada de muito animador para dizer-lhe.
Embarco para Nova Iorque sem qualquer programação feita. A única coisa que tenho definida é o hotel onde me hospedarei, em Greenwich Village. O resto será surpresa.
Um dia quase inteiro de viagem. Chego em Nova Iorque por volta das nove da noite. Pego um shuttle, meio de transporte com a melhor relação custo-benefício de deslocamento de qualquer aeroporto americano, quando se tem malas. Cruzamos Manhatan, e quando passamos por Times Square, somos impactados pelos luminosos enormes e em profusão, tão característicos da Big Apple. A imagem é efetivamente impressionante. Muita luz e muita cor juntos, concentrados em alguns metros quadrados. Impossível o sujeito ficar indiferente. Há uma intensa vibração naquele pedacinho de Manhatan, difícil de definir, mas é uma vibração distinta, uma energia frenética, quase palpável.
Um senhor canadense, sentado ao meu lado, que vinha dormindo até então, desperta de sua letargia e começa a conversar. Sua esposa está sentada à frente, ao lado do motorista. Quando este buzina porque alguns carros pararam à sua frente, ela lhe pergunta qual a utilidade de buzinar. Pergunta retórica, obviamente. A intenção é repreendê-lo pelo gesto que lhe parece conseguir pouco além de aumentar o caos da rua. A resposta do motorista da van tem conotação universal: Controlar a pressão arterial. Seguro o riso com dificuldade.
O casal de canadenses tem bastante idade e é engraçado observar sua dinâmica. Ela, paciente e diligente, ele, meio ranzinza. Vão tecendo comentários que sugerem certo nível de estranhamento frente à realidade nova-iorquina. O senhor começa a me contar como descobriu a pobreza, em Nova Iorque, aos 23 anos! Foi a primeira vez que viu um pedinte, e quase não pôde acreditar que havia gente, no mundo, cuja casa era a rua. Me fez um interessante relato sobre como, até vir a Nova Iorque pela primeira vez, ele acreditava que todas as pessoas tinham um trabalho e moravam em suas casas, ainda que fossem simples, em bairros operários, e que todas as crianças frequentavam escolas... Ele espantado com a pobreza em Nova Iorque, e eu com o fato de que um jovem ocidental de vinte anos, mesmo que seis décadas atrás, pudesse ter tal visão estreita e desinformada do mundo.
Finalmente chego ao meu hotel. Sou a última passageira, e a única que não desceu no burburinho da Manhatan central. Fico impressionada com o tamanho minúsculo do quarto. Pelo menos o hotel e a vizinhança parecem bem animados. Pessoas se aglomeram na porta do hotel. Parece haver uma festa em curso. Compro comida num mercadinho da esquina e me recolho, exausta. Como diz Verônica, essas viagens longuíssimas de avião, às vezes, parecem tão primitivas...

Dicas de viagem:
Comida: A lanchonete Five Guys (aeroporto de Washington) serve um bom hambúrguer, com carne fresca e pão bem macio.

Transporte: Para quem tem conexão de internet, o Uber é, na realidade, a melhor opção de deslocamento. Essa rede de motoristas particulares funciona por meio de um aplicativo excelente. O preço da corrida é incrivelmente barato, e o pagamento é efetuado por meio do próprio aplicativo. A pessoa não pega em dinheiro, e não é preciso dar gorjetas.

2 comentários:

  1. Val, bom saber que passou pela primeira etapa da viagem, chegando ao segundo destino, NY. Tenho acompanhado seu relato com grande interesse. Parabéns pela capacidade de resumir em poucas linhas passagens e sensações percebidas em suas andanças. Interessante a história do senhor canadense comentando que foi em Nova Iorque, uma das sedes do capitalismo mundial e conhecida por sua riqueza, onde ele se deparou pela primeira vez com a pobreza. Quando pensamos que os EUA estavam em seu auge na década de 60, pós-guerra, vem este senhor nos mostrar que alguns países (o Canadá em questão) pareciam estar em condições melhores. Beijos e siga nos mantendo informados. Felipe

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  2. Pois é, Fil. A realidade é sempre mais complexa do que a gente pensa. Felizmente! Saudades. Bj grande

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