quarta-feira, 22 de abril de 2015

Dia 11: Chegando à Lousiana

16/4/15

Boa e necessária noite de sono. O Nola Jazz House é um albergue super charmoso, localizado numa vizinhança simpática, na parte superior da Canal St. Uma casa antiga, mas reformada, em madeira branca, com varanda, de arquitetura típica da cidade. Ambiente agradável e descolado, com belos grafites, tendo o Jazz como motivo. Oferece café da manhã, com massa para panquecas ou waffles, além de café ou chá. O refeitório é coletivo, e, obviamente, movimentado. Converso rápida e superficialmente com uma jovem americana, um rapaz francês e uma moça alemã.
Quando volto para o meu quarto, após o café, uma surpresa desagradável. Um aviso no meu computador, supostamente da Microsoft, avisando que eu posso ter sido vítimo de roubo de identidade. O aviso pede que eu entre em contato com um número de telefone. Faço isso, e uma voz de homem indiano começa a me explicar os perigos a que estou exposta. Meu computador teria sido infectado por um Trojan, vírus perigoso, que pode ter infectado outros aparelhos que mantenho conectados à internet. O homem fala com tranquilidade e segurança, e eu, estupidamente, lhe dou crédito. Lhe franqueio acesso remoto ao meu computador. Ele vai me mostrando as vulnerabilidades da minha máquina. Ao final de uma ,onga demonstração, me sugere uma empresa que resolve esses problemas on-line. Custo: 200 dólares. Pergunto sobre algum endereço físico próximo, credenciado ou recomendado pela Microsoft. Ele tenta me convencer que eu teria de pagar 500 dólares num serviço off-line. Quer transferir minha ligação para a empresa on-line. Eu insisto num serviço off-line. Após alguns minutos, ele me dá um endereço em Ohio. Agradeço e desligo o telefone. Localizo uma assistência técnica próxima ao albergue e caminho uns quatro quarteirões até lá. Aproveito para conhecer a vizinhança. Uma graça, por sinal, com suas casinhas de madeira avarandadas. Na assistência técnica, o rapaz que me atende é de uma solicitude surpreendente. Ele precisaria ficar com o computador por uns dois dias, para fazer uma verificação completa e remover qualquer tipo de ameaça por ventura existente. Explico que não posso deixar o computador porque tenho que seguir para Baton Rouge. Ele, então, baixa um programa, faz uma verificação básica, me explica que tentaram me aplicar um golpe e que talvez meu computador não tenha nada. Localiza uma assistência técnica em Baton Rouge e liga para lá. Sim, eles poderiam cuidar do problema pra mim. Passo cerca de uma hora e meia nessa loja. Ao final, ele não me cobra nada. Fico impressionada com sua amabilidade e generosidade, e ele me diz que faz parte da hospitalidade sulista, e que eles realmente levam isso a sério.
Saio da loja mais tranquila e passo numa farmácia. No caixa, pergunto por alguma lavanderia perto. Preciso lavar roupa. A caixa não sabe informar, mas duas senhoras que estão na fila, me indicam um endereço próximo. Uma delas pega um papel e desenha pra mim. Caminho até a lavanderia. A senhora que toma conta da lavanderia também é um amor comigo. Me dá todas as orientações, opera as máquinas pra mim, troca meu dinheiro. Ficamos conversando, e ela me conta que seu filho mudou para Nova Orleans após o Kathrina, para trabalhar na reconstrução. Me explica que muitos centroamericanos chegaram à cidade nesse período, para trabalhar na construção civil. Já se passaram 10 anos desde essa tempestade que devastou Nova Orleans! Incrível como o tempo passa sem que a gente se dê conta direito.
Resolvidas essas questões práticas, regresso à pousada, pego minha bagagem e chamo um Uber para me levar à estação central, de onde partem trens e ônibus. A estação de Nova Orleans é bem mais bonita que a de Nova Iorque, além de mais organizada. Há belos painéis por toda parte, retratando a história de Lousiana. Poucas pessoas ocupam os muitos bancos do hall central. O faxineiro da estação se aproxima e começa a conversar comigo. Veio de Honduras e mora há mais de 20 anos na cidade. Gentilmente me ajuda a carregar minha mala até o ônibus, quando chamam pelo embarque pelo sistema de auto-falantes da estação.
O ônibus me parece bastante velho. Sento ao lado de um senhor negro. Também ele super gentil. Conversamos ao longo da viagem. Uma tempestade nos pega pelo caminho, mas trafegamos por uma bela highway, portanto, fazemos a viagem sem maiores sobressaltos. Ao chegarmos na estação de Baton Rouge, o senhor desce comigo, me empresta seu telefone para que eu possa chamar D. e avisar que cheguei. O telefone não atende. Um ligeiro sobressalto me toma. Já é noite e a estação tem pouco movimento. Pergunto por um táxi a um funcionário da estação. Um taxista se materializa na mina frente. Providência divina. Me despeço do me companheiro de viagem, profundamente impressionada com a amabilidade dos sulistas. É um trato efetivamente distinto de qualquer outro lugar dos Estados Unidos onde eu tenha estado. Essa amabilidade é muito reconfortante, sem dúvida.
O táxi me leva ao subúrbio de Baton Rouge. Uma viagem de uns 20 minutos, relativamente cara. D. e seu marido, C., me esperam para o jantar. C., um legítimo cajun guy, preparou um lombo de porco com molho de cogumelos, absolutamente delicioso. Gosto do jeito de Charlie. É um homem da terra, telúrico mesmo, eu poderia apostar. Vive em outra casa que eles têm, no interior, nos pântanos. Seus ancestrais vieram do Canadá e se estabeleceram em Lousiana há quase trezentos anos.
Descubro que o casal perdeu um filho de 21 anos. À primeira vista D. é uma figura muito interessante. Recebe estrangeiros em casa desde seus 26 anos, já foi responsável por um programa de intercâmbio de jovens. Me conta que sempre tem pessoas de fora em casa. Conheço L,, jovem de origem vietnamita, bastante reservado, na realidade, um tanto estranho. D. me mostra meu quarto. À parte a bagunça da casa, creio que ficarei bem instalada. Após ajudar com a louça do jantar, me recolho ainda bastante cansada da viagem de trem.

Dicas de viagem:
Para quem decidir viajar de trem, convém levar apoio para a cabeça e cobertor. Nada disso é oferecido pela companhia (Amtrak). Não cheguei a sentir frio na viagem, porque tinha meu casado à mão e uma pashmina, mas a temperatura dentro do trem era fria pra mim.

É bom sempre pedir a estimativa de preço quando se chamar um Uber. Não fiz isso em Nova Orleans e acabei pagando bem mais caro na corrida para a estação do que havia pago pelo táxi comum que fez o mesmo trajeto entre o albergue e a estação de trem/ônibus.

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