10/4/15
Duas lições, óbvias, mas nem por isso menos importantes. A
primeira é que é realmente uma tolice ter ideias prontas e acabadas sobre as
coisas, inclusive sobre os lugares. Eu achava que, na melhor das perspectivas,
Miami se resumia a South Beach, e
essa é apenas uma pontinha das coisas interessantes que a cidade tem para
oferecer. Miami, para mim, era sinônimo de consumismo, esbanjamento, alienação
e cafonice. Eu já tinha me surpreendido, em janeiro, com o charme de South Beach, cuja arquitetura art nouveau me deixou encantada. Coconut Grove e Little Havana me seduziram ainda mais.
A segunda lição dessa etapa é que viajar sem expectativas e
sem planos estabelecidos pode mesmo ser profundamente gratificante. A visita a
Miami foi muito boa! Minha intenção era apenas rever antigos e queridos amigos,
e acabei conhecendo lugares insuspeitadamente interessantes. Me sinto
profundamente agradecida a Carlos e Chrissy. Me despeço deles e do pequeno
Santi já com um gostinho de saudade.
Chamo um Ubber e
vou para o aeroporto. O motorista, Ricardo, é venezuelano. Vive há 14 anos em
Miami. Queixa-se da situação em que se encontra seu país. Lamento não ter nada
de muito animador para dizer-lhe.
Embarco para Nova Iorque sem qualquer programação feita. A
única coisa que tenho definida é o hotel onde me hospedarei, em Greenwich Village. O resto será
surpresa.
Um dia quase inteiro de viagem. Chego em Nova Iorque por
volta das nove da noite. Pego um shuttle,
meio de transporte com a melhor relação custo-benefício de deslocamento de
qualquer aeroporto americano, quando se tem malas. Cruzamos Manhatan, e quando passamos por Times Square, somos impactados pelos
luminosos enormes e em profusão, tão característicos da Big Apple. A imagem é efetivamente impressionante. Muita luz e
muita cor juntos, concentrados em alguns metros quadrados. Impossível o sujeito
ficar indiferente. Há uma intensa vibração naquele pedacinho de Manhatan, difícil de definir, mas é uma
vibração distinta, uma energia frenética, quase palpável.
Um senhor canadense, sentado ao meu lado, que vinha dormindo
até então, desperta de sua letargia e começa a conversar. Sua esposa está
sentada à frente, ao lado do motorista. Quando este buzina porque alguns carros
pararam à sua frente, ela lhe pergunta qual a utilidade de buzinar. Pergunta
retórica, obviamente. A intenção é repreendê-lo pelo gesto que lhe parece conseguir
pouco além de aumentar o caos da rua. A resposta do motorista da van tem
conotação universal: Controlar a pressão
arterial. Seguro o riso com dificuldade.
O casal de canadenses tem bastante idade e é engraçado
observar sua dinâmica. Ela, paciente e diligente, ele, meio ranzinza. Vão
tecendo comentários que sugerem certo nível de estranhamento frente à realidade
nova-iorquina. O senhor começa a me contar como descobriu a pobreza, em Nova
Iorque, aos 23 anos! Foi a primeira vez que viu um pedinte, e quase não pôde
acreditar que havia gente, no mundo, cuja casa era a rua. Me fez um
interessante relato sobre como, até vir a Nova Iorque pela primeira vez, ele
acreditava que todas as pessoas tinham um trabalho e moravam em suas casas,
ainda que fossem simples, em bairros operários, e que todas as crianças
frequentavam escolas... Ele espantado com a pobreza em Nova Iorque, e eu com o
fato de que um jovem ocidental de vinte anos, mesmo que seis décadas atrás,
pudesse ter tal visão estreita e desinformada do mundo.
Finalmente chego ao meu hotel. Sou a última passageira, e a
única que não desceu no burburinho da Manhatan
central. Fico impressionada com o tamanho minúsculo do quarto. Pelo menos o
hotel e a vizinhança parecem bem animados. Pessoas se aglomeram na porta do hotel.
Parece haver uma festa em curso. Compro comida num mercadinho da esquina e me
recolho, exausta. Como diz Verônica, essas viagens longuíssimas de avião, às
vezes, parecem tão primitivas...
Dicas de viagem:
Comida: A
lanchonete Five Guys (aeroporto de
Washington) serve um bom hambúrguer, com carne fresca e pão bem macio.
Transporte: Para
quem tem conexão de internet, o Uber
é, na realidade, a melhor opção de deslocamento. Essa rede de motoristas
particulares funciona por meio de um aplicativo excelente. O preço da corrida é
incrivelmente barato, e o pagamento é efetuado por meio do próprio aplicativo.
A pessoa não pega em dinheiro, e não é preciso dar gorjetas.
Val, bom saber que passou pela primeira etapa da viagem, chegando ao segundo destino, NY. Tenho acompanhado seu relato com grande interesse. Parabéns pela capacidade de resumir em poucas linhas passagens e sensações percebidas em suas andanças. Interessante a história do senhor canadense comentando que foi em Nova Iorque, uma das sedes do capitalismo mundial e conhecida por sua riqueza, onde ele se deparou pela primeira vez com a pobreza. Quando pensamos que os EUA estavam em seu auge na década de 60, pós-guerra, vem este senhor nos mostrar que alguns países (o Canadá em questão) pareciam estar em condições melhores. Beijos e siga nos mantendo informados. Felipe
ResponderExcluirPois é, Fil. A realidade é sempre mais complexa do que a gente pensa. Felizmente! Saudades. Bj grande
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