16/4/15
Boa e necessária noite de sono. O Nola Jazz House é um albergue super charmoso, localizado numa
vizinhança simpática, na parte superior da Canal
St. Uma casa antiga, mas reformada, em madeira branca, com varanda, de
arquitetura típica da cidade. Ambiente agradável e descolado, com belos grafites,
tendo o Jazz como motivo. Oferece café da manhã, com massa para panquecas ou
waffles, além de café ou chá. O refeitório é coletivo, e, obviamente,
movimentado. Converso rápida e superficialmente com uma jovem americana, um
rapaz francês e uma moça alemã.
Quando volto para o meu quarto, após o café, uma surpresa
desagradável. Um aviso no meu computador, supostamente da Microsoft, avisando
que eu posso ter sido vítimo de roubo de identidade. O aviso pede que eu entre
em contato com um número de telefone. Faço isso, e uma voz de homem indiano
começa a me explicar os perigos a que estou exposta. Meu computador teria sido
infectado por um Trojan, vírus perigoso, que pode ter infectado outros
aparelhos que mantenho conectados à internet. O homem fala com tranquilidade e
segurança, e eu, estupidamente, lhe dou crédito. Lhe franqueio acesso remoto ao
meu computador. Ele vai me mostrando as vulnerabilidades da minha máquina. Ao
final de uma ,onga demonstração, me sugere uma empresa que resolve esses
problemas on-line. Custo: 200 dólares. Pergunto sobre algum endereço físico
próximo, credenciado ou recomendado pela Microsoft. Ele tenta me convencer que
eu teria de pagar 500 dólares num serviço off-line. Quer transferir minha
ligação para a empresa on-line. Eu insisto num serviço off-line. Após alguns
minutos, ele me dá um endereço em Ohio. Agradeço e desligo o telefone. Localizo
uma assistência técnica próxima ao albergue e caminho uns quatro quarteirões
até lá. Aproveito para conhecer a vizinhança. Uma graça, por sinal, com suas
casinhas de madeira avarandadas. Na assistência técnica, o rapaz que me atende
é de uma solicitude surpreendente. Ele precisaria ficar com o computador por
uns dois dias, para fazer uma verificação completa e remover qualquer tipo de
ameaça por ventura existente. Explico que não posso deixar o computador porque
tenho que seguir para Baton Rouge. Ele, então, baixa um programa, faz uma
verificação básica, me explica que tentaram me aplicar um golpe e que talvez
meu computador não tenha nada. Localiza uma assistência técnica em Baton Rouge
e liga para lá. Sim, eles poderiam cuidar do problema pra mim. Passo cerca de
uma hora e meia nessa loja. Ao final, ele não me cobra nada. Fico impressionada
com sua amabilidade e generosidade, e ele me diz que faz parte da hospitalidade
sulista, e que eles realmente levam isso a sério.
Saio da loja mais tranquila e passo numa farmácia. No caixa,
pergunto por alguma lavanderia perto. Preciso lavar roupa. A caixa não sabe
informar, mas duas senhoras que estão na fila, me indicam um endereço próximo.
Uma delas pega um papel e desenha pra mim. Caminho até a lavanderia. A senhora
que toma conta da lavanderia também é um amor comigo. Me dá todas as
orientações, opera as máquinas pra mim, troca meu dinheiro. Ficamos
conversando, e ela me conta que seu filho mudou para Nova Orleans após o
Kathrina, para trabalhar na reconstrução. Me explica que muitos centroamericanos
chegaram à cidade nesse período, para trabalhar na construção civil. Já se
passaram 10 anos desde essa tempestade que devastou Nova Orleans! Incrível como
o tempo passa sem que a gente se dê conta direito.
Resolvidas essas questões práticas, regresso à pousada, pego
minha bagagem e chamo um Uber para me levar à estação central, de onde partem
trens e ônibus. A estação de Nova Orleans é bem mais bonita que a de Nova
Iorque, além de mais organizada. Há belos painéis por toda parte, retratando a
história de Lousiana. Poucas pessoas ocupam os muitos bancos do hall central. O
faxineiro da estação se aproxima e começa a conversar comigo. Veio de Honduras
e mora há mais de 20 anos na cidade. Gentilmente me ajuda a carregar minha mala
até o ônibus, quando chamam pelo embarque pelo sistema de auto-falantes da
estação.
O ônibus me parece bastante velho. Sento ao lado de um
senhor negro. Também ele super gentil. Conversamos ao longo da viagem. Uma
tempestade nos pega pelo caminho, mas trafegamos por uma bela highway,
portanto, fazemos a viagem sem maiores sobressaltos. Ao chegarmos na estação de
Baton Rouge, o senhor desce comigo, me empresta seu telefone para que eu possa
chamar D. e avisar que cheguei. O telefone não atende. Um ligeiro sobressalto
me toma. Já é noite e a estação tem pouco movimento. Pergunto por um táxi a um
funcionário da estação. Um taxista se materializa na mina frente. Providência divina.
Me despeço do me companheiro de viagem, profundamente impressionada com a
amabilidade dos sulistas. É um trato efetivamente distinto de qualquer outro
lugar dos Estados Unidos onde eu tenha estado. Essa amabilidade é muito
reconfortante, sem dúvida.
O táxi me leva ao subúrbio de Baton Rouge. Uma viagem de uns
20 minutos, relativamente cara. D. e seu marido, C., me esperam para o jantar.
C., um legítimo cajun guy, preparou um lombo de porco com molho de cogumelos,
absolutamente delicioso. Gosto do jeito de Charlie. É um homem da terra,
telúrico mesmo, eu poderia apostar. Vive em outra casa que eles têm, no
interior, nos pântanos. Seus ancestrais vieram do Canadá e se estabeleceram em
Lousiana há quase trezentos anos.
Descubro que o casal perdeu um filho de 21 anos. À primeira
vista D. é uma figura muito interessante. Recebe estrangeiros em casa desde seus
26 anos, já foi responsável por um programa de intercâmbio de jovens. Me conta
que sempre tem pessoas de fora em casa. Conheço L,, jovem de origem vietnamita,
bastante reservado, na realidade, um tanto estranho. D. me mostra meu quarto. À
parte a bagunça da casa, creio que ficarei bem instalada. Após ajudar com a
louça do jantar, me recolho ainda bastante cansada da viagem de trem.
Dicas de viagem:
Para quem decidir viajar de trem, convém levar apoio para a cabeça
e cobertor. Nada disso é oferecido pela companhia (Amtrak). Não cheguei a
sentir frio na viagem, porque tinha meu casado à mão e uma pashmina, mas a temperatura dentro do trem era fria pra mim.
É bom sempre pedir a estimativa de preço quando se chamar um
Uber. Não fiz isso em Nova Orleans e
acabei pagando bem mais caro na corrida para a estação do que havia pago pelo
táxi comum que fez o mesmo trajeto entre o albergue e a estação de trem/ônibus.
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