quarta-feira, 22 de abril de 2015

Dia 12: Novas experiências

17/4/15

Durmo muito e acordo surpreendentemente tarde.
A casa onde estou é efetivamente uma verdadeira bagunça. Lembro daqueles programas de TV que mamãe assiste, sobre casas super bagunçadas, que são magicamente transformadas pelas equipes de produção dos programas. Meu primeiro e forte impulso é me oferecer para limpar e arrumar tudo. Mas, me controlo. Sei que tenho de desapegar também da minha mania de ordem e limpeza. Será um desafio me sentir bem nesse ambiente, do jeito que ele é. Ao menos consigo controlar meu impulso inicial.
EU, L. e D. começamos a transportar as plantas que foram cultivadas nos últimos dois anos para a frente da casa. É sexta-feira, e no domingo acontecerá o Earth Festival. Trata-se de um importante acontecimento para D. Meu trabalho hoje consistirá basicamente na limpeza e transporte dos potes e sacos de plantas para a frente da casa.
D. é uma senhora de sessenta e poucos anos. Gordinha, baixinha e muito falante. Sem que eu pergunte nada, me conta que seu filho se matou. Toda essa história me sensibiliza profundamente. Seu marido, C., nos deixa. Volta para o seu refúgio. Me dou conta de como D. é uma pessoa solitária. Sua relação com o marido parece distante e fria. Talvez por isso ela procure ter sempre gente de fora na casa. Há dois anos ela aderiu a uma plataforma chamada WOOFERS, e também ao Workaway. Com esses voluntários, ela leva à frente o projeto de cultivar plantas para vender e levantar fundos, que servem para financiar uma cooperativa de famílias pobres num país centroamericano. Também faz tortas para vender, com a mesma finalidade.
Após uma tarde de trabalho, L. me ensina a atirar. Ele tem 28 anos, é magro e baixo. Acabou de deixar as Forças Armadas, nas quais serviu por três anos. Atiramos com uma espingarda de chumbo, apenas por diversão. Sempre tive curiosidade e gosto da experiência, apesar da minha péssima mira. Só consigo acertar o alvo de muito perto. L. é um bom professor. Paciente. Me diz que a mira é uma questão de prática, além de concentração e respiração.
À noite, após o jantar, eu e L. saímos para passear. Ele me propõe irmos a Nova Orleans. Apesar da viagem de hora e meia, eu topo. Caminhamos à toa pelo French Quarter. A famosa Bourbon St. está apinhada de gente. Evoca um certo ambiente de carnaval, mas sem a música na rua. Muitos jovens parecem estar ali apenas para se embreagar. Andam em grupos, com frequência. A rua é repleta de bares, um bar ao lado do outro, cada um com sua música particular. Por uma feliz coincidência, entramos num pátio onde um quarteto de músicos toca jazz. Assim que chegamos ao pátio e nos sentamos para tomar um drink, o vocal começa a cantar Unforgetable. Lindo! Fico emocionada. Me lembro especialmente de mamãe. Após algumas músicas, voltamos a caminhar pela Bourbon St. e adjacências. Brincamos de alternar coordenadas a cada esquina, de modo a nos desorientarmos um pouco, andando sem muito destino. A brincadeira proposta por L. é interessante.
Apesar da pouca iluminação das ruas (exceção da Bourbon St.), aprecio a arquitetura histórica. Encantadora! Casas de dois andares, com os dois pés direitos altos, se sucedem. Têm belas varandas, adornadas com estruturas de metal trabalhado. Lindos abalcoados, onde os visitantes ficam bebendo. A temperatura é bastante agradável.
Ao longo da Bourbon St. também há várias casas de striptease. Entramos em uma. Eis algo que sempre me despertou curiosidade. Não ficamos nessa primeira, que parece meio decadente. Tentamos uma segunda casa de strip-tease. Essa, sim, é interessante. Um lugar arrumado, com vários casais sentados nas mesinhas ao redor do placo central, onde uma bela negra faz movimentos super sensuais. A mulher é o que se chamaria no Brasil de mulherão. Grande, carnuda, voluptuosa. Veste uma calcinha mínima e sapatos plataforma brilhosos, de salto enorme. Dança e brinca com casais. Sua habilidade no Pole Dance é impressionante. Clientes jogam notas de dólares no palco, e alguns engancham as notas na calcinha da dançarina, homens e mulheres. Garçonetes desfilam de calcinha e sutiã. Ao final da apresentação, a dançarina recolhe seus dólares num balde, enquanto outra dançarina entra e cena e começa seu número.
Saímos dali e continuamos caminhando pelo French Quartes. Numa casa, rapazes com toda pinta de homossexuais fazem uma festa particular. É bem tarde e resolvemos voltar para casa. No caminho de volta ao carro, passamos por uma locação de filme. Vários caminhões, cheios de apetrechos estão estacionados nas proximidades de um antigo e belo sobrado. Já havia visto esses caminhões na estação central. O senhor que me ajudou com a bagagem na minha chegada de trem, me disse que estão rodando um filme na cidade. Aliás, foi mais um sulista extremamente amável comigo.
A viagem de volta para Baton Rouge me parece interminável, porque estou muito cansada. É difícil me manter acordada, e dou graças a Deus quando finalmente chegamos e eu me encontro com minha cama.

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